Investir da educação pelo desenvolvimento do Brasil enquanto nação, e não enquanto mercado
Em artigo publicado na semana passada no jornal “Folha de S.Paulo”, intitulado “Ensino técnico é insumo fundamental para o crescimento”, o engenheiro e professor da Fundação Getúlio Vargas Luís Alberto Piemonte cita experiências asiáticas sobre como o foco no ensino ajudou no crescimento das nações. Segundo ele, no Japão, a reforma priorizou o ensino público – que atende a 90% da população –, básico e técnico, bem como a remuneração concedida aos professores, 25% maior do que a média dos servidores públicos.
Na Coreia do Sul, os chamados “bons alunos” têm acesso a bolsas do Governo, que também incentiva a pesquisa, o que fez, conforme o artigo, com que o país crescesse 9% ao ano por mais ou menos três décadas. Agora é a China quem adota um sistema ainda mais duro e mais controverso, atrelando o progresso de professores e estudantes ao seu desempenho. Para os estudantes, há até segregação entre os que apresentam notas mais altas – e, portanto, podem estudar em escolas onde o Governo investe mais – e os que tiram notas menores.
O problema é que não se podem importar exemplos externos como se fosse possível trazer na bagagem toda a cultura, as formações anteriores, os conhecimentos diversos e todo o processo histórico de outra nação e simplesmente aplicá-los ao caso brasileiro. Comparações assim têm sido uma prática comum entre as diversas pessoas que “pensam” educação. É claro que experiências positivas devem ser estudadas, analisadas e levadas em conta, ainda mais no que diz respeito ao investimento na educação pública e na valorização dos trabalhadores e trabalhadoras. Todavia, algumas medidas devem ser avaliadas com muita crítica e parcimônia.
Investir e premiar aqueles que são “melhores” só faz acentuar a distância entre os “demais”. Várias foram – e ainda são, infelizmente – as tentativas de “premiar” as melhores escolas, estudantes e professores. A educação é dever do Estado e direito do cidadão. Entretanto, as ideias relativas a esse tipo de avaliação de desempenho do mérito individual de estudantes e professores reproduz as relações de poder e subordinação presentes no modelo capitalista.
Como o sistema econômico atual é excludente, ele “lava as mãos” da tarefa de educar todos igualmente, porque não está preocupado com a totalidade. O fracasso escolar é visto como uma questão individual, própria de cada aluno e seus problemas, ou culpa isolada de um determinado professor. A educação – e consequentemente suas formas de avaliação de desempenho – torna-se somente um meio para agilizar o desenvolvimento econômico, e não um compromisso com os cidadãos.
Num cenário onde os “melhores” alunos frequentam as “melhores” instituições e, num ciclo, essas têm cada vez mais investimentos em detrimento das demais, estão colocados dois modelos de escolas: aquelas que recebem recursos para serem transformadas em “centros de excelência” e aquelas que não recebem. Como ficam, então, os estudantes e professores das escolas nas quais se investe menos? E os profissionais que nelas se formam?
É claro que é preciso reconhecer o esforço individual; é mérito sim. O que não se pode é optar por premiar os que têm melhor desempenho no lugar de fortalecer a educação como um todo. Por isso, inclusive, a preocupação da Contee a respeito do Pronatec. É claro que o ensino técnico e profissional é imprescindível para um projeto de desenvolvimento para o Brasil, mas isso não pode ser sinônimo de escoamento de recursos públicos para a iniciativa privada. Além disso, é preciso refletir sobre qual tipo de estudante e profissional queremos formar, para atender qual tipo de interesse e a qual desenvolvimento brasileiro. Não podemos formar pessoas para atender o mercado; este não pode ser o orientador da formação.
O que o Brasil precisa é de fato investir na educação das crianças e jovens, visando a um desenvolvimento brasileiro sustentável, que o torne uma nação independente. Investir na pesquisa, na expansão e na qualidade da educação pública, na valorização do magistério e dos técnicos-administrativos, na diversidade cultural e nos exemplos que o próprio país pode oferecer. Precisamos investir em educação, sim, mas para atender as demandas brasileiras, e não as do mercado.
Cristina de Castro
Coordenadora da Secretaria de Comunicação Social da Contee