200 mil comemoram 1º de Maio em SP; centrais falam em nova greve e ocupação de Brasília
O Dia do Trabalhador de 2017, 1º de maio, foi dominado por um discurso fortemente contrário ao governo Temer e suas reformas. Em várias capitais do Brasil, as centrais sindicais e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo demonstraram que não darão trégua a Michel Temer e sua camarilha golpista.
O discurso mais recorrente foi o de comemoração à greve geral do dia 28 de abril, que paralisou 40 milhões de trabalhadores em todo o Brasil. Em São Paulo, quase todo discurso incorporou essa grande vitória, de uma forma ou de outra, e escarneceu os assessores do Planalto por chamarem-na de “fracasso”. “Fracasso é o seu, Temer, é o golpe que você deu e já está indo por água abaixo!”, bradou o coordenador-geral Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, de cima do caminhão de som. “O senhor tem mais de 90% de rejeição e quer aprovar reformas infames!”
Outro tema recorrente foi a pesquisa Datafolha divulgada durante o feriado, que revela que 7 em cada 10 brasileiros são contrários à reforma da Previdência. Entre os funcionários públicos, a rejeição chega a 83%. No Rio de Janeiro, um terceiro ponto importante foi a ação opressiva brutal da Polícia Militar durante a greve geral, quando membros da corporação atiraram bombas de gás diretamente no palco e feriram um organizador. O ferimento gravíssimo do estudante Mateus Ferreira dos Santos, quase morto pela PM de Goiânia, também gerou grande indignação.
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Em Salvador, o ato transcorreu de forma positiva, com um pauta unitária entre CTB e mais seis centrais e as duas Frentes. O Farol da Barra tornou-se palco para discursos políticos inflamados e diversas apresentações culturais. Em Brasília, evento similar ocorreu nos arredores da Funart pela manhã, e em Fortaleza os sindicalistas se encontraram no Sindicato dos Bancários.
Em São Paulo foi realizado o maior dos atos, com 200 mil pessoas, coordenado pela CTB, pela CUT e pela Intersindical. Entre os oradores estava o presidente da CTB, Adilson Araújo, que fez uma fala apaixonada sobre a necessidade de resistência nesse momento de reformas ultraliberais.
“Este 1º de Maio acontece no centenário da primeira greve geral do Brasil, é um marco importante, sobretudo diante dos ataques de Michel Temer. A sociedade está convencida de que as ruas são o remédio para romper com o conservadorismo, e quer uma resposta para o caos social que se verificou após a instalação desse golpe contra o voto democrático e popular”, discorreu o presidente. “O caminho é fortalecer a construção unitária das centrais sindicais, trabalhadores e movimentos sociais. Assim, a gente vai conseguir sacudir a poeira, dar a volta por cima e apresentar uma nova agenda para a sociedade”.
“A sociedade reclama a retomada do crescimento econômico, com geração de emprego e renda, e nós não temos outra alternativa que seja dizer, em alto e bom som, ‘Fora, Temer!”, concluiu Adilson.
Tentativa de repressão do ato em SP
Infelizmente, os organizadores do ato em São Paulo foram surpreendidos com a atitude truculenta e autoritária do prefeito da cidade, João Doria, que tentou mais de uma vez impedir o prosseguimento do ato. Conta o presidente da CTB-SP, Onofre Gonçalves: “Foi muito difícil fazer esse ato acontecer, por intransigência do governo municipal, que acha que a Av. Paulista é uma das empresas dele. O prefeito impediu que nós fizéssemos o nosso ato, ou pelo menos tentou, chamou a polícia aqui, disse que ia guinchar o caminhão”.
Onofre descreveu um comportamento ditatorial por parte da Prefeitura, nas primeiras horas da manhã. Doria teria mandado a PM cercar os organizadores, inclusive com motocicletas, forçando uma retirada total do vão do MASP. Os sindicatos resistiram, o que causou uma escalada de ameaças até a apreensão de todo o equipamento do ato, incluindo os caminhões. Finalmente, depois de três horas de tensão desnecessária, foi permitido que a manifestação acontecesse, mas a prefeitura impôs uma série de barreiras arbitrárias, inclusive impedindo os trios elétricos de descerem com a passeata a Av. da Consolação.
O claro objetivo foi o de desarticular o ato.
“Depois de muita luta, de muita resistência, nós conseguimos realizar o nosso ato. A Av. Paulista é do povo brasileiro, é dos trabalhadores, é dos trabalhadoras. E esta é uma festa importante, nós assistimos ao Brasil parar no dia 28, e isso é uma continuidade”, analisou Onofre. “É bem verdade que nós não temos nada para comemorar com esse governo, é bem verdade que nós não temos nada para dizer que ele fez para esse povo, mas temos que dizer que nós temos luta, organização e resistência. Essa é a marca, é isso que nós estamos fazendo aqui hoje, milhares de pessoas que vieram lutar pelos seus direitos”.
O ato terminou pacificamente na Praça da República, onde um outro trio elétrico aguardava os participantes com os artistas Emicida, Leci Brandão, MC Guimê, As Bahias e a Cozinha Mineira, Bixiga 70, e Ilu Obá De Min. Alguns deles dedicaram a apresentação ao cantor Belchior, que morreu neste fim de semana.
Planos para próximos atos
Já nesta terça-feira (2), as centrais sindicais se reúnem com o presidente do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir as propostas de reforma trabalhista e da Previdência. Calheiros já se declarou favorável a alterar a Reforma Trabalhista, chamando-a de “reforma de ouvidos moucos”.
Depois, na quinta-feira (4), uma nova reunião entre as centrais decidirá sobre a possibilidade de preparar uma nova greve geral, ou uma ocupação em Brasília, que os propositores imaginam chegar até 100 mil pessoas. Tanto Adilson quanto Onofre afirmam que, apesar de ainda demandar muitos acertos, a CTB é favorável à realização de novos atos até que se instale um governo eleito de forma legítima.