Desmonte da Educação com Bolsonaro é inédito desde ditadura, diz antropóloga especialista em Ensino Superior
Especializada em Ensino Superior, a antropóloga Helena Sampaio, professora da Faculdade de Educação e da Escola de Pós-Graduação da Unicamp, em Campinas, realiza em Paris, nesta segunda-feira (3), a conferência Mudanças e Permancências no Ensino Superior Brasileiro, um balanço dos últimos 20 anos na Escola de Altos Estudos em Ciênciais Sociais (EHESS).
A antropóloga Helena Sampaio conta que muitas mudanças ocorreram no Ensino Superior do Brasil e na educação em geral nos últimos 20 anos. “Nós assistimos um grande crescimento no número de matrículas, elas triplicaram nas universidades. Há também mudanças na configuração do sistema do Ensino Superior, com uma participação expressiva do setor privado com fins lucrativos, que se organiza hoje em grandes conglomerados educacionais”, analisa.
“Dois programas nos últimos anos contribuíram para a expansão das matrículas, voltados para os estudantes matriculados em instituições privadas: o Prouni [criado na gestão de Fernando Haddad à frente do Ministério da Educação], em 2005, e, em 2012, quando temos uma reformulação do Fies, que é um programa de financiamento do setor privado. Esses dois programas tiveram como efeito positivo ampliar o acesso dos jovens – sobretudo dos jovens mais pobres, sem muito capital cultural ou social – ao Ensino Superior”, diz Sampaio.
Redemocratização
“Desde meados de 1980, quando começa a redemocratização, a gente já tem um incremento nos níveis de educação fundamental. Essa área será alvo de políticas públicas sobretudo do governo de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990”, lembra. “O que nós assistimos nas últimas décadas, foi justamente o atendimento dessa demanda educacional por parte dos últimos governos de Lula e de Dilma Rousseff”, diz a professora.
Sobre o aumento do número de alunos negros nas universidades brasileiras, Helena Sampaio diz que “o interessante é que o nosso Ensino Superior não só expandiu em termos numéricos, quantitativos, mas ele também se diversificou”. “A lei das Cotas permitiu 50% ou mais de população de estudantes afrodescendentes, revertendo um pouco o quadro da elitização do Ensino Superior no Brasil”, pontua.
Na contramão dessa história, Sampaio é taxativa ao dizer que o governo de Jair Bolsonaro “tem um grande descaso, não só pelo Ensino Superior, mas pela Educação em geral, pela pesquisa, pelo desenvolvimento científico”. “Me parece que estamos diante de uma situação bastante inédita, porque esse desmonte não aconteceu nem durante a ditadura, o regime militar… Corte de 30% para universidades federais, corte de pesquisa, corte de bolsa, proibição de professores participarem de eventos fora do país, tudo isso vai impactando de forma muito negativa tudo que foi sendo construído ao longo desses últimos 30 anos”, conclui.