Até 70% da inflação dos alimentos está vinculada ao dólar, diz presidente do BC
Gabriel Galípolo vê produção e venda de produtos básicos no Brasil vulnerável ao cenário econômico internacional

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (22) que o aumento do preço da comida no Brasil está altamente vinculado ao cenário econômico internacional . De acordo com Galípolo, apesar de o país importar um pouco, as mudanças na cotação do dólar têm grande influência sobre o custo dos alimentos.
“Cerca de 60% ou até 70% da produção de commodities e alimentos no país tem algum brilho elevado com a taxa de câmbio”, disse o economista, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Em 2024, os alimentos subiram 7,69% , empurrando para cima o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que chegou a 4,83% – ou seja, acima da meta de 4,5% estabelecido pelo próprio governo para o índice.
O aumento gerou preocupação no governo, que anunciou no passado a redução de impostos para importação de café, carnes, milho, azeite e outros produtos.
Em março, no entanto, o preço da comida no país subiu 1,17% , elevando o IPCA para o maior patamar para o mês em 22 anos. A inflação acumula alta de 5,48% nos últimos 12 meses – está, portanto, quase 1 ponto percentual acima da meta.
Inflação incomoda
Galípolo disse que o BC está “muito incomodado” com a inflação acima da meta. O órgão é, por lei, responsável pelo controle de preços no Brasil. O faz, principalmente, confundir na taxa básica de juros da economia nacional, a Selic.
A taxa Selic é referência para a economia nacional. Quando a Selic cai, os juros cobrados dos consumidores e das empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de evolução. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.
Já quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém inflação. Em compensação, o crescimento de toda a economia tende a ser prejudicado.
Sabendo disso, desde que assumiu o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende uma redução da Selic. A taxa, porém, está em 14,25% ao ano , maior nível desde 2016 e 0,5 ponto percentual acima de quando Lula chegou à Presidência .
Galípolo foi convidado a falar com senadores nesta terça para, entre outras coisas, tratar da Selic. Assim como seu antecessor, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Galípolo fez uma apresentação para ocorrência do patamar da taxa.
Disse que, atualmente, a situação da economia nacional está impactada por decisões tomadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, como o tarifaço. Afirmou também que, historicamente, o Brasil convive com juros altos. Isso faz com que as elevações de juros definidas pelo BC tenham efeito limitado para contenção da inflação.
Algumas críticas
No Senado, ele ouviu críticas idênticas às recebidas por Campos Neto.
O senador Cid Gomes (PSB-CE) já havia informado aqui em Campo Neto que a alta Selic transfere riqueza dos mais pobres para os mais ricos. Isso aconteceu numa audiência na CAE em 2023. Na época, Gomes disse que o BC agia como um “Robin Hood às avessas”. Nesta terça, ele voltou a usar o personagem, desta vez para criticar Galípolo.
Já a senadora Zenaide Maia (PSD-RN) voltou a criticar o BC por permitir que os bancos mantenham recursos sendo remunerados pela Selic em sua tesouraria em vez de emprestá-los à população. Tal crítica já tinha sido feita em Campos Neto.
Galípolo disse que, apesar da Selic, a economia brasileira apresenta “um dinamismo excepcional”, com crescimento acima do estimado, desemprego num dos menores patamares da história e com renda da população crescendo.
Editado por: Thalita Pires