Sinproep-DF: Dizem eles: “os danos econômicos serão maiores do que as mortes”
Por Trajano Jardim*
Essa frase tem sido o mantra da elite ultraliberal repetida ardorosamente, nesse momento da disseminação da epidemia da Covid-19 que assola o Brasil e o mundo. As economias baseadas na política do estado mínimo, que perdura desde a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de se contrapor ao avanço socialista no Leste Europeu, se desintegram rapidamente.
No Brasil, na era da pós-verdade, (termo usado em 1992, por Steve Tesich) que se deu com o desenvolvimento tecnológico e da informação instantânea, após o período de industrialização iniciado no governo Vargas, passando pelo milagre brasileiro da ditadura de 64, até a década de 1980, o país teve crescimento industrial acima da média mundial.
A partir de 1990, com o advento do neoliberalismo, surgem empreendimentos desgarrados do desenvolvimento produtivo, voltados especificamente para área de serviços, que empregam trabalhadores de pequena e média qualificação, contratados pelo regime de terceirização, no sistema de trabalho intermitente ou precarizados, culminando com a implantação da carteira verde-amarela, do governo Bolsonaro, em que os direitos trabalhistas não são reconhecidos.
Esses empreendimentos baseiam-se, somente no capital imobilizado, sem a participação da força de “trabalho vivo” do qual falava Marx. Tornam-se, assim, capital inútil, rentista e especulativo, sem nada produzir, se apropriando da mais-valia dos assalariados, obtendo lucros da exploração dos trabalhadores, com acumulação de riquezas cada vez maiores, onde o dinheiro produz dinheiro.
Com crise da Covid-19, em que o isolamento social foi a solução encontrada pela ciência para conter a pandemia, a economia entrou em crise. Nesse momento, a parcela parasitária vendo seus lucros se volatizarem, se deu conta de que eram os trabalhadores o principal construtor das suas riquezas. Que sem eles de nada adianta o seu capital.
A partir daí, passaram a fazer coro com Bolsonaro na exortação homicida e irresponsável de “o Brasil não pode parar”, mesmo que com isso tenham que morrer milhões de pessoas. Segundo o presidente da República, “qual o problema, se todos vão morrer um dia”.
Na previsão primária do 1% da população que detém quase 30% da renda do Brasil, (conforme indica a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, coordenada, entre outros, pelo economista francês Thomas Piketty)constitui-se na maior concentração do tipo no mundo, em detrimento da maioria dos brasileiros e dentro das regras do sistema capitalista, pouco importa se vão morrer milhões, já que existe um exército de reserva de 12 milhões de desempregados disponibilizados, que poderão ocupar as vagas dos que não sobreviverem.
Essa parcela hipócrita da burguesia brasileira não admite que seus lucros sejam comprometidos. Assim o governo Bolsonaro estabeleceu o congelamento dos gastos primários (Teto de Gastos – EC 95/16), a Terceirização geral (2017), a Reforma Trabalhista, a Lei da “Liberdade Econômica” (2019), acabou com os ministérios da Previdência (2016) e do Trabalho (2019) e aprovou a Reforma da Previdência (EC 103/19), que decretou o fim do direito à aposentadoria para a maioria dos trabalhadores. Onde setor mais prejudicado foi dos professores.
Essas medidas foram elaboradas para atender aos empresários defensores do slogan o “Brasil não pode parar”, que buzinou em carreatas em apoio ao apelo irresponsável, do ainda presidente, Bolsonaro. Esse setor se aproveita da crise do coronavírus e do desastre da política econômica empreendida pelo ministro da economia Paulo Guedes, voltada exclusivamente para o capital monopolista, (em descenso mesmo antes da Covid-19 – PIB 1%), e busca transferir o ônus da crise, integralmente, para a classe trabalhadora brasileira.
Esperamos, que após a crise da Covid-19, os trabalhadores, formais e informais tomem consciência do papel poderoso que têm, como peça fundamental na vida econômica e produtiva do país. Como está demonstrado nesse momento de isolamento social, a máquina que produz as riquezas do país são os trabalhadores. Sem a sua participação, o capitalismo ficou despudoradamente nu.
Nessa paralisia do trabalho, a elite hipócrita grita desesperada pela ajuda do velho Estado, que em tempos de bonança ela esconjura e renega. E o governo, seu representante maior, abre os cofres e solta mais de 1 trilhão de reais para os bancos salvarem as grandes empresas. Enquanto para os trabalhadores regateia e promete míseros 600 reais, para que possam permanecerem vivos e continuarem produzindo.
*Jornalista e professor universitário