Sinpro/RS: Luto e solidariedade marcam atos do 1º de maio em Porto Alegre
Mobilização das centrais sindicais por empregos, vacinas, auxílio emergencial e contra privatizações teve distribuição de 55 toneladas de alimentos pelo MST
Os mais de 400 mil mortos por covid-19 no Brasil, atribuídos ao negacionismo, aos obstáculos à importação de vacinas e falta de planejamento por parte do governo federal no combate à pandemia foram lembrados na manhã deste sábado, Dia do Trabalhador, em todas as manifestações de lideranças durante ao Ato Estadual Unificado promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Força, UGT, CTB, CSB, NCST, CGTB, Intersindical e Pública, sindicatos de trabalhadores, e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST-RS), no centro de Porto Alegre. O país atingiu neste sábado, 1º de maio, 14,7 mil casos e 404,3 mil óbitos por covid-19.
“É um dia de luto. De prestar solidariedade às famílias de tantos trabalhadores mortos por consequência da política genocida estabelecida pelo governo federal. A solidariedade faz parte da nossa resistência. Não podemos mais conviver com tantos trabalhadores sem empregos. Por isso, esse ato é simbólico, para reafirmar a nossa unidade para resgatar a justiça social e construir um país de direitos”, propôs Amarildo Cenci, presidente estadual da CUT-RS.
O MST distribuiu 55 toneladas de gêneros da reforma agrária a famílias fragilizadas pela pandemia em Porto Alegre, Pelotas e Cruz Alta.
“Vacina no braço, comida no prato”
“Vacina já, emprego e renda, não às privatizações e Fora Bolsonaro!”, concluiu Cenci, reafirmando a palavra de ordem que unificou o ato estadual das centrais com a ação de distribuição de alimentos pelo MST: “Vacina no braço e comida no prato”.
Centralizada no Largo da Prefeitura da capital a partir das 10h, com a realização de ato ecumênico, exibição de faixas e cartazes que resumiam as principais bandeiras dos movimentos sociais, a mobilização começou mais cedo.
A partir das 4h, seis caminhões saíram dos assentamentos do MST na região metropolitana, levando mais de 40 toneladas de alimentos orgânicos produzidos pela reforma agrária para distribuição em bairros da periferia de Porto Alegre.
Os produtos doados originam-se de diversos assentamentos e cooperativas gaúchas e foram destinados a moradores de periferias da capital e de Pelotas e Cruz Alta. Aos dois municípios do interior foram destinadas 15 toneladas de alimentos. A ação contra a fome integra o movimento nacional Jornada de Lutas e Solidariedade com a Classe Trabalhadora.
Doação de alimentos da reforma agrária
Após a primeira doação do dia no Largo Glênio Peres, os caminhões do MST seguiram para o Morro da Cruz, Lomba do Pinheiro, Grande Cruzeiro, Alvorada, Farrapos e Ceasa, onde houve distribuição de hortaliças, pães, grãos e carnes para as famílias cadastradas pelas entidades locais.
No centro, também foram distribuídas marmitas para a população em situação de rua.
Um sistema de recolhimento de alimentos doados de dentro dos carros por moradores da capital também foi organizado pelos sem-terra para reforçar as cestas básicas a serem entregues às famílias atingidas pela pandemia.
“A crise é deles, do capitalismo, mas quem paga a conta são os trabalhadores”, resumiu Cedenir de Oliveira, da direção estadual do MST, citando os mais de 14 milhões de desempregados no país.
Comida a quem tem fome
“Milhões de trabalhadores voltaram a passar fome no país, por isso estamos trazendo um pouco do que temos em solidariedade que é a marca histórica do MST. Nós não esquecemos que quando estávamos na beira das estradas, debaixo da lona preta, vocês, trabalhadores da cidade nos estenderam a mão”, relatou o dirigente.
Cedenir conclamou os movimentos sociais a “transformar a fome em rebeldia para derrotar esse governo genocida”.
Ele lembrou que somente neste ano o MST já doou mais de 310 toneladas de alimentos para populações fragilizadas pela pandemia no estado.
Em 2020, foram 4 mil toneladas e 700 mil marmitas distribuídas em todo o país.
“O agronegócio, que ganha dinheiro com a crise, já distribuiu quanto de alimentos para o povo? Nada, porque eles não produzem alimentos”, contrapôs.
O acordo que abriu caminho às privatizações no RS
Ao reivindicar acesso à vacina para toda a população, auxílio emergencial de R$ 600,00, geração de empregos e repudiar as privatizações, os manifestantes denunciaram os governos por ceder à pressão de empresários contra o isolamento social que poderia ter evitado tantas mortes e infectados por covid-19.
Não faltaram manifestações de repúdio ao prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB) e ao governador Eduardo Leite (PSDB). Em troca do apoio para a privatização de estatais gaúchas, o governo do estado cedeu à pressão do empresariado pela retomada do ensino presencial, denunciaram algumas lideranças.
“O governo estadual provocou uma insegurança em toda a sociedade gaúcha ao impor a retomada do ensino presencial em troca da extinção do plebiscito para a privatização do patrimônio público”, apontou Helenir Aguiar Schürer, presidente do Cpers-Sindicato.
“Esse governo quer jogar as professoras e professores e as crianças dentro das salas de aulas, que nesse momento grave da pandemia são um espaço de contaminação por covid-19”, alertou a dirigente, lembrando que a reabertura de escolas na pandemia já provocou a morte de mais de 2 mil crianças no país.
Daiana Santos, vereadora do PCdoB da capital lembrou que os trabalhadores da saúde e da Carris, empresa pública de transportes que está na mira das privatizações, estão trabalhando sem terem sido vacinados. A parlamentar convocou os movimentos sociais para atos públicos na capital contra as privatizações, como o abraço simbólico realizado à tarde à sede da empresa.
A deputada federal Fernanda Melchiona (PSol-RS) criticou a “negociata barata” feita na Assembleia Legislativa que abriu caminho para a privatização do Banrisul, Procergs e Corsan.
“Temos esse personagem do governo Leite que fala manso, que não briga por nada e em nome da economia quer entregar o nosso patrimônio para a iniciativa privada. O governo da modernidade que repete Antônio Brito”, comparou o deputado estadual Adão Pretto (PT).
Unidade dos movimentos
O Ato Unitário em defesa e o respeito à vida, o pagamento de auxílio emergencial de R$ 600,00 até o fim da pandemia, a vacinação de toda população, e “fora Bolsonaro”, entre outras pautas, mobilizou as centrais e os movimentos populares em todo o país em uma live.
“A união das centrais em torno de um só objetivo é o que os trabalhadores mais precisam neste momento em que Bolsonaro pratica esse genocídio contra a população brasileira. Ao contrário do que sempre fez o presidente, que nunca foi um líder capaz de agregar forças para combater a pandemia e salvar vidas, o movimento sindical se une para defender os trabalhadores”, afirma o vice-presidente da CUT nacional, Vagner Freitas.