Histórias que a guerra não calou: Cinco livros para o Dia da Vitória

A memória é um campo de batalha. Em 9 de maio de 2025, o mundo marca os 80 anos do Dia da Vitória sobre o nazifascismo na Europa. Oito décadas desde que a Alemanha assinou sua rendição e os canhões silenciaram — não pela paz plena, mas pela exaustão. No dia 8 de maio de 1945, em Reims, o cessar das armas ecoava. Na União Soviética, já era 9 de maio. Desde então, essa é a data em que a Rússia homenageia, com flores e fardas, os mais de 20 milhões de mortos — civis, soldados, crianças, mães.

Neste 80º aniversário, entre desfiles e discursos, é preciso fazer silêncio para escutar. Escutar o que sobreviveu: os relatos. As memórias salvas do esquecimento. Os livros que são testemunhos, bússolas, advertências.

Porque lembrar é resistir. Num tempo em que discursos autoritários voltam a circular como febre, e em que a verdade parece negociável, a educação se coloca — mais uma vez — como trincheira. E os livros, como escudos inabaláveis.

A seguir, a CONTEE indica cinco obras fundamentais para pensar a Segunda Guerra Mundial não pelas estatísticas, mas pelas histórias humanas. Uma leitura que não busca a frieza da cronologia, mas a chama da experiência.

  1. O Diário de Anne Frank – Anne Frank

Em um sótão em Amsterdã, uma garota de 13 anos escrevia para resistir ao silêncio. Em meio ao terror da ocupação nazista, Anne Frank registrava sua adolescência como quem lança garrafas ao mar. Mais do que um testemunho do Holocausto, o diário é um retrato da força vital que insiste em existir, mesmo cercada de morte. Ao abrir suas páginas, tornamo-nos cúmplices de seus sonhos, seus medos e de uma lucidez comovente. Ler Anne é se dar conta que o horror histórico tem nome, rosto e coração.

  1. O Pianista – Władysław Szpilman

Em Varsóvia ocupada, Szpilman viu sua família ser levada, o gueto ser fechado, e a cidade reduzida a escombros. Pianista judeu, sobreviveu escondido, alimentado por migalhas e memórias. Sua narrativa, quase sem heróis, é feita de gestos pequenos: uma porta aberta, um prato dividido, um silêncio cúmplice. E mesmo sem plateia, ele continuou ouvindo música — e nos deixou um relato tocante de como a arte, às vezes, é a última forma de resistência.

  1. A Lista de Schindler – Thomas Keneally

Oskar Schindler foi empresário, oportunista, nazista. Mas foi também, no tempo certo, um homem que salvou vidas. Com planilhas, subornos e estratégias, resgatou mais de mil judeus dos campos de extermínio. Esta obra — que inspirou o célebre filme — conta como um sujeito contraditório virou refúgio. Um lembrete de que, mesmo nos lugares mais improváveis, pode surgir a coragem de desobedecer. E de que toda vida salva é uma vitória sobre o esquecimento.

  1. Inverno na Manhã – Janina Bauman

Com apenas 14 anos, Janina viu Varsóvia tomada por tanques e sombras. Seu relato atravessa o cotidiano do gueto, os traços da adolescência interrompida, e a sobrevivência em meio a relações despedaçadas. Memória íntima, escrita com precisão jornalística e delicadeza literária, Inverno na Manhã revela que a guerra não destrói apenas cidades — ela fratura os afetos, o tempo e o futuro. Janina, que mais tarde se casaria com o sociólogo Zygmunt Bauman, nos entrega aqui sua mais potente análise: a vida como testemunho.

  1. Diário da Resistência – Lucie Aubrac

Não era judia. Não foi vítima direta. Mas Lucie lutou. Professora de História e militante comunista, ela integrou a Resistência Francesa — em trincheiras, jornais clandestinos, fugas, sabotagens. Seu diário é o retrato de uma mulher que enfrentou um regime brutal com coragem e convicção. Num tempo em que o medo fazia calar, ela escolheu agir. E deixou seu nome entre aqueles que disseram “não” — quando o mundo parecia dizer “sim” ao terror.

Ler sobre a Segunda Guerra é mais do que recordar: é escolher um lado na disputa entre memória e negação. É reafirmar que liberdade, justiça e solidariedade não são garantias, mas conquistas que exigem vigilância e coragem — também em tempos de paz aparente.

Neste 9 de maio, a CONTEE convida à leitura como gesto político, pedagógico e poético. Porque educar é também impedir que a barbárie se repita.

Por Romênia Mariani

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