USP escreve uma das páginas mais vergonhosas de sua história e demite Alysson Mascaro
Um dos maiores intelectuais marxistas do País foi alvo de uma campanha de cancelamento, a partir de denúncias anônimas que jamais foram comprovadas
A Universidade de São Paulo escreveu uma das páginas mais vergonhosas de sua história nesta quinta-feira (11), ao decidir pela demissão do jurista e filósofo Alysson Leandro Mascaro, que foi alvo de acusações anônimas e jamais comprovadas. Um dos maiores intelectuais marxistas do Brasil, Mascaro foi alvo de uma campanha difamatória liderada pelo site estadunidense The Intercept, que promoveu seu cancelamento a partir de denúncias relacionadas à sua sexualidade. Sem ter tido oportunidade de defesa, e alvo de acusações infundadas, Mascaro irá recorrer ao Poder Judiciário para garantir seus direitos e demonstrar a farsa do processo administrativo.
A decisão da Congregação da Faculdade de Direito ocorre no mesmo momento em que Mascaro retoma sua atuação pública com força, celebrando o lançamento de Crítica do Cancelamento, livro publicado pela Contracorrente em parceria com a Editora 247. A obra, que analisa os mecanismos de destruição moral na sociedade contemporânea, tornou-se símbolo da resistência do jurista diante do que apoiadores classificam como uma campanha de lawfare acadêmico.
Lançamentos lotados no Rio e em São Paulo marcam a volta pública de Mascaro
Na noite desta quarta-feira (10), Mascaro lotou a tradicional livraria Leonardo da Vinci, no centro do Rio de Janeiro, durante o lançamento de Crítica do Cancelamento. O evento reuniu centenas de leitores, intelectuais e figuras públicas, consolidando um dos encontros literários mais expressivos do ano. Quinze dias antes, o mesmo livro já havia sido lançado com grande sucesso em São Paulo, na Casa de Portugal.
Foi a primeira aparição pública de Mascaro em uma livraria desde o início da campanha de cancelamento, e seu discurso emocionou o público. O filósofo afirmou: O que esperavam de mim? Que eu desabasse e morresse. Não esperavam que o morto voltasse.” Ele prosseguiu: “Do mal que fazem contra nós, é deste mal que se faz a cura. Fizeram um processo de cancelamento, mas erraram o alvo. Produzi uma profunda reflexão sobre a natureza do cancelamento e abraçarei ainda mais pessoas.”
Mascaro ainda evocou a célebre frase de Giordano Bruno:“Mais vai custar a vocês a decisão de me condenar do que a mim ouvi-la.”
Ao final, foi ovacionado pelos presentes.
Solidariedade e respaldo de diversas áreas
O evento reuniu nomes importantes do meio jurídico, intelectual e jornalístico, entre eles Nélio Machado, Rubens Casara, Jorge Folena, Hildegard Angel, Denise Assis, Regina Zappa, André Constantine, Reynaldo Aragon, Ricardo Nêggo Tom, além dos psicanalistas Luciano Elia e Mônica Silva e do professor Luiz Felipe Osório.
A advogada Fabiana Marques destacou, em sua fala, a completa ausência de provas no processo interno da USP, ressaltando que as denúncias seguem anônimas e sem qualquer fundamentação material.
Como surgiu a campanha de cancelamento
O processo teve origem há cerca de um ano, quando o site estadunidense The Intercept publicou uma reportagem baseada em denúncias anônimas e sem provas, insinuando assédio sexual. Nenhuma acusação foi formalizada na esfera criminal, e nenhuma vítima de abusos sexuais se identificou até hoje.
Mesmo amplamente criticada pela falta de rigor, a publicação desencadeou um processo administrativo na USP, culminando na demissão anunciada nesta quinta-feira pela Faculdade de Direito, que se livra de um professor abertamente marxista e reconhecido pelo público por seus méritos acadêmicos.
Mascaro, intelectual marxista abertamente crítico às estruturas do capitalismo, tornou-se alvo de perseguição ideológica e também de ataques homofóbicos após a divulgação da reportagem. O episódio é visto como parte de uma ofensiva internacional contra pensadores de esquerda, fenômeno que recentemente atingiu nomes como o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o ex-ministro Silvio Almeida.
O livro e sua crítica ao cancelamento
Em Crítica do Cancelamento, Mascaro interpreta o cancelamento como uma nova forma de controle social próprio do capitalismo contemporâneo. Para ele, sob o verniz de justiça, o cancelamento transforma lutas emancipadoras – de gênero, raça e sexualidade – em mecanismos de domesticação liberal, anulando seu potencial transformador.





