Acampamento Terra Livre: 20 anos de luta e resistência indígena no Brasil

“O progresso nas questões indígenas é resultado de uma luta contínua e incansável por parte dos próprios povos, destacando que nada foi concedido de forma fácil ao longo da história” ressaltou a vice-presidente do Cimi, Alcilene Bezerra, em entrevista à Contee

O Acampamento Terra Livre (ATL) celebra duas décadas de mobilização e resistência em prol dos direitos indígenas no Brasil. Em uma entrevista exclusiva para a Contee, a vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Alcilene Bezerra, discutiu o significado e a importância desse movimento histórico.

Integrante da nova diretoria do Cimi desde setembro do ano passado, Alcilene compartilhou insights valiosos sobre a trajetória do ATL e os desafios enfrentados pelos povos indígenas brasileiros, cuja luta pela terra e pela preservação de sua cultura é fundamental não apenas para eles, mas para toda a sociedade brasileira.

Solidariedade e resistência

No ATL deste ano, estima-se que mais de 8 mil pessoas indígenas participaram, vindas de várias regiões do Brasil. Este acampamento histórico, que completa duas décadas, é um momento para avaliar a trajetória do movimento e desafiar o atual governo a cumprir suas promessas de demarcação de terras e respeito aos direitos indígenas.

Segundo Alcilene, é muito mais do que um evento anual; é um espaço de visibilidade das lutas comuns dos povos indígenas. É onde as comunidades se reúnem para trocar informações, histórias e fortalecer seus laços de solidariedade e resistência. Com ênfase na formação política, o ATL desempenha um papel crucial na conscientização e mobilização das comunidades indígenas em sua luta por terra, território e direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988.

Durante essas duas décadas, o ATL contribuiu significativamente para dar visibilidade à diversidade pluricultural do Brasil, representada pelos aproximadamente 300 povos indígenas existentes no país. No entanto, apesar dos avanços alcançados, os desafios persistem, especialmente diante da atual conjuntura política.

Foto: Cimi

Desafios enfrentados

Ao discutir a recente reunião da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), Alcilene expressou preocupação com o fato de que apenas duas das quatro terras indígenas previstas foram homologadas, destacando a lacuna entre as promessas políticas e a realidade enfrentada pelos povos indígenas.

Ela também ressaltou os desafios políticos enfrentados pelos povos indígenas, incluindo a influência da bancada ruralista e a necessidade de apoio contínuo para garantir os direitos territoriais dos povos indígenas no Brasil. “O progresso nas questões indígenas é resultado de uma luta contínua e incansável por parte dos próprios povos, destacando que nada foi concedido de forma fácil ao longo da história. Nunca veio nada pronto para os povos indígenas no Brasil”, afirmou Alcilene, enfatizando que cada avanço conquistado até o momento foi resultado de uma intensa mobilização e resistência por parte das comunidades indígenas. No entanto, ela expressou preocupação com a falta de avanços significativos na demarcação de terras nos últimos anos, apesar das garantias constitucionais.

Importância da educação

Sobre a importância da educação na luta indígena por terras, Alcilene destacou que a escola, quando chegou às comunidades indígenas, inicialmente visava à integração dos indígenas à sociedade nacional. No entanto, ao longo do tempo, as comunidades perceberam a importância de uma educação escolar que valorizasse suas culturas e tradições, fortalecendo sua identidade e sua capacidade de luta por direitos.

“A educação contribui para fortalecer um movimento indígena organizado a partir de suas bases, formando guerreiros e guerreiras em suas escolas”, ressaltou Alcilene. Ela destacou que a educação indígena desempenha um papel fundamental na conscientização e na luta por terras, territórios e políticas públicas para todas as comunidades.

Foto: Cimi

Direito à terra e acesso a direitos

Sobre o Acampamento Terra Livre, Alcilene enfatizou que sua principal pauta é a demarcação de terras, que é crucial para garantir não apenas o direito à terra, mas também o acesso à saúde, à educação e à preservação das vivências culturais das comunidades indígenas.

Questionada sobre a segurança oferecida aos povos indígenas após a demarcação das terras, Alcilene reconheceu que muitas comunidades ainda enfrentam desafios significativos, especialmente devido à invasão de territórios por madeireiros, garimpeiros e outros invasores. Ela destacou que é responsabilidade do governo federal proteger os territórios indígenas, garantindo a segurança e o bem-estar das comunidades.

Alcilene enfatiza que a luta indígena não depende apenas do presidente da República, mas também da atuação da Câmara e de uma sociedade engajada. Apesar dos obstáculos, ela expressa esperança no fortalecimento contínuo do movimento indígena e na conquista progressiva de seus direitos.

Foto: Cimi

Vitoria Carvalho, estagiária sob supervisão de Táscia Souza

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