Se não negociar, o ensino superior vai parar!
No Dia Nacional de Mobilização e Luta convocado pela Contee, Fepesp e sindicatos do estado de São Paulo deram a mais contundente resposta à postura antissindical dos empresários do setor e aprovaram greve a partir de 5 de setembro
Na noite de ontem (17), professores/as e técnicos/as administrativos/as que trabalham em instituições de ensino superior em São Paulo decidiram, em assembleias realizadas simultaneamente em todo o estado, entrar em greve a partir de 5 de setembro se as instituições de ensino não apresentarem proposta de recuperação de defasagem salarial e condições de trabalho adequadas diante da expansão do ensino remoto.
Foi a mais contundente resposta dada nesse Dia Nacional de Mobilização e Luta convocado pela Contee, que denunciou a articulação nacional dos representantes dos oligopólios educacionais (que também avançam cada vez mais sobre o ensino básico), que, por todo o Brasil dominam as mesas de negociações coletivas e dizem não a toda e qualquer reivindicação salarial e/ou de padrão mínimo de condições de trabalho.
“Professores e auxiliares demonstraram claramente estarem fartos do abuso patronal”, afirmou Celso Napolitano, coordenador da comissão de negociação dos sindicatos da Fepesp. “Não seremos humilhados por uma classe patronal gananciosa e ciosa de manter seus lucros à custa de achatamento salarial de seus profissionais”.
Desde março, os representantes das mantenedoras no estado comparecem às sessões de negociação, mas se recusam a reconhecer a defasagem nos salários provocadas pela inflação, a conceder o reajuste e a discutir as mudanças em condições de trabalho com a aplicação extensiva do ensino remoto. Desrespeitam ainda, há quase seis meses, a data base de 1° de março, em que, durante anos, houve renovação negociada de convenções coletivas de trabalho e aplicação de reajustes salariais.
Quebrar a intransigência patronal
No último dia 15, a Contee enviou e divulgou carta de apoio aos sindicatos da base da Fepesp pela situação enfrentada. Na mensagem, a Confederação reafirmou a “convicção de que o desfecho do processo negocial de 2022, apesar de todas as pedras interpostas pelos representantes patronais, fazendo com que ele se arraste há mais de seis meses, será também exitoso de igual modo que os anteriores, ainda que tenham de recorrer ao movimento grevista que, neste momento, parece se apresentar como único meio e modo de quebrar a intransigência patronal”.
Sobre a decisão das assembleias, Celso Napolitano deu um alerta aos patrões e à sociedade. “Queremos avisar a sociedade que os professores estão se organizando para parar em todo o Estado. É um aviso prévio. As mantenedoras têm esse prazo para negociar seriamente. Damos esse prazo para que estudantes, famílias não sejam prejudicados, sem poder se planejar”, avisou o presidente da Fepesp. “O professor é uma categoria consciente, paralisa as aulas, mas não o faz de repente. Queremos negociar, e as mantenedoras tem 20 dias, até o dia 5, para sair do impasse.”
Mobilização vitoriosa
O coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, avaliou como vitorioso o Dia Nacional de Mobilização e Luta realizado em todo o País. “Temos que comemorar esse dia. Ocorreram várias manifestações, de diferentes tipos, em vários locais do Brasil. Os trabalhadores e trabalhadoras compraram essa ideia. É o primeiro passo que demos rumo a mobilizações nacionais”, destacou.
Em diversos estados e cidades, os sindicatos da base da Contee promoveram diferentes ações, como carro de som da porta dos estabelecimentos de ensino, panfletagem e postagens nas redes sociais. Na cidade do Rio de Janeiro, professoras e professores fizeram um ato público pela valorização do trabalho docente no Largo do Machado. Em Brasília, o protesto realizado pelo Sinproep-DF e pelo Saep-DF foi na porta do MEC (Ministério da Educação), retomando a campanha “Educação não é mercadoria” e cobrando também providências quanto aos escândalos de corrupção na pasta.
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Em Alagoas, o Sintep-AL convocou paralisação. Em Juiz de Fora (MG), além de panfletagem, carro de som do Sinpro-JF rodou durante toda a quarta-feira convocando os docentes do setor privado para assembleia na próxima quarta-feira (24), também com indicativo de paralisação.
“Aos companheiros e companheiras que assumiram essa grande manifestação, essa grande ação nacional, lembro que foi a primeira, mas que começamos a construir uma saída para a educação privada em escala nacional”, disse Gilson. “É um rumo que estamos construindo para o futuro. Vamos na luta.”
Táscia Souza, com informações da Fepesp
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