Professores e estudantes preparam atos para o dia 15 de outubro
A mobilização por uma Educação com mais qualidade e valorização do professor ganha força nas ruas. Desde a noite de sábado, 28 de setembro, quando a Tropa de Choque da Polícia Militar (PM) do Rio retirou da Câmara os professores e funcionários da rede municipal que ocupavam a Casa de forma simbólica, a categoria ganhou forte apoio popular. Na terça-feira (15), Dia do Professor, está marcada uma assembleia no Rio, às 11h, e protestos pelo país logo em seguida.
Os locais das atividades do dia 15 ainda não foram definidos. Nesta quinta (10), OS profissionais das redes estadual e municipal de ensino, junto com os professores da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec), realizaram um ato unificado pela educação. A concentração foi no Largo do Machado, na zona Sul do Rio, de onde marcharam até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras, sede do governo do Estado, e depois para o Palácio da Cidade, em Botafogo. Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ), pelo menos 80% dos educadores municipais estão em greve, e 90% dos educadores estaduais também. Tanto a prefeitura, quanto o governo do Estado negam essa adesão. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) afirma que a adesão na cidade é de 10%. O estado afirma que somente 1% teriam paralisado suas atividades.
Após a rápida disseminação das imagens da desocupação da Câmara que flagraram a truculência dos policiais com os educadores, a greve da categoria ganhou visibilidade e, enfim, um tema que é tão caro para o país têm recebido apoio de diversos outros setores, inclusive artistas e escritores. Recentemente, escritores da delegação brasileira da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, divulgaram manifesto em apoio à greve. Por aqui, artistas têm postado fotos em preto e branco nas redes sociais posando como alunos.
Há 62 dias em greve, os docentes cariocas reivindicam a revisão do Plano de Cargos e Salários (PL 442/13) enviado pelo Prefeito Eduardo Paes plano, aprovado na noite de terça-feira (1º). De acordo com os professores, o Plano aprovado é um retrocesso na luta dos Profissionais de Educação do Rio, já que retira uma série de direitos e conquistas históricas.
“O Plano sofreu cerca de 30 emendas e só representa cerca de 7% da categoria, os que têm mais de 40 horas aula, por semana. Ele foi elaborado sem dialogar ou consultar os professores e aprovado de uma forma absurda. Nem mesmo os vereadores puderam ter tempo para discuti-lo. Entrou em pauta na terça-feira (1º) e no mesmo dia aprovado. O sindicato pede na Justiça a anulação da votação” declarou o professor Marcio Franco, dirigente do Sindicato dos Profissionais de Educação (Sepe). A maior parte dos cerca de 60 mil trabalhadores – entre professores, merendeiras e funcionários – trabalha cerca de 16 horas-aula por semana.
Na noite de segunda-feira (7), milhares saíram às ruas no Rio de Janeiro e em São Paulo para protestar em solidariedade aos professores em greve. No Rio, os organizadores estimam que cerca de 50 mil participaram do ato que começou pacífico, mas terminaram sofrendo repressão da polícia, que usou gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, nas duas cidades.
“Queremos reabrir as negociações, mas a prefeitura se mantém intransigente. A prefeitura diz que se reuniu umas 10 vezes com a gente, mas estamos em um processo de negociação há cinco anos e até agora não há avanços”, destacou Marcio Franco, que é professor de Geografia do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano).
Luta nacional
A luta dos professores cariocas ganhou contorno nacional e diante das agressões sofridas pelos professores, reprimidos pela Tropa de Choque, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, encontrou-se com o secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, e depois com os professores, na quarta-feira (9) para tratar do assunto. “Cumprimos missão do Cddph [Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana] realizando reunião com organizações de DH e professores RJ. Registramos denuncias e propostas que serão respondidas”, declarou ontem a ministra em seu Twitter. Além disso, a ministra também tuitou que foram apresentadas resoluções do Conselho sobre autos de resistência e manifestações durante a reunião com o secretário de Segurança Publica.
Com relação aos conflitos constantes entre policiais e os chamados Black Bloc, o professor Marcio Franco faz questão de frisar que é preciso fazer uma análise separada de cada um dos movimentos existentes dentro de um mesmo ato. “É preciso separar e entender o que é esse novo movimento, os chamados Black Bloc. Nem os cientistas sociais têm consenso. Mas certamente é um diferente do nosso, que é de trabalhadores. Eu tenho dito para os meus colegas que no Brasil, nos anos 1960 e 1970, tivemos uma geração que optou pela luta armada, uns foram para a guerrilha urbana e outros para guerrilha no campo. Depois, revisaram suas posturas e migraram para os movimentos pacíficos. Só chegamos ao estado de direito após uma mobilização ampla, massiva, suprapartidária e pacífica”, explicou o dirigente sindical. “As esquerdas optaram pela luta armada e revisaram suas posições. Foi de forma pacífica e organizada que conseguimos superar a ditadura militar. E acredito que agora também deverá ser dessa forma”, concluiu.
A coordenadora geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Madalena Guasco, chamou a atenção para o fato de que estamos às vésperas de uma eleição presidencial e que tudo o que será dito por muitos políticos e pela imprensa precisar ser bastante filtrado. “Vai ser uma falácia. Vamos entrar num período de eleição e começa tudo novamente. Vamos debater a importância da educação, análises diversas vão surgir. Mas é preciso deixar claro que para que a educação tenha essa elevação é preciso valorizar o professor, com melhores salários para que ele tenha dedicação exclusiva”, defendeu a professora da rede particular.
Para ela, a luta dos professores da rede publica “é uma luta republicana, que ultrapassa o corporativismo.” “Ela ocorre em benefício da juventude brasileira. E essa repressão toda contra os trabalhadores é contra a cidadania e atinge diretamente a todos nós. Quando um professor apanha na rua quem está apanhando junto com ele é toda a sociedade brasileira, são os pais dos alunos. Os professores não estão reivindicando regalias, mais sim condições para que ele exerça a função de professor”, completou Madalena Guasco.
Estudantes e a luta por democratização
A categoria que mais está indo às ruas são justamente os jovens citados pela coordenadora geral da Contee. A União Nacional dos Estudantes (UNE) já prestou publicamente sua solidariedade. “A UNE e a União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ) tem participado ativamente a favor dos professores e repudiado a violência e intransigência do Governo do Estado através da ação da Polícia Militar”, destacou Igor Mayworm, diretor da UNE, no site da entidade. A União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ) também reforça a valorização do professor como ponto central para a elevação da qualidade do sistema público educacional. “Os estudantes estão nas ruas defendendo o Rio de janeiro e a educação, para que possamos construir um modelo que seja democrático, emancipador, de qualidade e para todos. Nós estamos ao lado dos professores por entender que a educação para o Brasil que almejamos, deve começar com a valorização dos profissionais de educação, que dão seu suor, todos os dias, para nos dar mais conhecimento e constroem cidadãos”, disse a presidenta da UEE-RJ, Tayná Paolino.
Vic Barros,presidenta da UNE, destacou o momento como primordial para a luta pela educação, com democratização nas universidades. “Em são Paulo, especificamente, temos uma luta que já dura muitos anos, que é a luta pela democratização das universidades estaduais paulistas. A estrutura interna da universidade é bastante autoritária, onde a comunidade acadêmica não tem como intervir nas decisões políticas, como na eleição para reitoria, que acontece no final deste ano”, comentou Vic Barros, que estará presente no ato do dia 15 em São Paulo, ainda sem trajeto definido.
Na noite desta quinta (10), acontece uma nova assembleia de estudantes na USP, que estão em greve para exigir maior participação da comunidade acadêmica nos processos internos da instituição.
Deborah Moreira
Da redação do Vermelho