Trump será primeiro ex-presidente dos EUA a ser julgado criminalmente
Juiz nega pedido de arquivamento do caso, e republicano vai a julgamento, acusado de fazer pagamentos irregulares à atriz pornô Stormy Daniels durante campanha eleitoral de 2016
Em um revés para sua pré-campanha eleitoral, o ex-presidente Donald Trump teve negado nesta quinta-feira (15/02) em Nova York um pedido para que seu julgamento sobre supostos pagamentos irregulares à atriz pornô Stormy Daniels fosse adiado ou rejeitado.
O juiz Juan Merchan anunciou que o júri começará no dia 25 de março com a seleção dos jurados.
Trump é acusado de 34 crimes relacionados aos 130 mil dólares que pagou a Stormy Daniels durante a campanha presidencial de 2016 a fim de encobrir um caso que tiveram 10 anos antes, pagamento que foi ocultado com a cooperação de seu então advogado, Michael Cohen. É o primeiro processo criminal contra um ex-chefe de Estado na história do país.
Trump esteve presente no tribunal de Manhattan, na tentativa de, juntamente com seus advogados, persuadir o juiz a rejeitar as acusações. O principal argumento da defesa era que o julgamento interferiria na campanha eleitoral. O magnata é o principal nome nas primárias republicanas e, se o favoritismo se confirmar, deve concorrer à Casa Branca pelo partido.
Os advogados também tentaram desacreditar a principal testemunha do caso, justamente Michael Cohen, mas a acusação sustentou que haverá oportunidade de interrogá-lo como parte do julgamento, como é o habitual. O juiz rejeitou, ainda, os argumentos dos advogados de Trump de que havia demasiada cobertura mediática para que um júri pudesse ser imparcial.
“É uma interferência total nas eleições”, disse o advogado de defesa Todd Blanche.
Por sua vez, o juiz Merchan explicou que sua decisão ocorreu após uma consulta à juíza Tanya Chutkan, de Washington, responsável por julgar outro caso contra Trump, sobre suposta interferência eleitoral, para verificar possíveis conflitos de datas e coordenar os dois julgamentos.
No entanto, o julgamento em Washington, que estava originalmente agendado para começar em 4 de março, está suspenso enquanto é decidido o recurso apresentado pela equipe jurídica do ex-presidente para que o caso seja arquivado.
Trump ataca o juiz
Vestido com o seu tradicional terno azul e gravata vermelha, Trump falou com a imprensa antes de entrar na sala do tribunal e disse que Merchan “já sabe o que vai decidir” porque é “dirigido pelos democratas”.
“O que está acontecendo aqui é uma vergonha. Todo o nosso sistema é corrupto”, declarou.
Ao sair do tribunal, disse: “Eles querem me manter bem e ocupado para que eu não possa fazer campanha”.
Ao longo do ano passado, o ex-presidente atacou Merchan chamando-o de “juiz que odeia Trump”, pediu a renúncia dele do caso e tentou transferir o processo do tribunal estadual de Nova York para um tribunal federal – tudo sem sucesso.
Impacto nas pesquisas
Embora um veredito de culpa contra um ex-presidente, tal como o próprio julgamento, não o impeça legalmente de concorrer à Presidência, uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada esta semana mostra que uma condenação poderia minar o apoio a Trump entre os eleitores.
As pesquisas de opinião mostram que ele tem uma ampla vantagem sobre sua única adversária nas primárias, Nikki Haley, e estaria efetivamente empatado com o democrata Joe Biden caso fosse o candidato republicano.
No entanto, um em cada quatro republicanos e cerca de metade dos eleitores independentes indicaram que não votariam em Trump se ele fosse condenado em qualquer um dos quatro processos criminais nos quais é investigado.
E o ex-presidente enfrenta uma agenda complicada de julgamentos nos próximos dias: nesta sexta-feira, espera-se que outro tribunal de Nova York profira a sentença final em um processo civil contra a Organização Trump, o que poderia lhe custar, entre outras coisas, a proibição de operar no setor imobiliário no estado onde ele tem, por exemplo, sua famosa Trump Tower.
Em seguida, enfrentará acusações federais na Flórida por manipulação de documentos confidenciais após deixar o cargo de presidente, além de outro caso na Geórgia, devido a suas tentativas de reverter os resultados das eleições.