Celebrando a cultura e a literatura surda

No Brasil, o Dia Nacional dos Surdos é comemorado em 26 de setembro. A data, que também marca o início da Semana da Pessoa com Deficiência Auditiva, é um momento para refletir sobre os direitos e a inclusão da comunidade surda, além de promover o respeito à sua cultura e identidade linguística.

Uma maneira poderosa de honrar essa riqueza cultural é explorar obras literárias e cinematográficas que retratam o universo surdo com sensibilidade e autenticidade.

A literatura surda é um campo rico e diversificado, composto por obras escritas por autores surdos e textos que exploram a realidade dessa comunidade. Um exemplo importante é o livro “Surdos Que Ouvem”, de Paula Pfeifer, uma obra autobiográfica que narra a trajetória da autora, desde a descoberta da surdez até a superação dos desafios da inclusão social. O livro é uma oportunidade para compreender as nuances e as complexidades enfrentadas por pessoas que vivem entre o mundo ouvinte e o mundo surdo.

Outro destaque é “A Educação de Surdos: A Aquisição da Linguagem”, de Ronice Müller de Quadros. A obra oferece uma visão ampla sobre a história e as lutas da comunidade surda no país, sendo uma ferramenta essencial para educadores e interessados em conhecer mais sobre essa trajetória. O livro apresenta os princípios do trabalho com pessoas surdas, em especial no âmbito escolar, tais como aspectos sociais e culturais de uma proposta educacional, língua de sinais e aspectos inerentes à sua estrutura e aquisição da língua portuguesa.

O cinema também tem sido um espaço de expressão e visibilidade para a comunidade surda. Filmes como “O Som do Silêncio” (2019) e “No Ritmo do Coração” (2021) ganharam destaque internacional ao retratarem personagens surdos com profundidade e respeito.

Em “O Som do Silêncio”, o baterista Ruben, interpretado por Riz Ahmed, precisa lidar com a perda abrupta da audição, levando o público a uma jornada introspectiva sobre aceitação e adaptação.

Já em “No Ritmo do Coração”, a protagonista Ruby, uma adolescente ouvinte filha de pais surdos, vive o dilema de seguir seu sonho musical enquanto equilibra a responsabilidade de ser a intérprete da família. Ambos os filmes não apenas trazem à tona a experiência surda, mas também questionam os estereótipos e desafios enfrentados diariamente.

A Libras (Língua Brasileira de Sinais) é um elemento central da identidade cultural surda no Brasil. Ela é fundamental para a comunicação e a expressão das pessoas surdas e deve ser respeitada e valorizada como qualquer outra língua.

O reconhecimento oficial da Libras como língua, em 2002, foi um marco importante, mas a luta por uma educação bilíngue, em que a criança surda tenha um desenvolvimento cognitivo-linguístico como o verificado nas crianças ouvintes e possa ter acesso a duas línguas, a Língua de Sinais e o português, ainda não se consolidou e merece atenção redobrada.

Celebrar o Dia Nacional dos Surdos é, portanto, reconhecer a diversidade linguística e cultural do Brasil. É uma oportunidade para aprender, ouvir (com os olhos) e apoiar as lutas por inclusão e igualdade, seja por meio de livros que contam histórias reais e inspiradoras ou de filmes que desafiam preconceitos e abrem novas perspectivas. A arte tem o poder de unir mundos e construir pontes, fazendo com que o silêncio se transforme em diálogo e compreensão.

Por Vitoria Carvalho, estagiária sob supervisão de Romênia Mariani

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