Sinpro/RS: O que está por trás do ódio propagado por Valadão e outros pastores bolsonaristas

Pastores ligados a Bolsonaro apostam em manter viva a polarização para garantir a sobrevivência da extrema-direita

Muito além de um discurso dito religioso, a pregação recente de André Valadão, líder da Igreja Lagoinha Global, que incitou seus fiéis a uma cruzada de morte contra a comunidade LGBTQIA+ tem um objetivo muito claro: manter acessa a chama da polarização. Quem diz isso não são analistas políticos, nem sociólogos. São exatamente duas lideranças evangélicas ouvidas pelo Extra Classe, os pastores evangélicos Hermes Carvalho Fernandes da Comunidade Reina, do Engenho Novo, Rio de Janeiro (RJ), e Fillipe Gibran, da Comuna do Reino, Belo Horizonte (MG).

“Eles sabem que com o Bolsonaro inelegível existe uma possibilidade muito grande da extrema-direita ir para o ostracismo e o que puderem fazer para evitar, criando situações como estas, vão fazer. Tanto ele (Valadão), quanto o Nikolas Ferreira (deputado federal pelo PL de Minas Gerais) e o Silas Malafaia vão fazer de tudo para manter a polarização. Essas falas grotescas só servem para isso. Eles já estão pensando nas próximas eleições”, afirma Fernandes que além de teólogo é escritor com formação em psicologia e Doutor em Ciências da Religião.

“Eles estão nessa lógica da disputa da extrema-direita. Semana passada veio um falando em dar um soco na mandíbula do Lula; agora esse aí falando contra a homo afetividade. É uma disputa mesmo do público”, complementa Gibran que formado em Direito, Filosofia e Teologia.

O dito pelo Bolsonarista no púlpito de uma filial de sua igreja nos Estados Unidos, a Lagoinha Orlando Church, mostra que as intenções, além das questões puramente geográficas, ultrapassam as fronteiras do Brasil.

Narrativa cruzada de Valadão

O que está por trás do ódio propagado por Valadão e outros pastores bolsonaristas
Reprodução/Twitter

Não é à toa que Valadão usou em seu Twitter para anunciar a temática de suas pregações no mês, a censura, as imagens de Donald Trump de um lado e Adolf Hitler do outro.

Uma narrativa cruzada, entende Gibran. Para o pastor, a analogia tem o objetivo de personificar no ex-presidente americano, que é copiado às minúcias por Bolsonaro e seus seguidores o conceito de liberdade enquanto no líder nazista, responsável pelo holocausto judeu, a da censura.

“Essa é uma retórica antiga, a do revisionismo histórico acerca do nazismo, que teve mais força aqui no momento pré-campanha e no início do governo Bolsonaro, muito influenciado pelo Olavo de Carvalho e que, na pessoa do ex-chanceler Ernesto Araújo era mais vocal”, explica ao frisar que, para esses, o nazismo seria um movimento de esquerda.

Para Gibran, o mais pesado na fala de Valadão é que ele usa um discurso teológico de aniquilação, de extermínio.

“Quando ele fala aquele negócio do Arco-íris – ‘que Deus nos deu o Arco-íris e não pode mais matar’ – a ideia no sentido mitológico aí, no Gênesis, é de total extermínio de um grupo. Vai além da violência, vai além da morte, pois teologicamente é essa ‘vocação’ que ele está apontando quando diz ‘está com vocês’. Não é sobre a morte, matar, é sobre fazer uma limpeza de toda a comunidade LGBTQIA+”, analisa.

Transportando essa narrativa para a cabeça do evangélico médio, observa Gibran, é a ideia de que Deus exterminou a humanidade com o dilúvio por conta do pecado. “Se nós não nos levantarmos contra o pecado, somos nós que seremos eliminados. A ira de Deus vem contra nós. O discurso é de nós contra eles; o discurso que está aí historicamente e que justificou as atrocidades do cristianismo”, assevera.

Pânico Moral

Na opinião dos pastores ouvidos pelo Extra Classe, a extrema-direita se traveste de moralista cristã para aumentar a sua área de influência.

Se para Fernandes, pessoas como Valadão e Malafaia são como ele próprio denunciou em recente pregação “mensageiros de Satanás” por propagarem o ódio contra gays, lésbicas, bissexuais, trans e outros grupos, já na visão de Gibran há questionamentos maiores do ponto de vista espiritual.

“Para mim não tem mais isto não. É só dinheiro, Império. O discurso religioso é só a roupa que precisam para fazer a grana deles, para manipular o mundo. Eu não acredito mais que esses caras pensam na lógica da espiritualidade”, crava.

Gibran ainda conjectura que “todo mundo descobriu que o Brasil é cada vez mais um país evangélico e que o pânico moral movimenta muito mais o nosso Legislativo do que qualquer outra coisa”. Trata-se de algo que começa a se tornar mais evidente para o pastor, desde que até o terceiro setor passou a investir mais em grupos de evangélicos democráticos.

“Tem organizações como a do George Soros (Open Society) que está investindo em grupos evangélicos na disputa da democracia pois percebeu que democracia brasileira vai ter que passar por esse campo”, conclui.

MPF instaurou inquérito para apurar crime de homofobia
Ainda na segunda-feira, 3, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou procedimento para apurar possível prática de homofobia praticada pelo líder religioso André Valadão durante transmissão de um culto de sua igreja pelo YouTube.

O procurador regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) no Acre Lucas Costa Almeida Dias, é o responsável pelo procedimento.

Segundo vídeos apresentados em matérias jornalísticas, o investigado usou expressões como: “Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais”, afirma o pastor. “Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora tá com vocês”.

Após a apuração dos fatos, o MPF encaminhará as medidas cabíveis para o caso.

Do jornal Extra Classe, do Sinpro/RS

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