Sintrae-MT: Sindicato cita “liberdade cátedra” e processará escola por punir professora em Cuiabá
O Sindicato dos Trabalhadores dos Estabelecimentos de Ensino de Mato Grosso (Sintrae) diz que vai adotar medidas judiciais por causa da exposição da professora do Colégio Notre Dame de Lourdes, em Cuiabá, que foi suspensa pela direção da unidade após criticar o presidente Jair Bolsonaro durante uma aula online para o 3º ano do ensino fundamental. Afirmou ainda que a fala não foi tirada de contexto, sendo condizente com o que estava sendo debatido com os estudantes naquele momento.
“Existe a liberdade de cátedra. Os professores se posicionam dentro de diversos temas. O tema discutido pela professora, no qual causou essa confusão toda, era uma proposta de discutir a demarcação das terras indígenas, uma proposta da escola, que estava discutindo isso com os alunos. Os professores têm liberdade de dar sua opinião, de colocar as situações todas, que é uma liberdade de ensino. Agora, tem todas as suas responsabilidades também em relação a isso”, disse Nara Teixeira Souza, presidente do Sintrae.
O áudio da professora criticando o presidente foi gravado. “Ele é a favor do desmatamento. Ele é a favor que os garimpeiros façam destruição dentro das terras indígenas. Além da destruição da natureza, está prejudicando o povo indígena. Os garimpeiros e o presidente da república são a favor disso. Temos que começar a pensar o que queremos para o nosso Brasil”, disse a educadora durante a aula.
Dois dias após esse áudio ter vazado, um helicóptero da Polícia Militar sobrevoou a escola com a bandeira do Brasil aberta por um dos tripulantes e causou agitação entre os estudantes que estavam no pátio. A direção da escola diz que os fatos não têm relação entre si e que o sobrevoo já estaria programado como parte das comemorações da Semana da Pátria. O Centro Integrado de Operações Aéreas da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Ciopaer) divulgou o ofício feito pela escola solicitando a presença do helicóptero.
O pedido é de quarta-feira (1º), um dia depois do áudio da professora ter vazado, mas a coordenadora do projeto diz que a solicitação foi feita antes. “Já estava programado, já tem registro disso acontecendo antes. É uma escola apartidária, não tem relação nenhuma. Qual era o meu objetivo? Que as crianças conhecessem um pouquinho das pessoas que servem a pátria. Seja bombeiro, seja Polícia Militar, isso é um trabalho que já acontece nas escolas”, disse Marina Nogarol, coordenadora de Educação Infantil.
Apesar das explicações, o Ministério Público de Mato Grosso (MPE) instaurou um inquérito para investigar o sobrevoo. O objetivo é saber se a ação foi praticada com algum cunho político ou de intimidação. A diretora do colégio Notre Dame de Lourdes afirma que a escola não adota o debate político em sala de aula. “Nós temos 50 anos, sou ex-aluna, a escola jamais, jamais tem uma postura político-partidária”, disse irmã Marluce Almeida.
Em nota, a Sesp informou que, além do sobrevoo, membros do Ciopaer também estiveram na escola para uma palestra sobre o tema “Segurança Pública” a convite da direção da unidade. A secretaria afirma que não coaduna com posicionamentos políticos no âmbito do serviço público e que qualquer excesso cometido por servidores da pasta nesse sentido será motivo de medidas administrativas.