Surto de varíola dos macacos no Brasil merece atenção das autoridades sanitárias

A Organização Mundial da Saúde, por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), negocia a fabricação de imunizantes contra a varíola para serem distribuídos no continente americano

O Ministério da Saúde comunicou a primeira morte ligada à varíola dos macacos no Brasil. Na quinta-feira (28), a pasta confirmou um homem de 41 anos, que estava internado em um hospital de Belo Horizonte, como a primeira vítima fatal no País. Com baixa imunidade e comorbidades, incluindo o tratamento de linfoma, o paciente teve como causa de óbito um choque séptico agravado pela varíola dos macacos.

A primeira morte “merece uma atenção sobretudo das autoridades sanitárias e dos profissionais da saúde”, segundo Evaldo Stanislau de Araújo, médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. Na perspectiva da saúde pública, este caso emite um sinal de alerta para a contenção da contaminação pela varíola. “Nós precisamos disponibilizar a vacina a esses grupos mais vulneráveis para que a gente faça um bloqueio vacinal e também a contenção da disseminação”, recomenda o infectologista. A liderança do Ministério da Saúde no treinamento e na capacitação de funcionários na testagem, no trabalho de conscientização e na campanha de vacinação são os meios para não cometer os mesmos erros da covid-19, de acordo com ele.

O contágio se dá pelo contato com as lesões, por meio de superfícies, tecidos e relações sexuais, por exemplo. No estágio inicial, os sintomas podem incluir: mal-estar, dores no corpo, febre, aumento dos gânglios e vermelhidão na pele. Além disso, Araújo sinaliza preocupações com a contaminação de grupos específicos: “Qualquer pessoa que tenha uma vulnerabilidade na sua saúde fica mais disposta às formas graves da varíola”.

Emergência de saúde pública

No dia 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a enfermidade como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, sob risco de disseminação. Na última década, apenas zika, ebola e covid-19 foram declaradas com grau de atenção equivalente. A ação obriga agências sanitárias a aumentar medidas preventivas e incentiva o desenvolvimento de tratamentos e a produção de vacinas contra a enfermidade.

A varíola dos macacos é considerada uma endemia na África Central e Ocidental e tende a ser notificada nos demais continentes por pessoas que visitam esses países. Diagnosticada em um humano pela primeira vez em 1970, a negligência dos órgãos sanitários revela a desigualdade entre a região e os países desenvolvidos. Araújo reflete: “Como é que a varíola dos macacos está aí há tantas décadas no continente africano e só agora o mundo acorda para esse problema?”. Desde maio deste ano, os casos da doença nos países não endêmicos aumentaram a vigilância na transmissão rápida, como ocorre em viagens internacionais.

A Organização Mundial da Saúde, por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), negocia a fabricação de imunizantes contra a varíola para serem distribuídos no continente americano. Também com a assistência deste órgão, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que o País receberá o antiviral Tecovirimat para o enfrentamento do “surto”.

Jornal da USP

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