Sinpro Minas: Retorno nada fácil
Reportagem de Jefferson Machado
Após dois anos com isolamento social, lockdown e trabalho remoto, 2022 foi um ano de retomada para os professores, que tiveram que voltar às salas de aulas. Mas essa volta não foi tão simples, como poderia imaginar. Muitos tiveram a saúde abalada e precisaram se afastar. Um problema que acomete profissionais, tanto da rede pública, quanto da rede particular.
A diretora do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro/MG), Valéria Morato, diz que a saúde mental dos professores e professoras foi agravada com a pandemia de Covid-19 e que eles são a classe de trabalhadores das que mais sofrem de burnout, e muito esgotamento físico e mental.
“Essas doenças têm sido as principais causas de afastamento de professores. Isso foi muito agravado pelo assédio moral, pelo qual os professores e professoras são submetidos diariamente”, afirma.
De acordo com Valéria, a pandemia da covid-19 foi um dos grandes desafios enfrentados por esses profissionais, que tiveram que se adequar às novas metodologias da noite para o dia, com receio de perder o emprego ou de ser contaminado, e ter que fazer dívidas para aquisição de material para trabalho remoto.
“Muitos, muitos professores nos ligavam chorando, pedindo socorro. Fizemos várias lives culturais para que os professores pudessem ter momentos de lazer e descontração. Mas a alta utilização dos meios eletrônicos para trabalhos remotos também prejudicava a participação dos professores. Outros tantos professores que tinham tempo para se aposentarem, entraram com pedido de afastamento por não suportarem a pressão do momento”, explica.
Para Valéria, a falta de valorização e reconhecimento é o que mais adoece os professores e professoras. E isso se dá, inclusive no seu fazer. “A onda de perseguição aos professores, estimulada pelo governo inclusive, tem deixado os professores no limite do medo de exercerem a profissão, para a qual foram formados e que estudam diariamente. São esses os fatores que levam os professores e professoras ao adoecimento e até mesmo a abandonar a carreira”, destaca.
Secretaria
Dados da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), solicitados pelo materia1.com.br, mostram que de janeiro a agosto de 2022, foram registrados afastamentos, por questões de saúde, de 12.767 servidores da Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) em exercício da docência.
Segundo a SEE/MG, as causas de afastamento do trabalho por licença para tratamento de saúde são diversas, mas as motivações não são lançadas no sistema de administração de pessoal, devido a questões legais.
Depoimento
O depoimento a seguir é de uma professora que leciona na rede particular e pediu para não ser identificada.
“Esses anos foram muito dolorosos… Não foi fácil saber de tantas mortes. Ver e ler as notícias. A saída não era deixar de assistir e ler. A pandemia não desapareceria com isso. Eu perdi um tio muito amado por Covid-19. Não o vimos. Caixão fechado. Não deu tempo dele tomar a vacina… Só quem perdeu alguém sabe.
Os meus pais têm comorbidades, moro com eles. Um deles passou por tratamento hospitalar (câncer) bem no meio da pandemia. Tive muito medo de morrer (eu acompanhava no hospital) ou de perdê-los.
Trabalhei 14h… 16h… até 18h por dia. Lecionava, elaborava, respondia, participava de reuniões, formações. Nenhuma ajuda de custo. Nada. Era proibido reclamar, pois tinha emprego. As mensalidades foram reajustadas. Nosso salário? Nem perto do que os pais pagam.
O que eu lia nas redes sociais era que professores eram folgados, não queriam trabalhar, etc. Isso dói. Tomamos a 1ª dose e já voltamos pra sala de aula.
Este ano só escuto e leio que devemos entender que os estudantes passaram por uma pandemia. Correto. E nós? Nenhum alívio, ajuda, compreensão…
Eu vi, li e ouvi o egoísmo e falta de amor ao próximo. Tudo isso me levou a um diagnóstico de ansiedade severa, medicamentos controlados, sobrepeso. Até feridas se abriram em minha pele literalmente. Estresse. Muito decepcionada com boa parcela da sociedade.”