Epidemiologista alerta para 3ª onda de COVID-19 até junho após relaxamento em restrições no Brasil
Segundo especialista consultada pela Sputnik Brasil, a flexibilização das medidas de isolamento, o lento ritmo de vacinação e a chegada do inverno vão permitir novo avanço da pandemia no Brasil em 2021.
Diversos estados e municípios voltaram atrás em medidas de restrição de circulação no início de maio após uma nova estabilização no número de casos e mortes por COVID-19 no país.
Com a última atualização dos dados, no domingo (9), a média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 2.092. O número é 15% menor que a média de 14 dias atrás. A taxa indica uma tendência de estabilidade nos óbitos, o que incentivou o relaxamento das medidas por governadores e prefeitos.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a prefeitura da cidade liberou, na última sexta-feira (7), a circulação em praias, parques e cachoeiras em finais de semana e feriados e permitiu a reabertura de casas de espetáculos, com 40% da capacidade em locais fechados, entre outras flexibilizações.
Porém, uma média de mais de duas mil mortes por dia ainda está bem longe de ser baixa. Preocupados com a reabertura, muitos especialistas já preveem uma terceira onda de COVID-19 em 2021.
O surgimento de novas cepas de SARS-CoV-2, combinado ao lento ritmo de vacinação no país e à chegada de meses mais frios, pode ocasionar uma nova explosão de diagnósticos da doença entre o final de maio e junho.
É o que alerta a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Segundo ela, há o risco “bem concreto” de as taxas de transmissão do vírus voltarem a crescer, com a consequente alta nas hospitalizações para pacientes com COVID-19.
A especialista afirma que a redução nos números mais recentes não ocorreu devido a um controle da pandemia, mas apenas pela diminuição da circulação do vírus com as restrições de isolamento implementadas em abril.
“Não tivemos nenhum plano de expansão de testes, de testagem mais rápida para colocar as pessoas em isolamento. Reduzimos a transmissão, mas não tivemos investimento em melhorias para prevenir a transmissão”, disse Ethel Maciel em entrevista à Sputnik Brasil.
A epidemiologista explica que as taxas de vacinação do país ainda estão muito aquém do necessário para conter a disseminação do vírus. Ela ressalta que o mais importante são os números de aplicação da segunda dose, que garantem de fato uma imunização completa.
“A vacinação continua muito lenta, e o que conta é o esquema vacinal. Temos que olhar o percentual de pessoas vacinadas com a primeira e a segunda dose. Temos um percentual pequeno, e isso não vai impedir um nova onda”, avisou.
Até o último domingo (9), o país conseguiu imunizar apenas 8,38% da população com as duas doses. Ao todo, são 17.746.983 de pessoas que receberam as duas aplicações.
Enquanto isso, 35.327.845 (16,68%) que receberam a primeira dose ainda aguardam o momento de tomar a segunda.
“Com essas novas variantes, começaram a aparecer casos mais graves em pessoas mais jovens, que ainda não foram alvo de vacinação. Então, [a vacinação] não vai impedir [a terceira onda], porque ainda não conseguimos chegar a faixas etárias mais baixas no Brasil”, apontou.
A especialista alerta ainda para a chegada do inverno. O SARS-CoV-2 circula tanto no frio como no calor, mas com temperaturas mais baixas, os ambientes tendem a ficar mais fechados, o que facilita a transmissão.
“Como o vírus é transmitido pelo ar, os locais fechados, por conta do frio, acabam tendo uma transmissão maior. Acho que, no final de maio e no começo de junho, começaremos a ver os resultados dessas flexibilizações caminhando junto com nosso inverno”, disse Maciel.
Medidas para impedir uma 3ª onda
Para conseguir conter um novo avanço da pandemia no país, além de manter as restrições de circulação, a epidemiologista acredita que seria necessário vacinar ao menos dois milhões de pessoas por dia, ampliando a imunização até atingir todas as pessoas acima de 18 anos.
Mas ela lembra que, para chegar a esse patamar diário, o Brasil “depende de uma série de fatores, inclusive questões diplomáticas” para conseguir importar da China mais lotes de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo).
A especialista avalia que, com o atraso da chegada do insumo, o país corre o risco de paralisar a produção de imunizantes e, consequentemente, reduzir o ritmo de vacinação.
Entre outras medidas, Maciel sugere testagem em massa, rápido isolamento após a detecção de casos positivos e uma ampla campanha de informação sobre a pandemia.
“É a primeira vez que temos uma campanha de vacinação que não foi precedida por uma campanha de comunicação. As pessoas estão confusas, não estão conseguindo compreender o que é para fazer, e estamos tendo muitas barreiras para essa vacinação”, ressaltou.
A epidemiologista pede ainda atenção à campanha de vacinação contra a gripe, que ocorre paralelamente à imunização contra a COVID-19.
“Também precisamos ampliar essa cobertura, porque são vírus que estão circulando. Também vão levar à síndrome respiratória aguda grave”, disse.