‘Temos que ter cuidado ao ouvir o mercado financeiro’, alerta professor

Em palestra de abertura na 4ª reunião da Direção Nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, evento que marca os 15 anos de fundação da CTB, o professor-doutor Marcelo Pereira Fernandes alertou para os anseios do mercado financeiro no próximo governo do presidente Lula.

Eleito presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ), o acadêmico se disse “surpreso” com a velocidade com que a chamada “Arca de Noé” já pediu sua fatia no bolo por apoiar a eleição do petista. “A direita democrática se uniu à esquerda para vencer a extrema direita. Gente como Armínio Fraga, que foi presidente do Banco Central no governo FHC, logo depois, assina a tal carta aberta de economistas. Uma carta terrorista sobre aquilo que o governo deveria fazer, criticando a PEC da Transição, porque iria romper com o teto dos gastos, gerar inflação e aumentar a dívida publica. É bom que se diga que o mercado financeiro não faz política econômica, não faz políticas públicas, nem combate desigualdade, fome e miséria. A gente tem que ter muito cuidado ao ouvir o mercado financeiro”, pontuou.

‘Nome de Haddad provocou arrepios no mercado financeiro’

Fernandes ainda citou a reação dos investidores à especulação do nome do ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para a pasta da Economia. “O nome de Haddad provocou arrepios no mercado financeiro. Mas que tipo de ministro o mercado financeiro quer? Ele quer um ministro da Fazenda que não tenha ideias, que apenas seja um interlocutor do mercado financeiro. Um novo Palocci, que em 2003 fazia apenas a ponte entre o mercado financeiro e o governo. O Haddad é de fato um intelectual que tem ideias para a economia. O mais engraçado é que em 2018 não houve qualquer debate sobre a política econômica do governo Bolsonaro e o mercado não falou nada. Isso porque o Paulo Guedes foi exatamente isso, um ministro sem ideias”, afirmou o professor.

‘Discurso Nauseante’

Conforme o economista, o discurso sobre o impacto do aumento de juros para conter a dívida do governo é “nauseante”. “O que esses economistas falam é que, se a relação dívida pública-PIB for superior a 60%, os investidores não vão mais financiar o governo e isso vai provocar uma série de consequências negativas. Se acontecer o dólar vai estourar, as bolsas vão cair. Dizem que vai voltar a inflação, que isso prejudica os mais pobres, porque não vai adiantar aumentar o Bolsa Família porque o dinheiro vai ser comido pela inflação. Resumindo a história, a relação dívida pública-PIB dos Estados Unidos e da França supera os 100% e no Japão chega a 270%. Em países desenvolvidos pode, mas não em países em desenvolvimento como o Brasil. Isso é uma falácia”, enfatizou Marcelo.

Pelo contrário, na avaliação do professor, a realidade do país não é tão ruim quanto prega o mercado financeiro. “O que mais impacta para o país é sua dívida externa e, nesse aspecto, o Brasil vai muito bem, obrigado. Há reservas internacionais de 340 bilhões de dólares. O que há é uma necessidade urgente de expandir os gastos públicos no país. Temos 33 milhões de pessoas passando fome, 100 milhões em insegurança alimentar e 24 milhões de pessoas desalentadas. E isso é bom para os empresários, porque vai aumentar as compras de quem? Do setor privado”, finalizou Marcelo Pereira Fernandes.

Da CTB

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