Construção de rede de comunicação e combate aos monopólios devem caminhar juntos

Construir novas formas de comunicação e regular a mídia no Brasil. Para representantes da Rede Brasil Atual (RBA), da TVT, do jornal Brasil de Fato e da Revista Fórum esses são os caminhos para garantir uma comunicação mais democrática no Brasil.

Em uma mesa na tarde desta terça-feira (9), durante o segundo dia do Encontro Nacional de Comunicação da CUT (Enacom), um dos membros do grupo de planejamento editorial da RBA, Paulo Salvador, acrescentou a esses pilares a necessidade de ampliar a conscientização da sociedade sobre o papel fundamental que a comunicação exerce.

“Nós devemos o tempo todo conversar com nossos trabalhadores para mostrar que os veículos têm posição. E não devemos ter vergonha de lutar pela regulação, como fizemos com  a energia, o transporte e outros setores.”

Em sua intervenção, Salvador também ressaltou a importância do papel que o movimento sindical deve exercer nesse debate.

Papel do movimento sindical

“Vamos usar o imposto sindical pra pagar despesas ordinárias e não vamos investir nada na comunicação? Em nossos veículos temos que falar das nossas histórias, dos nossos artistas”, defendeu o diretor da RBA.

Em um vídeo enviado ao encontro, o diretor de Comunicação da TVT, Valter Sanches, ressaltou a necessidade de os movimentos sociais enxergarem a mídia progressista como propriedade de todos, inclusive na produção de conteúdo.

“A construção de uma TV como a nossa tem de ser feita pelo conjunto da classe trabalhadora, com uma produção colaborativa de conteúdo”, disse.

Também diretora da TVT, Flávia Silva destacou que, diante dos custos, a dificuldade não é colocar a programação no ar, mas fazer com que permaneça.“Mais do que criar rede, o difícil é mantê-la. O que não deixa de ser desafiante”, pontuou.

Mais ousadia

Para o presidente da Associação Brasileira de Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de Comunicação (Altercom) e editor da Revista Fórum, Renato Rovai, se não houver mais ousadia, o Brasil não avançará na elaboração de um marco regulatório e os veículos ligados aos movimentos sociais sempre enfrentarão imensas barreiras para fazer o contraponto aos monopólios.

“Temos que entrar nesse jogo com um pouco mais de radicalidade, porque do jeito que as coisas estão hoje vamos acabar com um governo de partidos de esquerda à frente, mas sem ter construído quase nada na democratização das comunicações. E quanto aos avanços que ocorreram, foram a despeito desses governos protagonizados principalmente,  pelos sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e dos Bancários de São Paulo.

Também blogueiro, Rovai afirmou que transformar o processo de produção, distribuição e consumo de informação exige planejamento, projeto político e dinheiro. “Não é fazendo blog e colocando site no ar que estamos disputando a rede.”

Verbas nas mãos do monopólio

Ao abordar a distribuição de verbas publicitárias oficiais e novamente criticar o governo por destinar 51% dos valores, em 2011, às Organizações Globo, portanto, à manutenção da concentração da mídia, Rovai defendeu que uma boa alternativa para democratizar a destinação de recursos seria direcionar a publicidade somente para campanhas oficiais.

“Defendo que não exista verba para ninguém, esse seria um bom debate. Governo não tem que fazer publicidade, tem que investir em comunicação pública, campanha de vacinação, falar sobre a dengue, o HIV, a violência contra a mulher. Deve produzir campanha educativa, de interesse social, e ter veículos onde a sociedade possa ter participação”. Por fim, Rovai enalteceu a necessidade de a Central ir além do movimento sindical e liderar um movimento para estruturar os veículos progressistas.

“A CUT tem obrigação de estimular outros veículos de comunicação fora da sua rede. Os sindicatos são o que há de mais forte nos movimentos sociais, então, por que cada sindicato não assina duas, três, quatro revistas do nosso campo, ao invés dede assinar quem não coloca luta social no centro dos debates?”, provocou.

Bater de frente com o monopólio

Editor-chefe do jornal Brasil de Fato, Nilton Viana, endossou a cobrança de Renato Rovai por ousadia ao demonstrar, na prática, como é possível enfrentar a velha mídia em seu terreno quando há criatividade.

Em maio, o Brasil de Fato também será distribuído semanalmente, de maneira gratuita, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, com perspectiva de lançar em Brasília e Belo Horizonte. Com tiragem de 500 mil exemplares, terá um formato mais popular e enxuto, para concorrer com publicação como o Metro, porém, sob um olhar de esquerda.

Para Viana, a transformação da comunicação no país exige que as publicações superem a vaidade dos dirigentes e mirem num jornalismo combativo e popular.“Porque, no fundo, todos querem a mesma coisa: um Brasil justo, solidário e socialista.”

CUT continua na luta

Ao final do dia, a Central apresentou o Plano Nacional de Comunicação, que tem como base quatro eixos: políticas públicas de comunicação, consolidação da Rede CUT, formação e os 30 anos da entidade.

Externamente, o grande desafio é intensificar a luta em defesa de um marco regulatório para as comunicações, por meio da campanha do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), “Para Expressar a Liberdade – Uma Nova Lei para um Novo Tempo”. O objetivo é fazer com que, em todo o país, a Central recolha 500 mil assinaturas em sua base para um projeto de emenda popular.

Internamente, o objetivo é fazer com que as CUTs estaduais se empoderem e coordenem esse debate nos estados; dar continuidade ao processo de sites das estaduais, ramos, escolas sindicais e entes cutistas que ainda não estão integrados à rede;fortalecer a rádio CUT e dar seguimento à TV CUT Web, em parceria com a TVT, e produzir um programa de TV para veiculação em canal aberto nacional. O jornal impresso também passará a englobar um espaço maior para a produção regional.

Da CUT

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