Taxar os ricos para financiar os R$ 600
Adilson Araújo, presidente da CTB
Depois de décadas aconselhando governos a impor aos pobres o ônus das crises fiscais e financeiras, o Fundo Monetário Internacional (FMI) dá sinais de que está mudando de filosofia. É bom lembrar que suas receitas anteriores, sintonizadas com os interesses da oligarquia financeira internacional mas amargas para as classes trabalhadoras e as nações do Terceiro Mundo, fracassaram.
Produziram estagnação, agravando o drama econômico e exacerbando as desigualdades sociais.
Agora, no relatório “Monitor Fiscal”, divulgado nesta quarta-feira (14/10), em Washington, a instituição reconhece que seria um contrassenso enfrentar a crise reduzindo gastos e investimentos públicos. Adverte contra a retirada prematura de auxílios governamentais a trabalhadores e empresas. Mais do que isto, recomenda a taxação dos ricos ou, nas palavras de seus economistas, a “progressividade de impostos sobre grupos mais afluentes e menos afetados”.
Como opções, o relatório aponta o aumento de impostos para faixas de renda mais altas, ganhos de capital, propriedades de luxo e fortunas. Desta vez podemos afirmar, com grata surpresa, que os argumentos do FMI vão ao encontro do pensamento e das teses da CTB, das centrais sindicais, dos movimentos sociais e das forças progressistas brasileiras, ideias que infelizmente não são devidamente debatidas nem bem acolhidas pela mídia hegemônica.
A desigualdade não é boa conselheira do desenvolvimento. Sabe-se hoje que a melhor distribuição da renda fortalece os mercados, aquece a demanda e estimula a produção. O relatório do fundo reflete esta compreensão.
O atual governo fez a opção pelos ricos e caminha na contramão do bom senso. Insiste na austeridade fiscal, rebaixou o valor do auxílio emergencial de R$ 600,00 para R$ 300,00 e está longe de cogitar uma reforma tributária progressiva, a taxação das grandes fortunas, o aumento do imposto sobre grandes fortunas, a taxação da remessa de lucros e dividendos das multinacionais.
Bolsonaro e Paulo Guedes teimam em trilhar um caminho que o próprio FMI renegou e que, pelo menos desde os anos 80 do século passado, só resultou em fiascos econômicos e tragédia social. É o rumo para o inferno, contra o qual lutamos.
O relatório “Monitor Fiscal” fornece uma boa munição para a luta pela preservação do auxílio de R$ 600,00, por medidas emergenciais contra o desemprego e por uma reforma tributária progressiva orientada para a redução das nossas escandalosas desigualdades sociais e o desenvolvimento nacional.
Se não tem dinheiro, o governo pode tirá-lo dos ricos, sobretudo daqueles que ficaram ainda mais ricos durante a pandemia. O mapa da mina foi revelado pelo FMI.