Manifestações contra o golpe e pelo ‘Fora Temer’ tomam as ruas do país
Milhares de manifestantes de diversas cidades brasileiras saíram às ruas ontem (31) apara protestar contra o golpe que se consumou no Brasil com a votação no Senado, por 61 votos a 20, do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. As mobilizações, espontâneas ou convocadas por movimentos sociais e estudantis, ocorreram nas capitais e também em cidades do interior. Em algumas cidades foram registrados choques violentos com a polícia.
Em São Paulo, os manifestantes se reuniram em dois pontos da Avenida Paulista. Quando a passeata estava na Rua da Consolação no cruzamento com a Rua Maria Antonia, bombas da PM foram lançadas contra os manifestantes. A coordenadora da Secretaria-Geral da Contee, Madalena Guasco Peixoto, também coordenadora-geral em exercício (o coordenador-geral eleito, Gilson Reis, só tomará posse no dia 3 de outubro, em função da legislação eleitoral) chegou a cair e machucar a perna devido à truculência da ação da PM para reprimir a manifestação.
A depender da sinalização dada pelo presidente ilegítimo, Michel Temer, em seu discurso, no qual afirmou que não irá tolerar ser chamado de golpista, a repressão deve aumentar. Contudo, não será suficiente para parar os protestos. ‘‘A mensagem aberta ao povo hoje é a seguinte: toda vez que ganhar nas urnas alguém que não queremos acabaremos com o seu mandato. Isso é golpe! Fim do Estado de Direito, fim da democracia. Mas nos aguardem golpistas! Não daremos trégua e Temer não governará um dia sequer sem ser chamado de golpista, estaremos nas ruas, no Parlamento, no fortalecimento dos movimentos sociais!!!!’’, escreveu a diretora da Contee em seu perfil no Facebook.
O coordenador da Secretaria de Previdência, Aposentador e Pensionistas, Ademar Sgarbossa, participou do ato em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. Lá, a violência policial também foi grande, além do racismo: um advogado negro foi espancado e outros três. manifestantes foram presos. Vídeo da Mídia Ninja flagrou a violência policial.
Outras manifestações
No Rio de Janeiro, a concentração foi na Cinelândia, onde os ativistas fizeram discursos contrários ao processo que levou à saída definitiva de Dilma. manifestantes deixaram a Cinelândia e partiram pela Rua Santa Luzia, onde fica a sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Em frente ao prédio da entidade, os ativistas fizeram uma pausa e discursaram contra a posição da Firjan pelo impeachment de Dilma. Participaram centrais sindicais, entidades estudantis e grupos da sociedade civil, além de pessoas sem ligação com esses grupos.
Em Brasília, a Polícia Militar reprimiu com violência a manifestação para protestar contra a confirmação do golpe. Bombas de efeito moral, gás de pimenta, prisões arbitrárias e espancamentos deram a tônica da atuação policial.
Em Belo Horizonte, os manifestantes se concentraram na Praça Rômulo Paes, se dirigiram à Praça Raul Soares e depois seguiram para a Praça Sete. Ao logo do percurso, os presentes usavam palavras de ordem para pedir a saída do presidente Michel Temer e para classificar de golpe o processo que levou ao afastamento da petista. Também foram feitas projeções em edifícios com a frase ‘‘Fora Temer’’.
Em Salvador, a manifestação ocorreu, inicialmente, em frente a um shopping da cidade, local onde decidiram seguir em passeata pelas ruas da capital baiana. Com faixas e cartazes, os manifestantes disseram não ao golpe e negaram se sentir representados por Michel Temer. Eles prestaram apoio a Dilma Rousseff em palavras de ordem, músicas e, também, em cartazes e faixas.
Em Porto Alegre, milhares de pessoas tomaram as ruas. A concentração começou por volta das 18h na Esquina Democrática, no Centro Histórico da capital gaúcha. Os manifestantes portavam cartazes denunciando o que chamam “golpe contra a democracia” e exigindo a saída do presidente da república, Michel Temer, empossado hoje à tarde após a confirmação do impeachment no Senado. Por volta das 19h, o grupo deixou a Esquina Democrática e iniciou uma caminhada em direção ao Parque Farroupilha. Na Avenida João Pessoa, diante da sede do PMDB em Porto Alegre, um grupo que carregava um caixão escrito ‘’democracia’’ incendiou o objeto. Alguns manifestantes mais exaltados depredaram o portão que dava acesso à sede do partido.
Foi quando aconteceu a primeira intervenção da Brigada Militar (BM). Os policiais dispararam uma bomba de gás em frente à sede do PMDB, no meio da multidão. Foi o princípio de uma correria generalizada, mas que durou poucos minutos. Instantes depois, os manifestantes estavam novamente reunidos e seguiram em caminhada.
A tensão chegou ao clímax por volta das 20h15, na Avenida Ipiranga, quando o grupo se aproximou do prédio da RBS, empresa de comunicação afiliada da Rede Globo. Os homens da BM formaram um cordão de isolamento ao redor do edifício e dispararam mais bombas de gás na multidão. Alguns manifestantes queimaram pneus no meio da avenida e tentaram revidar com pedras arremessadas contra os policiais.
No Recife, manifestantes e representantes de diversas entidades civis ocuparam por cerca de duas horas uma das principais vias do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães, percorrendo, em seguida, outro importante corredor viário da cidade, a Avenida Conde da Boa Vista, até a Praça do Diário.
‘‘Esse golpe tem um recorte muito específico, machista, misógino, pelo fato da presidenta ser mulher. Mas vem também como um ataque aos direitos do povo. Esse tempo em que o governo interino tem governado só demonstrou a intenção de retirar direitos conquistados. E a partir de agora a gente vai ter um grande retrocesso nos direitos básicos, trabalhistas, por exemplo. Não é um golpe só na presidenta Dilma, mas nos direitos do povo brasileiro’’, disse Ingrid Farias, integrante da Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais.
Da redação, com informações da Rede Brasil Atual
Fotos: Ademar Sgarbossa