Sinpro/RS: A infância exposta à mídia e à violência no Brasil

Indicadores sobre a infância revelam realidade de manipulação, abandono e violências cotidianas contra crianças em seminário realizado pela Feevale

Ao invés de proteção e acolhimento, desigualdade, abandono, fome, violências, opressão. Essa é a realidade da maioria das crianças brasileiras que vivem nos grandes centros urbanos e nas periferias.

São meninos e meninas expostos desde a primeira infância a todos os tipos de violências, a começar pela manipulação midiática que condiciona a infância ao consumo indiscriminado, às consequências da desestruturação familiar, da exclusão escolar, da falta de moradia e saneamento básico. E violência física.

Todos os dias, 233 crianças são agredidas e 31 são assassinadas, ou seja, o país assiste impassível a um homicídio infantil a cada 46 minutos. A situação de pobreza é uma realidade para 61% das crianças e duas a cada dez vivem em casas precárias, sem esgoto ou água potável.

As relações entre infância, mídia e violências foram tema da sexta edição do Seminário Criança na Mídia, realizado nos dias 18 e 19 de outubro de forma presencial, no Salão de Atos do Prédio Lilás da Universidade Feevale, com transmissão ao vivo pelo canal da instituição no Youtube.

O seminário é realizado a cada dois anos, no mês das crianças, pela Feevale, por iniciativa do Grupo Criança na Mídia – Núcleo de Estudos em Comunicação, Educação e Cultura.

Com o tema Infâncias, Mídia e Violências no Século 21, a programação teve painéis de especialistas, apresentações de resumos de trabalhos científicos e relatos de experiência em quatro Grupos de Trabalho e uma exposição itinerante que pode ser acessada mediante solicitação.

Nesta edição foram aceitos 71 trabalhos de 11 estados, além de Portugal e Estados Unidos.

São 51 pesquisas científicas e 20 relatos de experiência de 27 instituições de ensino superior e oito escolas de educação básica. Paralelamente, ocorreu o I Seminário Recria, evento itinerante da Rede de Pesquisa em Comunicação, Infâncias e Adolescência (Recria), formada por pesquisadores do Brasil e do exterior que discutem as relações de crianças e adolescentes com a mídia.

Infância perdida

“Falar nas infâncias é uma temática delicada, para a qual dedicamos sua ação com respeito e zelo, sobretudo, para com as crianças que cada um e cada uma já foi, no ímpeto por buscar a esta condição um lugar social de visibilidade, respeito e direitos humanos assegurados”, afirma a doutora em Educação, Saraí Schmidt, coordenadora do Grupo Criança na MídiaNúcleo de Estudos em Comunicação, Educação e Cultura da universidade Feevale.

Na abertura do seminário, a pesquisadora da Ufrgs, Gládis Kaercher, pontuou que “a mídia ensina, educa, produz formas de ser e estar no mundo e isso atravessa as infâncias”.

Doutora em Educação, coordenadora do Uniafro e integrante da Coordenadoria do Uniafro, a palestrante tocou em temáticas sensíveis, conectando racismo, adultocentrismo, classe, “entre outros marcadores sociais da diferença que tornam a vivência das infâncias plurais, complexas e desiguais”.

Durante os painéis, os indicadores sobre a condição das crianças ofereceram uma dimensão das condições impostas à infância pobre no país, com a conivência dos meios de comunicação e do Estado – um contingente que não é alcançado pelas políticas públicas para a infância que restaram.

Trabalho escravo, racismo e fome

A condição racial é fator determinante nos índices de insegurança alimentar, a exemplo das crianças indígenas: mais de 30% são afetadas por desnutrição crônica no Brasil, de acordo com dados do próprio governo federal.

Nos últimos cinco anos, 7 milhões de meninas e meninos com dois ou mais anos abandonam a escola para trabalhar. O trabalho infantil rouba a infância de 2,7 milhões de crianças, dentre as quais 412 mil têm entre 5 e 13 anos. A cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil e apenas sete em cada cem casos são denunciados, de acordo com dados de 2020 do Instituto Liberta.

Crianças invisíveis

“Existe uma desfragmentação no jornalismo que não contribui para que o público compreenda o cenário da violência contra crianças, isso porque muitas reportagens trazem fotos em que há crianças em situações de guerra, ou situação de rua, por exemplo, mas que no conteúdo textual não fala sobre crianças”, aponta a doutora em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Centro Universitário da Cidade de União da Vitória (Uniuv), Ângela Farah.

No encerramento, a mesa de debates Mídia, Infâncias e Violências, que reuniu professores, equipes diretivas e agentes de segurança pública e recomendou: “pensar sobre a infância é pensar em rede, afinal, as crianças são, de fato, uma responsabilidade coletiva. Seja rede de proteção às infâncias ou de formação intelectual e social dessas crianças”.

Karina Barbosa, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) discorreu sobre o controle e disciplina exercidos pela sociedade de consumo sobre a infância. “De um lado, temos corpos que são controlados e publicamente disciplinados com vestimentas e raça e de outro, meninas que são reconhecidas como cidadãos de direitos e recebem proteção”, apontou.

Do jornal Extra Classe, do Sinpro/RS

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