Dica da semana: a atualidade de Machado de Assis

Um dos assuntos mais comentados dos últimos dias na internet foi o vídeo, viralizado, da influenciadora estadunidense Courtney Henning Novak, comentando sua estupefação ao ler o romance “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Em um projeto pessoal, Courtney propôs-se a ler um livro de cada lugar do mundo, seguindo a ordem alfabética da lista de países, e contar suas impressões no TikTok. “Preciso ter uma conversa com o pessoal do Brasil. Por que não me avisaram antes que este é o melhor livro já escrito? O que vou fazer do resto da minha vida depois que terminá-lo?”, questionou.

Em 2020, ao Portal da Contee replicou entrevista com a tradutora da obra para o inglês, a também norte-americana Flora Thomson-DeVeaux, que vive hoje no Brasil. No último sábado (18), Flora comentou a reação de Novak no X, antigo Twitter: “eu vi o vídeo, gente! fiquei feliz demais de ver alguém tendo a mesma reação que eu quando eu li brás cubas pela primeira vez com meu português precário: espanto e indignação de não ter convivido com o machado desde sempre. presenteiem os amigos gringos, espalhem essa alegria!”.

Essa entrevista não foi, no entanto, a única vez em que Machado de Assis foi referenciado — e reverenciado — aqui Portal da Contee. Pelo contrário, o autor é, ao lado de Castro Alves, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, figura quase onipresente nos textos do consultor jurídico da Confederação, José Geraldo de Santana Oliveira.

De “Memórias póstumas de Brás Cubas”, especificamente, Santana costuma citar uma frase, atribuída ao personagem Quincas Borba: “Lutar. Podes escachá–los ou não; o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”. É também de Quincas Borba, no romance homônimo, a frase que o consultor jurídico usou para resumir o ataque à ultratividade das normas coletivas: “ao vencido, compaixão ou ódio; ao vencedor, as batatas”.

Foi igualmente em Machado, dessa vez na crônica “O sermão do diabo”, que Santana foi buscar a síntese do desmonte da Justiça do Trabalho e dos direitos trabalhistas: “Também foi dito aos homens: Não matareis a vosso irmão, nem a vosso inimigo, para que não sejais castigados. Eu digo-vos que não é preciso matar a vosso irmão para ganhardes o reino da terra; basta arrancar-lhe a última camisa”. E é no conto “A sereníssima República” que ele encontrou perfeitamente retratada a profissão de fé do Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa dos interesses do capital.

Lições do “Bruxo do Cosme Velho”, um de nossos maiores escritores, que permanecem na ordem do dia.

Táscia Souza

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