A reação dos mercados na primeira semana após a eleição de Lula: bolsa em alta, dólar em queda

Avaliação é de que negociações para transição de governo começaram a caminhar, que a possibilidade de contestação de resultados minguou e que a gestão de Lula pode remediar as relações comerciais do Brasil, favorecendo a atração de capital para o país

O mercado financeiro reagiu bem na primeira semana após os resultados da eleição de 2022, que consagrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para seu terceiro mandato como presidente da República.

A avaliação geral é de que as negociações para transição de governo começaram a caminhar de acordo com o esperado, que a possibilidade de contestação de resultados minguou e que a gestão de Lula pode remediar as relações comerciais do Brasil, favorecendo a atração de capital para o país.

O dólar teve nova queda nesta sexta-feira e recuou 1,29%, vendida a R$ 5,0590. Na primeira semana após as eleições presidenciais, o dólar chegou ao menor valor desde 29 de agosto (R$ 5,0329) e acumulou queda de 4,56%.

Bolsa e estatais

Já o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, fechou a semana com alta de 3,16% e chegou aos 118.155 pontos. Apesar do peso contrário de empresas estatais, a maior parte das empresas se beneficiou na última semana e colheu bons resultados.

A Petrobras sofreu queda de 11,60% nas ações ordinárias (PETR3) e de 13,20% nas preferenciais (PETR4) com a desconfiança de que a gestão petista pode interromper a vigência da política de preços da petroleira ou mexer na distribuição de dividendos da empresa.

A estatal distribuirá, ao todo, mais de R$ 217 bilhões em dividendos aos acionistas no ano de 2022. Um levantamento realizado por Einar Rivero, da Trade Map, mostra que o montante total é três vezes maior do que o dividendo pago no ano passado. A União, que detém 28,7% dos papéis, ficará com R$ 62 bilhões desse valor.

Mas a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou a decisão da empresa e disse que ela visa pagar parte da gastança eleitoral do governo neste ano eleitoral. “Isso é uma irresponsabilidade com a empresa e com o país. É a farra do [ministro da Economia] Paulo Guedes, para cobrir os gastos eleitorais do governo Bolsonaro”, afirmou.

Como foi a semana

Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, diz que o resultado desta semana mostra que o momento do mercado passou por uma melhora com a conjunção do fim do ciclo de alta dos juros, o período de inflação em queda e, agora, com término do período eleitoral.

Para o especialista, a equação parece ser o que justifica uma entrada de capital estrangeiro nos últimos dias, ainda que permaneçam os riscos envolvendo a política fiscal e diretrizes econômicas do próximo governo. O desafio de Lula será estruturar os planos em uma economia com pouco espaço para gastos não obrigatórios no Orçamento e uma perspectiva de crescimento mais lento em 2023.

O que agrada, por hora, é a condução dos primeiros trabalhos. O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), encontrou-se nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, no que foi a primeira reunião para tratar da transição para o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Alckmin foi escolhido por Lula para coordenar a equipe de transição. Nogueira, por sua vez, chefia os trabalhos pelo lado do governo Bolsonaro. O vice-presidente informou que nomes da equipe de transição devem ser anunciados a partir da próxima segunda-feira (7).

“A partir de agora, o que ganha importância para o mercado é a indicação de quem será o futuro Ministro da Economia. Os agentes econômicos aguardam se o nome será de um político ou de um técnico e isso será determinante para a direção dos ativos nas próximas semanas”, diz Gabriel Cunha, especialista em mercados internacionais do C6 Bank.

Como mostrou o blog da Andréia Sadi, o terceiro governo de Lula (PT) deve começar sem a figura de um superministério — como ocorre com a pasta da Economia na gestão de Jair Bolsonaro (PL). Terá, por outro lado, uma vice-presidência empoderada. Alckmin será nome forte do governo e terá influência direta, por exemplo, na Economia e no Ministério da Defesa.

Integrantes da campanha de Lula defendem, inclusive, que Alckmin venha a comandar uma dessas pastas. Mas, mesmo que isso não venha a ocorrer – ele é resistente à ideia –, os nomes escolhidos vão passar pelo crivo do vice-presidente eleito.

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Para a Economia, por exemplo, assessores de Alckmin defendem o nome de Pérsio Arida, um dos criadores do Plano Real. Arida declarou voto em Lula em 2022 e não descartou integrar o novo governo do petista.

Em contrapartida, o PT ficaria com o Ministério do Planejamento, que é responsável pela execução do Orçamento da União. Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e candidato derrotado ao governo de São Paulo, é cogitado para ocupar a pasta.

Além disso, os protestos golpistas de bolsonaristas que contestam a vitória de Lula perderam força ao longo da semana, o que reforça a expectativa de uma transição tranquila. O próprio presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais para pedir que seus apoiadores desfizessem os bloqueios em estradas federais.

“Tivemos, de fato, um ruído com as manifestações, mas foi só um ruído e tudo está transcorrendo bem para a transição. O investidor estrangeiro é relativamente confortável com o governo Lula e, com isso [transição], vem trazendo dinheiro para os ativos do Brasil”, afirma Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos.

Exterior aliviou a pressão

No exterior, o dia nos mercados globais é mais positivo nesta sexta, o que gera um maior apetite a risco — ou seja, os investidores tendem a investir em outros ativos além daqueles considerados mais seguros, como é o caso do próprio dólar e dos títulos públicos dos EUA. Assim, moedas de outros países ganham força contra a moeda americana, como o real.

Nos EUA, investidores repercutem os números do payroll, o relatório de empregos mais importante do país. O desemprego cresceu 0,2% na maior economia do mundo em outubro, chegando a 3,7%. No entanto, foram criadas 261 mil vagas de trabalho, acima das expectativas do mercado, que apontavam para cerca de 200 mil novos postos.

“A tendência de desaceleração do emprego segue se mostrando cada vez mais clara, ainda que a velocidade da queda esteja mais lenta que o esperado pelo mercado. Não vemos o payroll de hoje alterar a trajetória dos juros”, diz Pacheco, da Guide Investimentos.

Na China, notícias positivas sobre o controle dos casos de covid-19 também ajudam a animar os investidores. De acordo com informações da Reuters, o ex-epidemiologista-chefe do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças afirmou que, em breve, o país terá mudanças na política de covid zero.

Com melhores perspectivas para a economia chinesa, que um dos principais países demandantes de diversos produtos do mundo, o petróleo e o minério de ferro operam em alta nesta sexta, o que também beneficia o Brasil, segundo especialistas.

Como o país é um importante exportador de commodities, algumas das maiores empresas brasileiras listadas em bolsa são exportadoras e ganham atratividade em momentos de valorização dos produtos no exterior. Assim, mais investidores internacionais alocam seus recursos nesses papéis, gerando uma variação positiva para a moeda nacional.

“Houve uma descompressão de risco internacional com a questão da China, que acabou puxando muito a ações dependentes de demanda chinesa, como mineradoras e siderúrgicas, e ajudou moedas mais dependentes da demanda da China, como dólar australiano e o próprio real”, diz Kawa, da TAG Investimentos.

G1

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