Vitória de Trump nos EUA pode reativar projeto golpista do bolsonarismo no Brasil
Eventual vitória de Trump pode favorecer anistia aos golpistas do 8 de janeiro e reativar laços com família Bolsonaro
Apesar da forte influência que os Estados Unidos ainda mantêm no cenário internacional, o efeito das eleições presidenciais entre a candidata democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump para o Brasil está mais relacionado à política interna. Analistas ouvidos pelo Brasil de Fatoapontam que a volta da extrema direita ao governo dos EUA favoreceria projetos golpistas, como o do bolsonarismo, hoje na mira do Supremo Tribunal Federal.
Eles dizem que uma eventual vitória de Donald Trump pode facilitar a anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que reproduziram em Brasília a tentativa de golpe do eleitorado de Trump com a invasão do Capitólio em Washington após a derrota do republicano para Joe Biden em 2020.
“Os desdobramentos nas eleições estadunidenses têm ressoado na política interna brasileira, tendo em vista as conexões entre a direita trumpista e a chamada extrema direita no Brasil”, avalia Layla Dawood, professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Para o professor de História Moderna da América Latina e de História e Cultura do Brasil na Brown University James Green, a vitória do candidato republicano reforça os laços que a família Bolsonaro e a extrema direita brasileira têm com o movimento trumpista nos EUA.
“Deve aumentar a pressão contra as medidas de punição dos insurrecionistas na Praça dos Três Poderes no 8 de janeiro e forjar alianças mais estreitas com o movimento evangélico religioso, a extrema direita e as forças do partido republicana controlada pelo Trump como o ipac é outras forças é no Brasil”.
Green recorda que o governo de Joe Biden barrou a iniciativa de Bolsonaro de desacreditar as eleições brasileiras em 2022, durante reunião com embaixadores – evento que posteriormente o tornaria inelegível. ”A administração Biden definitivamente foi essencial com um posicionamento claramente a favor da democracia brasileira e contra qualquer tentativa de questionar os resultados eleitorais e as urnas eletrônicas.”
Um elo importante entre Donald Trump e o bolsonarismo, Steve Bannon, ex-conselheiro do candidato republicano, foi libertado da prisão na manhã de terça-feira (29), depois de passar quase quatro meses detido. “Não estou quebrado, estou empoderado”, disse Bannon, de 70 anos, ao jornal The New York Times ao deixar a prisão federal em Connecticut.
Ele foi condenado por desafiar uma intimação para testemunhar ao painel do Congresso que investigava o ataque de apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio e liberado uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA. Trump concedeu um indulto geral para Bannon antes de deixar a presidência, o que provocou o abandono das acusações contra ele. Outros acusados por este caso foram declarados culpados.
Bannon desempenhou um papel importante na campanha de Trump em 2016, que o levou à presidência, e depois trabalhou na Casa Branca como estrategista-chefe, cargo que deixou após sete meses, supostamente devido a conflitos com outros funcionários. Embora ele não trabalhe mais oficialmente para o ex-presidente, continuou utilizando sua influência para que Trump retorne à Casa Branca, principalmente com seu podcast “The War Room”.
Relações Bilaterais
Uma eventual eleição de Kamala Harris, deve seguir essa linha de garantir a manutenção da democracia brasileira e repudiar novas tentativas golpistas por parte da família Bolsonaro, porém com uma “relação complexa e contraditória” entre Brasil e Estados Unidos em outras pautas, avalia Green.
“A administração de Kamala Harris vai seguir essa linha, porém ainda há divergências sobre várias questões geopolíticas entre os dois países, mas com mais diálogo e maior possibilidade de encontrar pontos em comum entre os dois países”, diz ele.
Layla Dawood aponta que o Brasil, assim como toda a região da América Latina, não tem aparecido como prioridade na política externa e de defesa dos Estados Unidos. Nesse sentido, ela avalia que a vitória da chapa republicana ou democrata não deve ter grandes repercussões para as relações bilaterais entre EUA e Brasil no curto prazo.
Por outro lado, Dawood aponta que a nova presidência dos EUA terá que lidar com grandes desafios globais como a escalada das tensões no Oriente Médio, a guerra na Ucrânia e a ascensão econômica e militar da China, diante dos quais, “o Brasil não está completamente alinhado com os interesses dos EUA”.
“A China é um importante parceiro comercial do Brasil; e a China e a Rússia são parceiros do Brasil no BRICS. Nos próximos anos, é preciso observar as pressões que serão realizadas sobre o Brasil por parte da nova administração estadunidense para que adotemos um posicionamento mais próximo dos interesses dos EUA.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho