Resistência política e cultural: a relação do samba com o primeiro sindicato do Brasil
No Dia do Samba, pesquisadora Erika Arantes explica como operários e o ritmo se conectaram na zona portuária do Rio
“As pessoas que estão fazendo samba, elas também são trabalhadoras”
Nesta segunda-feira (2), comemorou-se o Dia do Samba. Símbolo de resistência, de cultura e de transformação, o ritmo é um patrimônio cultural imaterial do Brasil, surgido no início do século XX nas comunidades negras do Rio de Janeiro. E, também, no meio da luta dos trabalhadores que formaram o primeiro sindicato do Brasil.
“Ao estudar a história da classe operária, e mais especificamente dos trabalhadores portuários, uma categoria majoritariamente negra, a gente consegue perceber essa relação entre os trabalhadores, o movimento operário, o sindicato e o mundo do samba”, conta a pesquisadora Erika Arantes, autora de Porto Negro: Trabalho, Cultura e Associativismo dos Trabalhadores Portuários do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o século XX, em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda.
“Eu acho que existe uma separação na história, na historiografia mesmo. Sempre que a gente vai falar de movimento operário, a gente fala de trabalhadores brancos, trabalhadores livres. Sempre que a gente fala de samba, a gente está falando de cultura, a gente está falando de uma outra coisa. E, na verdade, as pessoas que estão fazendo samba, elas também são trabalhadoras. Essas coisas são juntas, elas fazem parte do mesmo universo. Não existe essa separação”, explica ela.
Segundo Erika, da resistência dos trabalhadores negros que ganhavam a vida no porto, nasce a Sociedade de Resistência dos Trabalhadores de Trapiche e Café, o primeiro sindicato do Brasil. E esse sindicato, que é conhecido como Companhia dos Pretos, tem uma relação muito grande com a história do samba.
“Por conta do próprio trabalho, por conta dessa necessidade de se manter perto do trabalho, no sentido de se precisar ser chamado para realizar um trabalho em algum navio que tinha acabado de chegar no porto, essas pessoas permaneciam, elas se reconheciam e viviam muito as ruas, os bares da zona portuária”, explica.