Com 100 mil pessoas, ato unitário das esquerdas toma as ruas de São Paulo em defesa da democracia
Cerca de 100 mil pessoas se reuniram em São Paulo na noite desta quinta-feira (20) para protestar contra a tentativa de impeachment ensaiada pela oposição à presidenta Dilma Rousseff. Da concentração no Largo da Batata, ativistas de diversas centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos marcharam em direção ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), atravessando a metrópole com faixas e palavras de ordem em defesa dos direitos sociais, contra os ajustes fiscais e pela manutenção da democracia.
A ocasião foi organizada por um coletivo esquerdista unitário, que reuniu num mesmo bloco a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Intersindical, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Central dos Movimentos Populares (CMP), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União da Juventude Socialista (UJS), a União Brasileira de Mulheres (UBM) e ao menos mais 20 movimentos da sociedade civil organizada. Foram convidados também para o ato o coletivo de partidos políticos da esquerda: PT, PCdoB, PTB, PDT, PSOL, PSOL e PTC. Apesar das mais muitas reivindicações, a defesa da ordem constitucional e a luta por mais direitos foram as duas pautas condutoras da manifestação.
“Toda vez que o povo ascende socialmente, há todo um interesse da classe dominante em encerrar o ciclo de avanço social. Esse Congresso extremamente conservador quer agora encerrar esse processo, contando com uma agenda extremamente regressiva, e muito do que esta acontecendo se deve à pressão do mercado, dos banqueiros, dos latifundiários. Eles têm um objetivo ao implementar essa agenda: criar insatisfação e instabilidade, para interromper o mandato constitucional da presidenta Dilma”, acusou o presidente da CTB, Adilson Araújo, do alto do caminhão de som. “Não podemos vacilar. Há uma onda golpista e conservadora querendo se aproveitar do momento, precisamos levantar nossas bandeiras e defender a democracia. Vamos continuar unidos e vencer o discurso do ajuste fiscal”, conclamou.
O presidente do MTST, Guilherme Boulos, usou seu tempo de microfone para falar das contradições das manifestações do domingo: “Nós estamos na rua hoje para rechaçar a indignação seletiva dessa gente da direita, intolerantes que vão à Avenida Paulista dizer que são contra a corrupção, mas ficam de mãos dadas com o sem-vergonha do Eduardo Cunha”. Falou também sobre a diferença dos perfis de manifestantes em cada uma das manifestações: “[Os manifestantes do domingo] são intolerantes, essa gente só gosta do povo no elevador de serviço e limpando a privada deles! Eles, que gostam tanto de fazer panelaço, não bateram panela para os 18 que foram assassinados na periferia de Osasco”.
Críticas ao governo
Apesar de se tratar de uma manifestação em defesa do mandato de Dilma Rousseff, a maior parte das intervenções foi incisiva ao condenar os ajustes fisicais promovidos pelo Governo Federal desde o encerramento das eleições. Faixas com os dizeres “Fora Cunha, Fora Levy”, rechaçando os atuais presidente da Câmara dos Deputados e Ministro da Fazenda, foram temas recorrentes, quase com a mesma frequência que as que defendiam Dilma.
“O governo federal precisa estar mais conectado com o povo, porque nós discordamos da política de ajuste fiscal que cortou mais de R$ 10 bilhões da educação. Isso influencia os direitos da juventude, influencia as bolsas do ProUni, do FIES, das universidades federais, e é por isso que nós viemos aqui também fazer a crítica. Nós não vamos admitir que seja cortado nenhum centavo da educação”, disse a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral.
“Defender a agenda dos trabalhadores é defender uma pauta que passa pela geração de empregos, que passa pela construção de casas, pela Reforma Agrária, pelo aumento real do salário mínimo, pela não-privatização – é essa a pauta que os nossos trabalhadores vieram defender. Queremos chamar aqui a união das esquerdas, para que a gente possa construir uma agenda unitária contra esse modelo que está aí, que seja uma alternativa para o desenvolvimento”, expicou João Pedro Stédile, dirigente do MST. “Termino dizendo: Dilma, mude o seu governo! Esse governo que você esta fazendo esta a serviço do capital, nós queremos um governo a serviço dos trabalhadores! Se não tiver mudança, você vai ficar refém do Cunha e do Levy, e nós não podemos ter compromisso com a política conservadora”, provocou.
Tentativa de provocação dos reacionários
O grupo reacionário Revoltados Online, que se tornou um dos puxadores dos protestos conservadores, decidiu realizar uma manifestação no mesmo local que os movimentos sociais, numa clara tentaram chamar atenção. Na última quinta-feira (12), Marcello Reis, um dos líderes, havia informado que esperava confronto com os manifestantes, mas acabou largamente ignorado.
Em uma segunda provocação, perto do final da passeata, três membros que se disseram “simpatizantes” dos Revoltados Online passaram a gritar palavras de ordem fascistas das manifestações de domingo para manifestantes que passavam pela calçada da Paulista, além de abrir cartazes com ofensas ao governo. Acusaram os presentes de estarem ali apenas por receberem o Bolsa Família e de serem “vagabundos”, mas não conseguiram os conflitos que buscavam.