Aliados aconselham, mas Bolsonaro não quer devolver “presente” saudita que ele abocanhou ilegalmente

Ex-presidente, no entanto, ainda não teria tomado decisão; sugestão é de seus aliados, que entendem que entrega do presente para o acervo público arrefeceria a polêmica

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi aconselhado a devolver ao acervo da Presidência da República estojo com caneta, anel, relógio, par de abotoaduras e terço dado, como “presente”, pelo príncipe da Arábia Saudita em 2021.

Essa atitude do ex-presidente não espantou ninguém. Mequetrefe, Bolsonaro nunca teve a dimensão da Presidência da República. Durante os 4 anos em que ocupou a principal magistratura do país, usou o cargo para as coisas mais absurdas e se desmoralizou e desmoralizou a instituição.

Segundo relatos, a orientação teria sido dada por grupo de aliados, para os quais a entrega dos objetos de luxo ao acervo da Presidência da República poderia arrefecer a polêmica sobre os presentes que não teriam sido registrados pela Receita Federal.

Faça o que fizer — devolvendo ou não — os prejuízos políticos para o ex-presidente já estão contabilizados. De vestal (nunca foi) que criticava os desmandos e malfeitos dos outros, agora é visto por todos como alguém que faz qualquer coisa por um bom dinheirinho, ou melhor, por alguns milhõezinhos.

O ex-mandatário do Palácio do Planalto, que reconheceu que incorporou o estojo ao acervo pessoal, ainda não tomou a decisão. Bolsonaro disse que não considera ter havido ilegalidade no episódio. Está aí a prova de que o ex-presidente se faz de besta, de tolo, e com essa atitude conspurca e conspurcou a Presidência da República.

Se havia alguma dúvida de quão pequeno e medíocre é Bolsonaro, este rumoroso caso das joias revelou, definitivamente, o verdadeiro arquétipo do ex-presidente. Figurinha pequena, cuja assunção à Presidência da República subiu-lhe à cabeça e o fez imaginar que no mais alto cargo político da República podia fazer o que fez durante os 28 anos de mandato como deputado federal — negócios.

FURTO NA CARA DURA

O estojo foi transportado na mudança do ex-presidente do Palácio do Alvorada. O Decreto 4.344/02, que trata sobre preservação, organização e proteção dos acervos documentais privados dos presidentes estabelece que todos os presentes dados em viagens devem ser encaminhados ao Departamento de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal do presidente da República.

Dia 28 de outubro de 2021, o gabinete do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque informou ao Departamento Histórico da Presidência da República que estava com os presentes entregues pelo governo da Arábia Saudita.

Porém, omitiu que outros itens do primeiro estojo foram apreendidos pela Receita Federal.

PREVARICAÇÃO

Após 1 ano, em 29 de novembro de 2022, os itens do segundo estojo foram entregues ao Gabinete Histórico da Presidência da República. No mesmo dia, foram incorporados ao acervo privado de Jair Bolsonaro.

Na avaliação de integrantes da equipe do ex-presidente, todo o mal-estar surgiu porque os assessores do Ministério de Minas e Energia deveriam ter informado previamente oi embarque de cada item. Se houver quebras de sigilos telemáticos poderão constatar que Bolsonaro, certamente, foi avisado sobre os presentes.

Além disso, responsabilizam a falta de organização do gabinete presidencial, que deveria ter atuado no período para catalogar o acervo pessoal do então presidente.

Agora, a Polícia Federal deve chamar para depoimento os ex-funcionários da Presidência da República que transportaram e registraram os presentes da Arábia Saudita.

Os agentes policiais também devem fazer uma análise das imagens das câmeras de segurança do aeroporto internacional de Guarulhos (SP) e tentar identificar digitais no primeiro pacote de joias apreendido pela Receita Federal.

MICHELLE FOI ORIENTADA A SUBMERGIR

Esse rumoroso caso das joias sauditas é tão esdrúxulo e revelador que até a ex-primeira dama foi aconselhada a submergir.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, lançou Michelle Bolsonaro a candidata à Presidência da República, em mais de uma entrevista.

De duas, uma.

Ou o cotejo era jogo de cena, uma forma de pressionar Bolsonaro a interromper o período sabático nos EUA e voltar ao Brasil para domar as feras hoje abrigadas no PL, como já pediu com todas as letras noutra entrevista, ou o projeto Michelle 2026 já está em curso.

Está ou estava.

Desde o último fim de semana, Michelle virou tema do noticiário diante da revelação, feita pelo jornal O Estado de S. Paulo, que ela seria a destinatária de conjunto de brincos e colar de diamantes avaliado em R$ 16,5 milhões. As peças seriam “presente” da Arábia Saudita à então primeira-dama.

Michelle poderia se lançar candidata daqui a menos de 4 anos com diamantes por todo o corpo desde que ela tivesse pago os devidos impostos sobre importação de produto estrangeiro. Algo em torno de 40% do valor do produto — no caso, o “presente”.

PEGO NA MENTIRA

Não foi o caso, como mostra o passo a passo reconstituído pelo Estadão sobre os esforços de Bolsonaro em obter a mercadoria. Um dos ministros escalados para a missão e agora suspeito de omitir mercadoria da Receita jura que tudo seria declarado como presente ao Estado brasileiro e incorporado ao acervo presidencial.

A história, mal contada sob qualquer ângulo que se observe, joga areia na engrenagem até então polida por Costa Neto para testar a viabilidade eleitoral de Michelle Bolsonaro, seja como candidata, seja como cabo eleitoral.

Daqui em diante, assim como já ocorreu em relação aos cheques de R$ 89 mil depositados na conta dela por Fabrício de Queiroz, peça-chave nas investigações sobre as “rachadinhas” (peculato) promovidas pelo clã Bolsonaro, Michelle será confrontada sobre a história das joias toda vez que aparecer em público.

Isso na melhor das hipóteses — para ela e os arquitetos da possível candidatura dela à Presidência da República.

INVESTIGAÇÃO PODE DESVENDAR ORIGEM DA DÁDIVA

A tendência é que as pontas soltas da história resultem em investigação de fato sobre as razões para tantas joias serem trazidas da Arábia Saudita sem aval da Receita.

Esse fio pode se desdobrar em meada considerável a ponto de se converter em possível processo por descaminho ou mesmo investigação aprofundada sobre possíveis interesses dos sauditas em outras joias. As joias brasileiras.

Hora do Povo

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