BC mantém maior arrocho monetário desde 2017 e asfixia produção e consumo
Brasil continua campeão mundial de juros reais com a Selic a 13,75%, enquanto inflação segue nas alturas
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (26) manter a taxa básica de juros da economia (Selic) no atual nível elevado de 13,75% ao ano, no maior arrocho monetário desde 2017, com o Brasil no topo do ranking mundial de juros reais.
De acordo com a MoneYou e Infinity Asset Management, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, o Brasil paga 7,80% em taxas de juros reais, o bastante para manter o país na liderança mundial de juros reais.
Foram 12 altas seguidas desde março do ano passado, quando em agosto atingiu o atual patamar. Mas o BC já sinalizou que o aperto monetário continua até junho do ano que vem, prejudicando o setor produtivo, encarecendo o crédito, reduzindo o consumo e elevando o endividamento das famílias com os bancos. Por outro lado, a inflação continua em patamares elevados, corroendo a renda dos brasileiros, com os preços dos alimentos bem acima da inflação oficial.
Segundo a prévia da inflação de outubro (IPCA-15), após dois meses de “deflação fake” de Bolsonaro, com as medidas eleitores às vésperas das eleições, os preços voltaram a subir.
E a economia segue patinando.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) do BC registrou que a economia brasileira recuou 1,13% em agosto, na comparação com julho deste ano. Outra prévia do PIB, apurada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta queda de 0,8% para o mesmo período. O BC e a FGV calculam dados da atividade econômica brasileira mensalmente sob óticas diferentes, mas já antecipam um estrato do que poderá ser divulgado oficialmente pelo IBGE no próximo período.
O setor produtivo brasileiro demonstra uma economia estagnada mesmo com o festival de medidas artificiais criadas pelo governo Bolsonaro ao longo do ano com o objetivo de promover a sua reeleição. Na passagem de julho para agosto, segundo o IBGE, a produção industrial registrou queda de 0,6%. Por sua vez, as vendas do comércio varejista na sua modalidade ampliada recuaram -0,6%. Já o volume de serviços prestados no Brasil ficou pouco acima de zero (0,7%).
A política de juros altos neutraliza qualquer política de estímulo ao consumo. De acordo com o Monitor do PIB da FGV, o consumo das famílias retraiu 0,5% em agosto. Não é à toa, frente a um ambiente de inflação dos alimentos e desvalorização dos salários, as famílias brasileiras estão se endividando para sobreviver.
Em setembro, 64,25 milhões de pessoas estavam negativadas – sem dinheiro para pagar suas dívidas e contas básicas – o maior número já registrado pela pesquisa mensal de inadimplência da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Mais de 6 milhões de empresas, na grande maioria, pequenas e médias, também estão inadimplentes, sufocadas pelos juros altos.
“Teremos um Natal pior do que o do ano passado”, alerta o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes. “O quarto trimestre deverá ser o ápice da desaceleração da economia”, avaliou Bentes, afirmando que as perspectivas para o varejo no final do ano não são boas, apesar da Copa do Mundo – evento que estimula a venda de televisores.
Com os juros em patamares proibitivos, as empresas deixam de investir, o que agrava o quadro de desemprego no país, que hoje atinge mais de 9,7 milhões de brasileiros, enquanto outros 39,3 milhões estão na informalidade do trabalho, sobrevivendo dos famosos “bicos”.