Seminário Internacional reforça unidade sindical e define agenda para enfrentar desafios globais
Diante da crise democrática, da mercantilização da educação e da precarização do trabalho, sindicatos e educadores de diversos países reforçaram uma mensagem clara: é hora de lutar juntos. O Seminário Internacional, encerrado na tarde desta quinta-feira (10), reuniu lideranças sindicais da América Latina e da Europa para debater os impactos das transformações globais e definir estratégias comuns de enfrentamento. O evento resultou na formulação de uma agenda internacional de lutas e ressaltou a urgência de fortalecer a articulação sindical regional e global diante dos avanços da extrema-direita e do neoliberalismo.
Contexto geopolítico
Fernando Rodal, membro da CEA, abriu a última mesa de debate destacando a importância de compreender o cenário geopolítico atual e o papel dos trabalhadores da educação — tanto do setor público quanto do privado — na construção da unidade e da resistência. Ele lembrou que o mundo mudou desde a ordem estabelecida após a Segunda Guerra Mundial e que o sindicalismo precisa adotar uma visão prospectiva e estratégica.

Defesa coletiva da educação pública
Vicent Mauri, representante do Foro Iberoamericano por la Educación da Espanha, ressaltou a necessidade de uma resposta firme e conjunta frente aos ataques à educação pública:
“Nossa resposta deve ser ativa, unificada. A educação não se mantém isoladamente na sala de aula, mas se protege organizando-nos em sindicatos, confederações locais, regionais e mundiais.”
Para Mauri, a defesa da educação vai além das condições de trabalho e representa uma luta ética e política por justiça social, solidariedade e por um projeto de sociedade mais justo, democrático e inclusivo.

Fortalecimento da integração regional
Maria Cassala, do Sindicato Argentino de Docentes Privados (SADOP), destacou a integração regional como ferramenta fundamental de articulação e resistência para os trabalhadores da educação privada no Cone Sul.
“Os blocos regionais são blocos de poder e, do ponto de vista dos trabalhadores, blocos contra-hegemônicos que podem somar forças, articular lutas e construir alternativas ao modelo neoliberal que desvaloriza a educação e os educadores.”
A criação da Coordenadora de Educação Privada — envolvendo sindicatos da Argentina, Chile, Uruguai e Brasil — foi apontada como um passo estratégico para consolidar um espaço plural, democrático e comprometido com a defesa da educação como direito garantido pelos Estados.

Denúncia da mercantilização e precarização no setor privado
Claudia Lártiga, do Sindicato Nacional de Trabajadores y Trabajadoras de la Enseñanza Privada do Uruguai (SINTEP), denunciou a desigualdade estrutural no setor, evidenciando a crescente mercantilização da educação na região. Ela alertou para a precarização das condições de trabalho gerada por essa lógica e reforçou a necessidade de uma atuação sindical articulada para reverter esse quadro.
“Enfrentamos um modelo de desigualdade estrutural que transforma a educação privada em um espaço de hipermercantilização, onde a maximização dos lucros implica precarização laboral. Nossa luta não é só por salários e condições dignas, mas por uma disputa cultural e política: por uma educação como direito, não como mercadoria.”
Claudia também destacou a importância do intercâmbio regional para fortalecer estratégias comuns e construir um movimento sindical capaz de proteger direitos e garantir dignidade aos trabalhadores da educação.
Plebiscito popular e mobilização sindical
Manoel José Porto, Coordenador-Geral do Sindicato Nacional dos(as) Servidores(as) Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), falou sobre ações atuais do movimento sindical, destacando o Plebiscito Popular, realizado de julho a 7 de setembro, e tradicionalmente marcado pelo Grito dos Excluídos. As duas primeiras perguntas do plebiscito tratam da justiça tributária e da jornada 6X1, que Manoel classificou como desumana.
“Queremos que quem ganha mais de R$ 50 mil pague mais imposto, e quem ganha até R$ 5 mil não pague nada” e “A jornada 6X1 retira o convívio dos trabalhadores com suas famílias nos fins de semana.” A votação ocorre presencialmente em sindicatos e associações, e também remotamente.
Manoel ainda chamou atenção para o contexto político: “Temos parlamentares do nosso lado, poucos, mas bons. Mas a maioria age contra o povo.”
Finalizou com a metáfora: “Somos pequenos rios que, juntos, fluem para o mar. Precisamos fortalecer a unidade latino-americana e caribenha.”

Panorama dos desafios do movimento sindical
Cristina Castro apresentou uma síntese das discussões, destacando o avanço da extrema-direita no Brasil e em outros países, que compartilham estratégias autoritárias, neoliberais e antidemocráticas. Ela mencionou projetos ultraconservadores na educação, como a “escola sem partido” e a militarização das escolas, além da desvalorização do magistério, desmonte da escola pública e ataques ao pensamento crítico, à ciência e à cultura.
Cristina também alertou para os impactos econômicos dessas agendas, como reformas trabalhistas, uberização, precarização e perda de direitos. A organização sindical, especialmente no setor privado, enfrenta dificuldades devido ao medo e à rotatividade dos trabalhadores.
Sobre as tecnologias, ressaltou desafios como automação, teletrabalho e vigilância digital, que isolam os trabalhadores e enfraquecem a ação sindical. Enfatizou a necessidade de reconstruir a confiança nas entidades sindicais, investir em formação política e atuar estrategicamente nas redes sociais para combater a desinformação e o avanço da extrema-direita.
Diagnóstico e propostas do seminário
Novo cenário internacional
- Ascensão da direita e extrema-direita em diversos países (Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil, Le Pen na França, Orbán na Hungria, Milei na Argentina).
- Estratégias comuns da extrema-direita: antissindicalismo, antiinstitucionalismo, defesa do neoliberalismo agressivo e ataques a direitos civis, sociais e trabalhistas.
- Disputa de narrativas nas redes sociais e o papel da desinformação.
Reflexos na educação
- Avanço de projetos ultraconservadores.
- Desvalorização da função docente.
- Privatizações e desfinanciamento da educação pública.
- Precarização do trabalho docente.
- Ataques à autonomia pedagógica e ao pensamento crítico.
- Redução de espaços democráticos em escolas e universidades.
Impactos na economia e no mundo do trabalho
- Reformas trabalhistas, terceirização e informalidade.
- Desmonte da legislação trabalhista e ataques à previdência.
- Uberização e intensificação da exploração.
- Crescente desigualdade, concentração de renda, pobreza e desemprego estrutural.
- Fragilização da organização sindical com dificuldades nas negociações coletivas, filiação e arrecadação.
Novas tecnologias e desafios sindicais
- Inteligência Artificial, automação e desemprego tecnológico.
- Plataformas digitais e precarização do trabalho (iFood, Uber, Amazon).
- Dificuldade de organização de trabalhadores digitais.
- Vigilância no ambiente de trabalho.
Precisamos responder
Como os sindicatos podem usar a tecnologia a seu favor?
Desafios e caminhos para o movimento sindical
- Reconstrução da confiança com a base.
- Comunicação estratégica: presença nas redes sociais e combate à desinformação.
- Formação política crítica dos trabalhadores.
- União entre sindicatos, movimentos sociais e setores progressistas.
- Defesa dos direitos humanos e da democracia.
- Internacionalismo: articulação entre entidades sindicais globalmente.
Como seguir
O cenário é desafiador, mas os sindicatos têm papel fundamental como resistência. A unidade é essencial e reforça a luta coletiva e a formação crítica. É importante aprofundar o debate sobre as transformações mundiais, especialmente nas relações entre Sul Global e Norte Global.
Está prevista a realização de colóquios no próximo período para dar sequência ao trabalho do seminário sindical.
Campanha e frases de impacto sugeridas
- A luta internacionalista é necessária porque o ataque neoliberal é mundial.
- Independência de classe nunca indiferença.
- Unidade e valorização do trabalho docente no mundo contemporâneo.
- Multipolaridade na geopolítica e economia e a defesa da paz.
Documento do setor privado e moções de solidariedade
Um dos destaques do evento foi a apresentação de um documento conjunto de sindicatos do setor privado da educação no Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Chile), que propõe a criação de uma coordenação regional permanente. A ideia é fortalecer uma frente sindical contra-hegemônica, capaz de enfrentar os retrocessos impostos pelo neoliberalismo e pela mercantilização da educação.
Também foram apresentadas e aprovadas moções políticas, como:
- Solidariedade à ex-presidenta argentina Cristina Kirchner, alvo de perseguição política.
- Repúdio ao bloqueio econômico dos Estados Unidos contra Cuba.
- Defesa da paz e oposição a todas as formas de guerra.
As moções serão avaliadas no XI Conatee, maior evento deliberativo da Contee, que acontece de 11 a 13 de julho.
Luta Permanente
O Seminário Internacional deixou claro que os desafios enfrentados pelos trabalhadores da educação são globais e demandam uma resposta articulada entre sindicatos e movimentos sociais. Frente à ofensiva da extrema-direita e ao avanço do neoliberalismo, a unidade regional e internacional aparece como estratégia central para a defesa dos direitos, da democracia e da educação pública.
Com a criação de coordenações permanentes e a agenda conjunta de lutas, o movimento sindical dá sinais de fortalecimento, mesmo diante de um cenário adverso. A continuidade do diálogo e da mobilização, por meio de colóquios e ações conjuntas, será fundamental para enfrentar as transformações e garantir avanços.

Por Romênia Mariani




