Um a cada cinco jovens no Brasil é ‘nem-nem’ e não estuda nem trabalha
Percentual aumenta entre mulheres e negros, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Educação 2022
Os “nem-nem”, pessoas que não estudam nem trabalham, são um em cada cinco jovens no Brasil. Um contingente de cerca de 9,8 milhões de pessoas de 15 a 29 anos estão nessa situação no país, o que representa 20% da população dessa faixa etária. Em Minas, o cenário é parecido e 17,5% dos jovens não estudam nem trabalham.
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (07/06) pelo Instituto Brasilero de Geografia e Estatística (IBGE) e fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Educação 2022. Ela também revelou que o fenômeno é mais comum na faixa etária de 18 a 24 anos, em que a taxa sobe para 24,4%.
Gênero e cor ou raça fazem diferença no recorte. Mais mulheres (25,8%) do que homens (14,3%) não estudam nem estão ocupadas. Entre jovens pretos ou pardos, o percentual ultrapassa a média geral e chega a 22,8%, caindo para 15,8% entre brancos. No caminho dos “nem nem” está, muitas vezes, a falta de oportunidade. “É um problema complexo e, como todo problema desse tipo, tem muitas causas. Começa pela questão social. São jovens que, muitas vezes, precisam trabalhar para ajudar em casa, mas não conseguem emprego. O Brasil não é um país que esteja caminhando para ampliar o mercado de trabalho. Ele vem de uma sucessão de crises e passa por um processo de desindustrialização. O setor de serviços, que é o que mais emprega, é um setor muito suscetível às crises, porque depende das pessoas terem dinheiro para consumir”, resume o coordenador da Associação Brasileira de Economistas Pela Democracia (Abed), o economista Paulo Bretas.
Com dados de 2021, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apurou que os “nem nem” são mais comuns nas faixas de menor renda no Brasil. No longo prazo, avaliam especialistas, a diferença de renda se perpetua. “Em algum momento, esses jovens entrarão no mercado de trabalho. Mas, aí, esbarraram em problemas, conseguir trabalhos informais, de baixo rendimento, e perpetuar essa situação. Me arrisco a dizer que ser jovem, hoje, é mais difícil, porque a economia brasileira e internacional tem mudado muito nos últimos dez, 15 anos, sendo o avanço da tecnologia o maior sintoma disso. Hoje é muito mais complexo conseguir uma melhor inserção no mercado de trabalho”, pondera o economista Cesar Andaku.
A pesquisa do IBGE revela, ainda, que o analfabetismo caiu 0,5% em quatro anos e atinge a menor taxa desde 2016. Por outro lado, é duas vezes maior entre pretos e pardos.