“Manter juro a 13,75% é sabotar a retomada econômica”, afirma Orlando

“Cenários interno e externo indicam que a Selic a 13,75% é injustificável”, acrescentou o deputado do PCdoB de São Paulo

Na segunda reunião de 2023, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (22), novamente manter a taxa Selic em 13,75%, patamar criminoso que derruba a economia brasileira.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou nas redes sociais que a manutenção da taxa nas alturas é “sabotar a retomada econômica” do país. “Os cenários interno e externo indicam que a Selic a 13,75% é injustificável. Manter é sabotar a retomada econômica”, acrescentou.

Tratam-se dos juros mais altos do mundo. Entre os juros atuais e a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no acumulado de 2022, em 5,60%, o juro real brasileiro é 8,15%.

Pelo quinto encontro consecutivo, o Copom optou por não mexer nos juros, contrariando o clamor nacional pela queda da taxa Selic. A decisão foi unânime tomada por um bando a serviço dos rentistas.

A Selic está neste patamar desde agosto de 2022, após altas sucessivas.

O país precisa crescer, mas a taxa atual de juros paralisa a produção, tira o emprego e joga a economia na recessão.

“PREOCUPANTE”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o comunicado do BC, após a manutenção dos juros é “preocupante”. Segundo o ministro, o Copom sinalizou que pode voltar a subir os juros.

“Eu considerei o comunicado preocupante. Nós mostramos que as projeções de janeiro estão se confirmando. O Copom sinaliza uma possibilidade de subida da taxa, que já é a maior do mundo”, criticou. “Daqui a pouco vai ter problema das empresas pra recolher impostos”, chamou a atenção Haddad.

CLAMOR POPULAR

O Copom, sob o comando do presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez ouvidos moucos para o clamor popular para iniciar a redução da taxa básica de juros, a partir da reunião desta semana.

O BC e o Copom só ouvem os especuladores, os banqueiros e os rentistas. Só é independente do governo. Segue as demandas do chamado mercado e do sistema financeiro.

Mesmo com as enormes pressões do governo e de economistas para que a taxa fosse reduzida, prevaleceu os interesses e a agenda do mercado, de que a taxa de juros seria mantida no atual patamar, ao menos na reunião concluída nesta quarta-feira. E como bem se sabe, o mercado é contra o povo.

No comunicado que acompanha a decisão, o Copom afirma que o ambiente externo se deteriorou desde a reunião de fevereiro, fazendo alusão ao fechamento dos bancos regionais dos Estados Unidos e a crise de liquidez do Credit Suisse. Sempre tem alguma “desculpa” para tentar justificar o injustificável.

“Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”, está escrito no comunicado do Copom. Essa crise dos bancos nos EUA seria motivo forte para reduzir os juros no Brasil, mas para o BC, escravo dos bancos e especuladores, é pretexto grosseiro para manter as taxas elevadas.

O Copom escreveu ainda que, em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantiveram resilientes e observa que a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista. Outra falsa alegação.

BC DEVE MANTER POLÍTICA AUSTERICIDA

O Banco Central não fez menção às chances de redução dos juros. Como de costume, o BC ameaçou com mais aumentos criminosos da taxa de juros e disse que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Leia o comunicado da decisão criminosa do Copom na íntegra:

“Desde a reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom), o ambiente externo se deteriorou. Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente.

Na mesma linha, as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* elevaram-se para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% em 2023 e 5,3% em 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,8%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023, 3,3% para o terceiro trimestre de 2024 e 3,0% para 2024. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por um lado, a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Comitê avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

*No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,25, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2023 e de 2024. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”

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