Alunos reclamam que faculdade troca aula presencial por a distância

Estudantes da Faculdade de Tecnologia Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), estão descontentes com uma série de mudanças implantadas após a recente aquisição da instituição pelo Grupo Anhanguera Educacional, o maior do País. Eles acusam a faculdade de ter mudado a grade curricular, introduzido disciplinas a distância em cursos presenciais, e reclamam de salas superlotadas e falta de professores.

Matrícula online de Agfa mostra cursos como presenciais, mas ele afirma que aulas estão sendo dadas a distância

Agfa da Lima Silva, de 24 anos, aluno do terceiro semestre de Gestão da Tecnologia da Informação, afirma que duas das sete disciplinas de seu curso agora são a distância e terão tutoria presencial apenas uma vez por mês. Isso significa que o jovem não tem mais aulas na faculdade às sextas-feiras e, às quintas, sai duas horas mais cedo. Antes, as aulas presenciais ocorriam nos cinco dias da semana das 19h até as 22h35. “Tem gente que não gosta desse tipo de ensino e eu havia escolhido esse curso exatamente porque era presencial”, diz o estudante.

Já a turma de Logística, que tinha apenas uma matéria ministrada a distância em 2011, passou a ter duas disciplinas nessa modalidade. “Quando entrei na Anchieta, tinha certeza da força do curso e de que seria uma boa graduação. Me sinto bastante lesado”, reclama Bruno Vinicius de Almeida Pinto, 21 anos, aluno do quarto semestre do curso e presidente do Diretório Acadêmico. O estudante que antes tinha a metade de uma noite livre, agora não precisa ir à universidade às sextas-feiras e sai mais cedo às quintas. Quando há tutoria presencial, o professor avisa e os alunos vão à faculdade.

Em Recursos Humanos, os alunos do terceiro semestre tiveram apenas uma aula da disciplina Legislação Trabalhista desde o dia 6 de fevereiro. “Não tem professor suficiente para cobrir todas as turmas, então eles fazem um rodízio entre as classes e completam as aulas com atividades a distância. O resultado é que a gente tem aula presencial uma vez por mês, no máximo”, conta Isabele Gonçaves Luiz, 29 anos, aluna da turma.

Os estudantes também reclamam de superlotação nas salas, o que segundo eles também é consequência da venda da instituição. Alunos de outras faculdades e universidades da região adquiridas pela Anhanguera foram encaminhados para a Faculdade Anchieta. “Minha sala tinha 35 alunos até o ano passado e agora está com mais de 50. Há turmas com mais de 100 alunos”, relata Silva.

Procurada pela reportagem, a Anhanguera nega que os cursos da Faculdade Anchieta tenham aulas a distância ou que enfrentem falta de professores. “Todas as disciplinas do curso estão sob a responsabilidade de professores presencias”, diz o grupo em nota enviada ao iG. A instituição afirma ainda que nestes cursos há atividades organizadas e disponibilizadas no ambiente virtual de aprendizagem e que cumpre a legislação vigente.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), 20% da carga horária total de um curso presencial podem ser ministrados com atividades a distância, desde que as avaliações sejam presenciais. O MEC destaca que a oferta de parte do curso na forma semipresencial deve estar expressa no projeto pedagógico do curso (documento entregue ao ministério e que deve estar acessível aos estudantes) e não pode ser adotada de forma aleatória pela instituição. Caso os estudantes considerem que há descumprimento da legislação, podem protocolar uma denúncia no Ministério para que seja aberto um processo de verificação.

Estudantes da Faculdade Anchieta protestam em frente à instituição contra mudanças na grade curricular e falta de professores (21/3)

Demissões

O presidente do Sindicato dos Professores do ABC (Sinpro-ABC), José Jorge Maggio, analisa que combinar aulas semipresenciais com presenciais é uma forma de diminuir gastos e prática comum nas unidades do Grupo Anhanguera. “Como é uma instituição com fins lucrativos e ações na bolsa de valores, quanto menos gastar com professores, maior o lucro. É uma lógica mercantilista, uma mercantilização da educação”, critica Maggio.

Segundo o Sinpro-ABC, desde dezembro de 2011, foram homologadas 384 demissões de professores do Grupo Anhanguera. Destes 65% eram mestres e doutores. Levantamento da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), afirma que 1,5 mil professores foram demitidos pelo grupo no fim do ano passado.

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Fonte: IG

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