Estudantes ocupam a Paulista pela revogação do “Novo Ensino Médio” e denunciam a “precarização da educação”

Milhares de estudantes denunciaram a precarização causada pelo chamado Novo Ensino Médio. “Essa reforma tem formado os jovens para o desemprego onde cada um é um ‘suposto empreendedor’”, criticou o presidente da UMES, Lucca Gidra

Estudantes e professores realizaram atos pela revogação do “Novo Ensino Médio” em diversas cidades brasileiras. Em São Paulo, os estudantes ocuparam a Avenida Paulista para denunciar os retrocessos causados pela mudança na grade curricular que privilegia “itinerários” sobre como fazer brigadeiro e aulas de empreendedorismo, ao invés de melhorar a qualidade de ensino no país.

Sob a palavra de ordem “Ou revoga essa reforma ou paramos o Brasil”, os estudantes de centenas de escolas da capital paulista foram às ruas junto a professores e lideranças do movimento social em defesa do fim da lógica neoliberal na educação pública. A mobilização nacional pede a revogação do chamado Novo Ensino Médio (NEM), convertido em lei durante o governo Temer (Lei Federal 13.415/2017) e que vem sendo implantado gradualmente pelos estados desde 2022.

O modelo prevê que o ensino médio seja organizado em duas partes. Assim, 60% da carga horária dos três anos é comum a todos os estudantes, com as disciplinas regulares. Os outros 40% são destinados às disciplinas optativas dentro de grandes áreas do conhecimento, os chamados itinerários formativos. Os estudantes denunciam que a redução das aulas de disciplinas regulares precarizou ainda mais o ensino.

O ato foi organizado pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Também se somaram à mobilização professores da cidade de São Paulo, além de lideranças universitárias e do movimento social.

REFORMA AGRAVOU PROBLEMAS DA EDUCAÇÃO

O presidente da UMES-SP, Lucca Gidra, denunciou o impacto da mudança curricular para os estudantes. Segundo ele, o Novo Ensino Médio (NEM) agravou os problemas que já existiam nas escolas.

“A mobilização de hoje mostra a indignação dos estudantes que estão sofrendo na pele, essa reforma do ensino médio. Essa reforma evidenciou problemas que já existiam na educação, mas agravou esses problemas. A gente já sofria antes com os estudantes saírem das escolas sem saber o básico. A gente já sofria antes com a falta de professores, com a escola sem estrutura básica, com os professores sem uma melhor qualificação, sem uma melhor formação”, disse Lucca.

O líder estudantil afirma que a mudança, que foi gerada durante o governo Temer e agravada ao longo do período Bolsonaro, é um projeto complementar à reforma trabalhista e da previdência que precarizaram o mercado de trabalho brasileiro. “Essa reforma tem formado os jovens para o desemprego onde cada um é um ‘suposto empreendedor’”, disse.

“Essa reforma do Ensino Médio é plano de um projeto político que veio lá do Temer, para completar a reforma trabalhista e a reforma da previdência depois com Bolsonaro, que desregulou totalmente o mercado de trabalho. É pra esse mercado de trabalho que essa reforma do Ensino Médio tem formado os jovens, tem formado a galera pra ingressar nesse mercado de trabalho, no mercado de trabalho da precarização, do desemprego, onde cada um é um suposto empreendedor”, denunciou Lucca.

ESTUDANTES SAEM SEM SABER O BÁSICO

A presidente da UBES, Jade Beatriz, o Novo Ensino Médio foi implementado sem qualquer diálogo com a sociedade e após ser implementada, “aconteceram muitas coisas que já prevíamos que aconteceria, como a agravação da desigualdade social entre os estudantes de escola pública e escolas privadas”

“Hoje, os estudantes de escolas privadas têm aula em grandes laboratórios tecnológicos, específicos e equipados para a questão, enquanto nós, das escolas públicas, estamos com aulas de como fazer brigadeiro caseiro, fora várias outras coisas que constam nos itinerários informativos”, criticou.

“Nós entendemos que a reforma além de tudo de ruim que nos proporcionou, é um agravante da desigualdade social e o aumento da evasão escolar, porque nós precisamos entender que as escolas não tem estrutura pra conseguir receber a reforma do ensino médio, é preciso de laboratórios e uma boa estrutura e ainda existem escolas sem banheiro no prédio”.

“É importante dizer que agrava a desigualdade social e aumenta a evasão escolar. Por isso, precisamos revogar a reforma do ensino médio e apresentar um novo modelo de ensino, debatido por estudantes, professores e profissionais da educação, que faça sentido e seja condizente com a realidade brasileira”, ressaltou Jade.

AO INVÉS DE PREPARAR PARA O VESTIBULAR, AULA DE BRIGADEIRO

“Como a gente vai se preparar para a universidade, para o vestibular, para o mercado de trabalho se a gente está preocupado em fazer brigadeiro? Enquanto as escolas particulares estão preparando para pegarem as melhores vagas das universidades”, criticou a estudante do 2º ano do ensino médio, Júlia Oliveira, de 17 anos.

A estudante, que também faz parte da diretoria da UMES-SP, reivindica que uma nova base curricular seja feita a partir de um debate amplo. “A gente sabe que o ensino médio anterior, antes dessa reforma, não era lá essas coisas. Todo mundo reclamava. Com certeza, um novo ensino médio de qualidade deveria ser feito com diálogo com os alunos, com a Secretaria de Educação, os professores, quem está no dia a dia da escola. Deveriam ter aulas mais dinâmicas, conteúdos precisos sobre o vestibular e sobre o cotidiano de fato”, disse Julia.

“Com essa reforma, o estudante de escola pública não vai ter chance de passar em um vestibular, essa reforma complica muito a vida dos estudantes, principalmente para os de baixa renda”, criticou a presidente do grêmio da Etec Albert Einstein, Gabriela Batista de Carvalho.

Pedro Carlos, estudante de Ensino Médio da capital, considera que “a reforma só vai piorar a vida do estudante. A gente precisa de uma reforma na educação, mas não é essa não. Até os professores estão reclamando. Eu quero passar em um vestibular, mas com essa reforma ai, eu não sei não. Acho que está tudo muito confuso, ninguém está se adaptando”.

Segundo ele, a mudança do ensino pode aumentar ainda mais a evasão escolar “olha, não sei não, mas acho que vai aumentar, eu mesmo me sinto desmotivado para ir para a escola”.

Os professores Raphael e Vó Malu Vó, do colégio Plínio Negrão, em Santo Amaro, declararam que a reforma tira “os sonhos dos estudantes”.

“Esse ato é tão importante quanto respirar, ela [a reforma] tira todas as possibilidades na vida de um estudante. Dos estudantes de escola pública, tira os sonhos, eles só vão poder olhar para baixo. Os alunos só estão tendo duas aulas semanais de português, de matemática, enche as aulas com esses itinerários, que não tem nada”.

Segundo eles, dar aula neste novo sistema tem sido “um caos”.

“Um caos, é confuso. E os professores têm que comprar uma parte do material para dar as aulas e outra parte tem que implorar para as escolas darem”.

POR UM ENSINO LIGADO AO DESENVOLVIMENTO

O presidente da UMES também criticou a redução de disciplinas prioritárias em detrimento dos chamados “itinerários”, para os quais não existem sequer professores preparados para a aplicação dos conteúdos.

“A gente quer um Ensino Médio que articule o desenvolvimento do país e que de condições da gente ingressar na universidade, consiga ter empregos de qualidade e consiga ajudar a construir um grande país que é o tamanho do Brasil”.

“Não adianta também, a gente mudar o currículo e voltar pro antigo. Nossa proposta é que tenha uma nova formação que seja conversada com os estudantes, e também que não falte políticas de investimento, porque não adianta nada mudar o currículo e não ter investimento para educação. Então essa é a pauta que os estudantes estão levando para as ruas no dia de hoje, nessa grande mobilização que está acontecendo aqui na Avenida Paulista e em todo o Brasil”, ressaltou Lucca.

NÃO HÁ JUSTIFICATIVA PARA MANTER O NEM

Além dos estudantes, representantes dos movimentos ligados à Educação também participaram do ato na paulista Daniel Cara, da Campanha Nacional da Educação, apontou que a “reforma do Ensino Médio é parte de um conjunto de reformas neoliberais”.

“Ela está vinculada a emenda a Constituição 95/2016, está vinculada a reforma trabalhista, a reforma da previdência. Ou seja, o objetivo da reforma é conter a expansão e a qualidade da educação, que tem um custo, mas também é formar o cidadão neoliberal, que na verdade é um anti-cidadão, que acredita que é empreendedor de si mesmo, uma pessoa que não vai fazer a luta, que não vai querer transformar o Brasil. E a reforma do Ensino Médio, portanto, significa o fim da possibilidade do Brasil ser um país soberano. Ela tem que acabar imediatamente, não tem justificativa o governo federal segurar essa situação da reforma do Ensino Médio”, disse.

Daniel ressalta que o governo Lula não tem obrigação de manter este modelo neoliberal de ensino.

“O presidente Lula não tem que ter compromisso com as políticas neoliberais e a gente não pode colaborar com a idéia de que o presidente Lula vai cometer estelionato eleitoral, porque ele foi eleito para mudar, para refazer tudo que o neoliberalismo implementou no Brasil com Temer e Bolsonaro. Isso significa obrigatoriamente revogar tudo aquilo que Temer e Bolsonaro fizeram”, pontuou.

ATOS POR TODO O PAÍS

Além de São Paulo, também foram realizados atos contra o Novo Ensino Médio em outras 50 cidades brasileiras. Milhares de estudantes foram às ruas pela revogação da reforma do ensino.

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