Sinpro Campinas e Região: Educador fala sobre a importância da inclusão em sala de aula
Em entrevista para o Sinpro Campinas e região, o educador, escritor, jornalista e psicólogo, Emílio Figueira, fala sobre a educação inclusiva no Brasil, dá dicas de livros e cursos para os professores e ainda discorre sobre a importância da preparação dos docentes para lidar com a pluralidade de alunos nas escolas. Os professores que querem saber mais sobre o assunto também podem acessar o site Educação Inclusiva em Foco, que traz novidades sobre o tema.
O que é educação inclusiva?
Gosto de explicar da seguinte forma. Durante séculos pessoas com deficiência foram excluídas condas do convívio social. Nos anos 1970 e 1980 nós pessoas com deficiência colocamos a cara na rua para lutar por nossos direitos e espaço na sociedade. Surgiria o conceito de Integração Social, onde entidades e instituições preparavam essas pessoas para serem integradas entre as pessoas sem deficiência aparentes, principalmente no mercado de trabalho.
Nos anos 1990 surgiria o conceito de Inclusão Social. Essa é uma história que não cabe aqui. Mas o fato é a Inclusão foi uma grande revolução que abriu as portas de muitas casas de pessoas com deficiência, lançando-as pelas ruas rumo às infinitas possibilidades, atingindo campos e posições até então imagináveis a nossa classe.
Essa revolução continua em plena ebulição e ninguém mais se arrisca em duvidar ou limitar pessoas com qualquer tipo de deficiência.
Você acredita que o Brasil tem avançado na inclusão qualificada dos alunos com algum tipo de deficiência?
No ano de 1994, surgiu a “Declaração de Salamanca – Princípios, Políticas e Práticas em Educação Especial”, proclamada na Conferência Mundial de Educação Especial sobre Necessidades Educacionais Especiais. Esse documento reafirmou o compromisso para com a “Educação para Todos”, reconhecendo a necessidade de providenciar educação para pessoas com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Por este motivo, cada vez mais vemos crianças e pessoas com deficiência em nossas escolas, nos espaços de lazeres e em todos os lugares da vida diária. Devemos estar preparados para essa convivência, aceitando as diferenças e a individualidade de cada pessoa, uma vez que o conceito de inclusão mantém este lema: Todas as pessoas têm o mesmo valor.
Pelo o que já vivi nessas últimas cinco décadas, eu fico muito bravo quando alguém vem com o velho discurso pessimista que nada mudou. Claro, ainda temos muito que aprender e avançar em termos de Educação Inclusiva. Mas essa é uma construção que está nas mãos de todos nós.
Qual o papel da família no processo educativo?
Sem sombra de dúvidas a família é um dos pontos mais fundamentais nesse processo inclusivo. Pais, mães e parentes conhecem a criança como ninguém a criança e precisam estar em constante sintonia com a escola, professores em uma parceria entre ambos. Digo isso com conhecimento de causa. Pela minha história pessoal, o engajamento de toda a minha família desde os meus primeiros meses de vida, fizeram toda a diferencia para em chegar onde estou hoje. E diga-se de passagem, em meu site há um e-book gratuito com o tema “Conversando Sobre Educação Inclusiva Com A Família”.
Como favorecer ambientes de aprendizagem na prática inclusiva?
Esse é um ponto que tenho abordado muito em meus escritos e palestras. Ainda há muito da cultura paternalista de esperar que tudo venha de cima, já pronto tanto no sentido de leis como de investimentos e recursos, e com a Educação Inclusiva não tem diferente. Noto nesse comportamento e discursos de várias pessoas e professores é que falar em Inclusão Escolar ainda se esbarra em questões culturais e/ou até mesmo um comodismo para não sair da zona de conforto. É comum que os professores digam que não estão preparados para receberem alunos com deficiência. Não há uma maldade nisto, mas sim certo estado de ansiedade e em muitos, mesmo que seja de forma inconsciente, um mecanismo de defesa contra algo desconhecido.
Infelizmente para o a maioria dos professores, assim como para grande parte da população, ainda há àqueles velhos conceitos e culturais referentes às pessoas com deficiência, tais como associadas ao estado de doença, que não se desenvolveram ou aprendem como as demais. Mas ora, o desenvolvimento e a aprendizagem humana é individual e ninguém tem um modelo a seguir. De fato, nenhum professor estará preparado para trabalhar com a Inclusão Escolar até momento que chegue à sua turma um aluno a ser incluído. Uma situação que ele nunca vivenciou – o que muitas vezes exige conhecimento de experiências anteriores. Será neste momento que veremos realmente quem é o educador de verdade. O acomodado alegará não estar preparado – pois rejeitar um aluno com essa alegação será muito mais fácil e rápido se livrar da questão. Mas o verdadeiro professor, consciente de seu compromisso e desafio ético de educar a todos que pertencerem ao seu alunado, primeiro o receberá, o que já será o início da inclusão pela afetividade. Ela se constrói pela convivência. E o professor disposto a isto, recebe o aluno em fase de inclusão com o mesmo carinho que recebe os demais. E depois buscará formas de trabalhar com ele.
Um dos principais questionamentos dos professores e professoras ao Sindicato é de que muitas vezes não há nenhuma iniciativa da escola em preparar o profissional para receber alunos com deficiência, tão pouco um plano pedagógico e estrutura física que contemplem às necessidades dos estudantes. Como proceder nesses casos?
A afetividade também significa sair da zona de conforto em busca de querer aprender cada vez mais dentro de sua profissão. O professor, educador, pedagogo, enfim, deve ser um eterno estudioso. Ler muito, buscar cursos de formação ou aperfeiçoamento. E isso é algo que nós psicólogos precisamos reforçar em nosso trabalho dentro de uma Equipe Escolar. Assim como qualquer outro profissional, antigamente se fazia quatro aos de uma faculdade e, em cima desses quatro anos, construía-se toda uma carreira até se aposentar. Mas hoje, com um mundo tão dinâmico e em constantes transformações, precisamos estar sempre descobrindo e aprendendo mais. E com a Educação Inclusiva não teve ser diferente. Este é o principal conceito que quero precisamos destacar aos docentes: O professor precisa criar e manter o hábito de pesquisar!
Detalhando, quero reforçar o dito acima. Quando um professor receber alunos inclusivos, primeiro o acolha em sua sala e comece a conviver com eles, criando laços, descobrindo um ao outro, professor e aluno, o que já será uma pesquisa de campo. Paralelamente, vá ler sobre as deficiências e reais necessidades de cada aluno inclusivo, procurar orientações de práticas pedagógicas para se trabalhar com eles e toda a turma.
Possibilidades são muitas. E as informações nunca estiveram tão disponíveis como antes. E de graça. Além das publicações que devem ter na biblioteca de sua escola, basta o professor entrar no Google e achará muito material seguro, no Youtube há milhares de vídeos sobre Educação Inclusiva, práticas pedagógicas inclusivas, casos específicos, por exemplo.
Sobre não mais transferir a missão que é do professor para o Governo ou aos dirigentes da escola, defendo que o processo de inclusão escolar só terá sucesso se for realizada de baixo para cima. Das bases e com o envolvimento de todos, sendo que um dos caminhos mais certos para a Educação Inclusiva é a afetividade. Importante o professor se despir de seus preconceitos e abrir os braços e receber alunos a serem incluídos. Conhecimento elimina a ansiedade, trazendo segurança. E professor seguro ama o que faz alimentado por gestos de afetividade, atingindo resultados imagináveis!
Fale um pouco sobre a oportunidade de cursos na área da educação inclusiva.
Confirmando o que eu disse acima, hoje as possibilidades são muitas. Eu mesmo criei um treinamento online para que os professores entenderem de maneira clara o que é Educação Inclusiva e como trabalhar com esses alunos, chamado Conversando Sobre Educação Inclusiva. É um projeto totalmente gratuito, onde eu sozinho desenvolvi o conteúdo, o site, a sequência de e-mails que vai liberando aula a aula em uma linguagem simples e de fácil assimilação, além de dicas de materiais e fontes de estudos totalmente gratuitos.
Faço esse trabalho como se fosse um sacerdócio, não ganho nada em termos de remuneração financeira. A minha maior felicidade e recompensa é saber que já ajudei a formar mais de 20 mil professores no Brasil e exterior, sendo grande parte da região norte e nordeste.
E minha maior alegria e saber que essa minha missão realizada de maneira solitária daqui da minha mesa no meu quarto, na outra ponta está ajudando tantos e tantos alunos inclusivos, conforme os mais de dois mil comentários e relatos que eu já recebi e estão lá na página do curso.