Mulheres palestinas contam sua história

Contee Conta mostra que resistência também é palavra feminina

Devido à invasão israelense a territórios palestinos e à extrema insegurança vivida por quem vive na região, a roda de conversa do Contee Conta desta última segunda-feira (18), foi ampliada. Em apoio a professora e tradutora Ruayda Rabah, que vive na Cisjordânia, contamos também com a participação solidária de Maysar Hassan, nascida de Jerusalém, naturalizada brasileira e integrante do movimento das mulheres palestinas.

O episódio, conduzido pela coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, Cristina Castro, e pela jornalista Táscia Souza, deu continuidade à programação especial do mês da mulher no Contee Conta. Começando de forma diferente, Maysar Hassan abriu o bate papo com uma carta aberta na qual pede o cessar fogo.

“Se eu não fosse palestina e muçulmana, eu queria ser. Que povo tão forte e de fé inabalável! Assistindo tudo de tão perto vejo Deus ser mencionado, vejo as pessoas mais solidárias do mundo, vejo jornalistas alegrando as crianças. E as crianças cuidando de si, uma da outra. Que pena quem não conhece a essência do povo palestino, a resiliência. Tenho orgulho de ser palestina”, expressou.

“São 75 anos de opressão, sofrimento por gerações que carregam dentro de si o desejo de um país livre. (…) Meu povo precisou morrer,para que o mundo enxergasse o povo palestino”. E denunciou: Os ataques covardes de Israel na Palestina [acontecem] há 75 anos mas nos últimos cinco meses sua intensidade tem sido desumana, um verdadeiro genocídio acontecendo em tempos de redes sociais, televisionado, fotografado, sem que nada nem ninguém consiga parar o Estado sionista de Israel.”

Após Maysar ler sua carta, a coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, Cristina Castro, contou que a luta pela Palestina livre acompanha a Contee desde a sua fundação. “A Contee sempre teve como bandeira de solidariedade, a liberdade da Palestina. A luta do povo palestino é exemplo de resistência, e é essa resistência que é a palavra feminina.”

A força da mulher palestina

“É muito importante que as pessoas conheçam a luta e a resistência da mulher palestina. É lógico que a luta de resistência da mulher palestina pode ter algo diferenciado da luta de outros povos, porque a Palestina vem sendo ocupada há décadas. Foi ocupada pela Turquia, pela Inglaterra e posteriormente pela força sionista, a mais cruel de todas. Porém, nenhuma mulher palestina considera sua dor maior ou menor que qualquer outra mulher neste mundo, seja ela indígena ou negra. Todas as mulheres palestinas sabem que a mulher é sempre a mais visada pela violência”, pontuou a professora e tradutora Ruayda Rabah.

A professora ainda ressaltou que a mulher palestina é uma mulher alegre, uma mulher que adora estar bem vestida, que gosta de cozinhar ou estar em festa. Só que, por razões além de suas vontades, elas tiveram que aprender a ser ainda mais fortes. A resistência não vem somente em manter a cultura, a religião ou manter a família em pé. Ela também foi feita de forma organizada, politizada e armada.

“Tivemos a resistência feminina armada, em 1967, quando Israel ocupou mais territórios palestinos. Tivemos 17 mil mulheres presas, pois eram elas que praticavam a resistência na época”, relatou Ruayda. “A mulher palestina era tão voltada para a política e para ensino que tivemos na Palestina, em 1873, uma primeira escola para meninas. A primeira escola para meninos só veio a existir em 1918, muitos anos depois. Quando aconteceu a ocupação sionista, essas mulheres que entraram para a escola já eram jornalistas, já eram advogadas ou médicas. Então cai por terra esses mitos de que vieram para este lugar para tentar civilizar uma população. Era uma população muito mais civilizada do que o colonizador, é por isso que eles tiveram tantos problemas com as mulheres na Palestina.”

Com isso, muitas mulheres foram mortas na resistência armada, mas essas mulheres acabam se tornando exemplo para as outras gerações e até hoje não se conseguiu acabar com a resistência da mulher palestina.

Obrigadas a resistir

A professora Ruayda contou que, dias atrás, um grande chefe religioso em Israel declarou que, se Israel tivesse matado mais crianças em 2014, eles teriam poupado dores de cabeça, pois as crianças que se mantiveram vivas em 2014 são as que estão resistindo hoje.

“Quando uma mulher de Gaza ouve uma declaração dessas, ela é obrigada a resistir, pois sabe que seu filho é o alvo. Quando uma mulher de Gaza escuta essa declaração, ela sabe que as crianças desaparecidas foram mortas, estão debaixo de escombros, ou foram sequestradas e logo em seguida mortas para serem retirados seus órgãos. Eu queria saber o que é mais grave, uma declaração dessas ou a resistência de uma mulher que quer sobreviver?”, questiona Ruayda.

“Em 1967, eu tive que sair da Palestina pelo que a Ruayda acabou de falar. Quando aconteceu a matança sangrenta e Israel estava avançando na Cisjordânia, ficamos com medo e então a gente se refugiou. Fico pensando nessas crianças que estão agora em Gaza”, relembrou Maysar Hassan.

Ela que, é vice-presidente da Sociedade Árabe Palestina/RS, explica que poucas pessoas sabem que essa guerra existe há 75 anos, que o povo palestino está esse tempo todo sempre sob apartheid e que não existe o direito de ir e vir. “Não se pode nem sequer se chamar de guerra, pois uma guerra é quando existe um soldado de um lado e um soldado de outro lado. Ali é contra o povo. E o objetivo do sionista é atingir as mulheres e atingir as crianças.”

Assista ao programa na íntegra

Vitoria Carvalho, estagiária sob supervisão de Táscia Souza

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