Volta às aulas: como desmobilizar a resistência
Luiz Carlos de Freitas
Os sistemas de ensino encontraram uma forma de se livrar da responsabilidade pelo retorno às aulas em plena pandemia. A forma que encontraram foi deslocar a decisão para os pais.
Mas, mais que isso, este encaminhamento pretende bloquear o movimento e a organização de professores, estudantes e pais contra a reabertura – sem contar que cria uma pressão sobre os próprios pais que são reticentes à volta às aulas: eles devem assumir a responsabilidade por não enviar o filho à escola – e assumir também a consequência. Tudo isso é desmobilizador da resistência. O problema deixa de ser coletivo e passa a ser individual.
Pais que estão pressionados pela necessidade de trabalhar, sem condições de se manter em casa, tenderão a enviar seu filho para a escola para poder trabalhar. Enquanto isso, aqueles que têm melhores condições econômicas, tenderão a não enviar seu filho à escola – preocupados com a contaminação e tendo como acompanhar o ensino remoto.
Além disso, quanto mais desfavorecido é o pai, mais tende a valorizar a escola, pois é o único espaço que o filho pode frequentar e que, supostamente, permitiria a ele melhorar de vida. Ficará em dúvida se deve impedir seu filho de ir à escola, assumindo sozinho a responsabilidade de deixá-lo em casa, pois desconhece as consequências e poderia estar tirando dele a oportunidade de progredir na vida.
Essas e outras razões vão fazer com que sejam, novamente, os mais desfavorecidos que irão se arriscar à contaminação reversa: mandam o filho para a escola e aumentam a contaminação daqueles que estão na sua residência – crianças acima de 10 anos transmitem o vírus tanto quanto os adultos – e espalharão o vírus em casa.
A tática de tornar decisões coletivas em individuais é antiga. Rompe o coletivo. Quando se quer desmobilizar uma organização coletiva, desloca-se a decisão para o indivíduo e, com isso, tira-se de cena a decisão coletiva que usualmente têm maior força.
Foi assim com a implantação das escolas militares. O governo apelou para a decisão direta dos pais dos estudantes. Eles deveriam dizer se queriam ou não a conversão da escola do filho em escola militar.