XXXIV Congresso da Conadu discute estratégias para enfrentar a mercantilização
Um espaço de resistência e de enfrentamento, em um momento de reflexão para todos os países da América Latina. Foi assim que a coordenadora da Secretaria de Assuntos Educacionais da Contee, Adércia Bezerra Hostin dos Santos, descreveu o XXXIV Congresso Ordinário da Federação Nacional de Docentes Universitários da Argentina (Conadu), cuja abertura foi realizada na noite de ontem (4) em Buenos Aires. Além dos sindicatos filiados à federação, a atividade conta com a participação de representantes de diversos países do continente, incluindo, do Brasil, a Contee e a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituição Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes-Federação), representada por seu presidente, Eduardo Rolim. Durante a abertura, também foi feito um ato exigindo a aparição de Santiago Maldonado, visto pela última vez no dia 1º de agosto durante ação da polícia militar argentina contra um protesto mapuche na província de Chubut.
“Para a Conadu este congresso é muito importante, porque estamos discutindo o que nossos países na América Latina — Brasil, Argentina… — estão enfrentando: um processo econômico muito grave, que afeta diretamente a educação”, declarou, à Contee, o secretário-geral da Conadu, Carlos de Feo. “Por isso, neste congresso é muito importante também a participação dos nossos companheiros do Brasil, do Proifes, da Contee, porque basicamente temos que discutir como nós, docentes universitários, enfrentamos este processo de mercantilização, de privatização e de entrega ao mercado, às mãos privadas. Seguramente, é um processo que, como em outras épocas de nossa história, tem afetado as maiorias populares com perdas de direitos, como o direito à educação de qualidade, uma educação crítica, que sirva também à emancipação dos nossos países.”
Sobre essa temática, no âmbito do XXXIV Congresso Ordinário da Conadu, foi realizada hoje (5), um seminário internacional com o objetivo de apresentar eixos de ação sindical frente à mercantilização da educação no mundo. Nessa perspectiva, a coordenadora da Secretaria de Assuntos Educacionais da Contee analisou as políticas de acesso e permanência na educação brasileira e a atuação das grandes corporações, incluindo o crescimento do ensino a distância.
“Fiz uma distinção bem pontual entre a rede pública e o setor privado e o quanto nós temos uma perspectiva de achatamento no crescimento das universidades públicas: como houve um aumento no número de universidades e institutos federais durante o governo Lula e como agora a agressividade do capital vai desmantelar toda essa projeção”, observou Adércia, acrescentando que, mesmo durante as administrações progressistas de Lula e Dilma, não foi feita a regulamentação do ensino privado, “o que permitiu que continuassem tendo fôlego para avançar e expandir”.
De acordo com os dados apresentados pela diretora da Contee, 75% das matrículas no ensino superior estão no setor privado. “Apesar de o seminário ser de ensino superior, pontuei também que agora nós, no país, já estamos tendo um refluxo, uma onda privatizante dentro da educação básica, inclusive através das reformas, como do ensino médio”, enfatizou.
A diretora da Contee fez um panorama da conjuntura preocupante brasileira, destacando temas como a Lei a Mordaça e a Emenda Constitucional 95 e frisando as iniciativas de reação, como a convocação da Conferência Nacional Popular de Educação (Conape). “Ressaltei, aliás, essa nova formatação que é o Fórum Nacional Popular de Educação, já que o fórum oficial foi destituído, sendo que Proifes, Contee e outras entidades que tratavam da questão do ensino superior foram simplesmente eliminadas do Fórum Nacional de Educação pelo governo golpista, Ministério da Educação e cia.”
Yamile Socolovsky, secretária de Relações Internacionais da Conadu, disse à diretora da Contee que um seminário como esse “é importante não somente porque é uma oportunidade para nos reunirmos com os companheiros e companheiras de outros sindicatos e trocar impressões sobre as situações que estamos passando nosso país, mas também porque temos a possibilidade de escutar os representantes dos sindicatos de outros países”. “Esses companheiros e companheiras podem, a partir daqui, pensar o quanto as situações que têm que enfrentar em suas universidades estão diretamente relacionadas com as lutas de outros companheiros e que aquilo que estamos atravessando na política nacional se irmana com as esperanças, as capacidades de luta e a confiança que temos na organização popular finalmente será capaz de derrotar os ataques aos direitos e a subordinação aos desígnios do capital”, declarou. “Nesses encontros nos conhecemos mais, entendemos melhor o que nos passa, pensamos nas estratégias que podemos compartilhar e nos fazemos mais fortes.”
Por Táscia Souza