Escola estadual de SP é avaliada como regular ou ruim por 70% dos estudantes
Segundo pesquisa do Instituto Data Popular feita para a Apeoesp, opinião é compartilhada por metade dos pais; 44% dos professores e 28% dos alunos disseram já ter sido alvo de violência em escolas
São Paulo – Sete em cada dez estudantes da rede estadual de São Paulo avaliam a qualidade das escolas como regular, ruim ou péssima e a maioria deles acredita que as instituições não cumprem seu papel de formar cidadãos, ensinar conteúdo e preparar para o mercado de trabalho. Entre os pais, 50% acham que as escolas estaduais são regulares ou insatisfatórias.
Os dados fazem parte da pesquisa Qualidade da Educação nas Escolas do Estado de São Paulo, divulgada hoje (24) pelo Instituto Data Popular. O levantamento foi encomendado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apoesp) e ouviu 2.100 entrevistados, sendo 700 professores, 700 pais e 700 alunos.
A falta de segurança foi o principal problema apontado. Ao todo, 57% dos professores, 78% dos pais e 70% dos alunos consideram sua escola violenta e 44% dos professores e 28% dos alunos disseram já ter sofrido algum tipo de violência nas instituições.
Ausência de professores, muito tempo ocioso não aproveitado para fins pedagógicos, número insuficiente de profissionais de apoio pedagógico, preconceito e desinteresse dos alunos foram outros problemas apontados pelos entrevistados.
Os professores argumentam que as faltas são justificadas pelo excesso de trabalho, o que também compromete a preparação das aulas e a correção de provas e trabalhos. Ao todo, 40% dos docentes complementam sua renda trabalhando em outras redes de ensino e metade deles leciona em mais de uma escola, segundo a pesquisa. Ao todo, 48% dos professores disseram que falta tempo para se preparar melhor para as aulas. Apenas 20% dos pais e 23% dos alunos consideraram o salário dos professores como bom ou ótimo.
A maioria dos entrevistados disse ser contra a progressão continuada nas escolas, porque entendem que os alunos passam de ano sem saber o conteúdo. Ao todo, 94% dos pais, 75% dos alunos e 63% dos professores são contra a medida.
“Lutamos pelo conceito correto de progressão continuada, que envolve um conjunto de atividades escolares de boa qualidade, e não apenas a avaliação”, disse a presidenta da Apoesp, Maria Izabel Noronha, durante cerimônia de lançamento da pesquisa. “Sem isso, o que ocorre é a exclusão postergada: o aluno que passou mas não aprendeu vai ser excluído lá na frente. Sem conhecimento ele não vai conseguir um bom trabalho nem uma boa remuneração. O sistema acaba frustrando o projeto de vida desse aluno.”
Em novembro do ano passado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou um plano de reforma da educação estadual, no qual faz o que considerou um “aperfeiçoamento” da progressão continuada e aumenta as possibilidades de reprovação. Até o ano passado, os alunos podiam ser retidos apenas nos 5º e 9º anos do ensino fundamental. Com a nova proposta, elas serão possíveis nos 3º, 6º e 9º anos.
“Se a mudança for focada apenas no reprova ou aprova ela não vai surtir surtir o efeito esperado. É necessário um conjunto de medidas para alcançar o desenvolvimento pelo desses meninos e meninas. Deve haver um processo constante de avaliação, mas que não pode ser apenas focada em aprovar ou reprovar”, avaliou Maria Izabel.
Entre os estudantes, 46% admitiram que já ter passado de ano sem saber a matéria, o que equivale a 720 mil jovens.”Não existe um responsável único por esse cenário. Ele é resultado de uma série de fatores, como falta de estrutura, falta de professor e falta de professores substitutos”, diz diretor do Data Popular, Renato Meirelles, durante o evento. “A escola não é a que os paulistas gostariam de ter.”
A participação dos pais e o interesse dos alunos também foram considerados insatisfatórios na pesquisa: apenas 26% dos professores afirmaram que as reuniões das escolas conseguem atrair um número significativo de pais. Somente 5% deles conhecem o projeto político-pedagógico das instituições de ensino. Os alunos atingiram uma média de faltas de cinco por mês.
“Todos concordaram que a escola de qualidade passa pelo preparo e pela qualificação do professor. É impossível falar em melhorar a qualidade da escola sem garantir formação de qualidade para o professor”, afirmou Meirelles. “Na opinião dos entrevistados, a escola atual é tecnológica, abre as portas para a comunidade, avalia os alunos com frequência e oferece atividades alternativas à sala de aula.”
Sobre as ações para melhor a qualidade do ensino, as opiniões se dividem. A maioria dos professores (42%) acredita que melhor infraestrutura e mais valorização dos profissionais são os principais caminhos para resolver os problemas. Já os alunos (50%) acreditam que mais atividades extracurriculares, cursos, palestras e eventos e uma mudança no método das aulas os motivariam mais.
Da Rede Brasil Atual