Freitas denuncia como a lógica tecnicista atinge a educação

O professor Luiz Carlos de Freitas, docente titular aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi quem conduziu, nesta quinta-feira (24), o terceiro debate do ciclo preparatório para o décimo Congresso Nacional da Contee (10° Conatee). O tema foi o desmonte da educação no Brasil, que, segundo ele, “é a manifestação de uma série de fatores que estão no âmbito da crise do sistema capitalista, que teve início nos anos 1970 e vem se agravando”.

“O desmonte não é mero vandalismo, mas uma remontagem. Uma forma de conceber uma atualização do próprio Estado frente à crise — e o Estado é uma expressão do sistema capitalista. Desde 2019, nosso problema é Bolsonaro, mas não só ele. Mesmo com sua saída, estaremos nos confrontando com uma série de dispositivos que estão sendo incluídos no sistema.”

Para ele, esse processo traz algumas características da remontagem, como o neotecnicismo digital (herdeiro do tecnicismo dos anos 80), uma pedagogia sobre o que, quando e como professores e estudantes devem fazer. “Nos anos 90, o neotecnicismo colocou o controle da escola através de avaliações de larga escala, induzindo a escola a ter determinados conteúdos e fixar o que ocorreria em seu âmbito”, explicou. “Agora, na versão digital, mercantiliza as próprias relações sociais, inclusive a relação professor-aluno, e a meritocracia, aprisionando a escola dentro da ideologia meritocrática. O indivíduo é colocado como responsável por sua posição no mercado. Esses dois movimentos são demandas da crise do capitalismo e precisam ser examinados nessa lógica. O objetivo final desse processo é retirar a educação do âmbito do Estado, com a privatização.

Freitas também abordou aspectos da crise do capitalismo. Na análise, apontou que o projeto neoliberal atual propõe essa lógica da concorrência e meritocracia, atendendo à necessidade de uma mão de obra flexível no momento de crise. “A liberdade é privatizada como um fenômeno individual, não social. São fortalecidas as normas tecnicistas nas escolas, com a introdução de plataformas de aprendizagem e sistemas digitalizados de controle dos envolvidos na educação, sob domínio de grandes corporações internacionais”, destacou.

“Os trabalhadores criativos são transformados em produtores de conteúdo. Os professores são desqualificados, na medida em que a profissão é padronizada, e são facilmente substituíveis. Tanto o acompanhamento do ensino quanto o comportamental passam a ser realizados através de plataformas. Essas plataformas vão embutir as desigualdades existentes na sala de aula, e não as resolver. Os alunos com maiores facilidades de aprendizado ficarão ainda mais distanciados dos demais.”

Confira a íntegra da exposição:

O próximo e último debate do ciclo preparatório para o 10° Conatee, realizado com o apoio do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES), acontecerá no próximo dia 8 de julho e tratará sobre conjuntura política, com Walter Sorrentino e Tarso Genro.

Por Carlos Pompe, com colaboração de Táscia Souza

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