Motorista de assessor de Lira relata à PF como era a rotina de pagamentos do esquema
Informações das transações bancárias eram anotadas em planilha e registradas em mensagens de celular, mas motorista reforça que não fazia ideia da origem do dinheiro
O motorista Wanderson Ribeiro Josino de Jesus, que presta serviço há 5 anos para o ex-assessor parlamentar Luciano Cavalcante, homem de confiança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)
Luciano é alvo de investigação da PF (Polícia Federal) sobre fraude na compra superfaturada de kits de robótica para escolas de Alagoas.
O motorista Wanderson de Jesus contou detalhes da tarefa dele: além de dirigir, fazia pagamentos e depósitos em espécie a destinatários indicados por Cavalcante.
Ele contou ainda que as informações das transações bancárias eram anotadas em planilha e registradas em mensagens de celular, mas reforça que não fazia ideia da origem do dinheiro.
DESVIOS DE RECURSOS DO FNDE
Segundo o jornal O Globo, Wanderson de Jesus foi um dos alvos de operação de busca e apreensão deflagrada pela PF em 1º de junho. A medida buscava apurar indícios de desvios de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), destinados a 43 municípios de Alagoas para a aquisição de kit de robótica para escolas públicas.
Segundo a investigação, a fornecedora do equipamento chegou a cobrar de prefeituras R$ 14 mil por produto após comprá-lo por R$ 2.700 em São Paulo. O esquema, de acordo com o inquérito na PF, gerou prejuízo de ao menos R$ 8,1 milhões para os cofres públicos.
“O dia que [os policiais] vieram aqui, tinha comigo R$ 150 [mil]. Aí tinha R$ 40 mil no porta-luvas, que era o pagamento que eu tinha que fazer. E tinha dentro da mochila [outros R$ 110 mil, no porta-malas]. De quem era a mochila? Do Luciano. Eu nem sabia que estava lá a mochila dele, eu não posso abrir a mochila dele”, disse o motorista.
A PF encontrou no endereço de Wanderson anotações de pagamentos que indicavam datas, valores, destinatários e o nome ao qual cada item estava atrelado.
ANOTAÇÕES COM NOME DE “ARTHUR”
Ao lado de registro de R$ 100 mil estava o nome “Arthur”, sem mais detalhes. Em outro, com data de 15 de abril e valor de R$ 30 mil, também aparece “Arthur”, também sem especificações. Há ainda o valor de R$ 3.652,00 associado a hotel luxuoso e ao nome “Arthur”, em 17 de abril.
Segundo relatório da PF, o motorista afirmou a agentes da PF que as anotações eram “pagamentos que realiza a mando de Luciano [Cavalcante]”, como se sabe, homem de confiança de Lira.
“Tem que pagar aluguel, tem que pagar isso. Eu que pago. Sou prestador de serviço. Tem áudio [no celular apreendido pela PF], tem tudo”.
“Anota isso aqui.” Então, não tem como dizer que eu que fui lá e paguei [por minha conta]. Porque ele [Cavalcante] fala “Isso é Arthur, é Arthur”. “Eu não sei se é Arthur Lira”, afirmou Wanderson. E acrescentou: “Eu nunca apaguei conversa minha com o Luciano, porque às vezes “anota isso, anota aquilo”. “Aí eu anoto”, disse o motorista.
“ÁUDIOS E MAIS ÁUDIOS”
Agora o governo tem a “bala de prata” contra Lira. A investigação mais explosiva da PF, que envolve o braço direito do presidente da Câmara dos Deputados, promete subir ainda mais de temperatura. Quem conhece os detalhes da apuração garante que existem áudios e mais áudios comprometedores de conversas entre os investigados.
KITS DE ROBÓTICA PARA ESCOLAS DE AL
A PF enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal), a investigação sobre fraudes e desvios de R$ 8 milhões na compra de kits de robótica para escolas de Alagoas com verbas do FNDE.
O inquérito atinge aliados de Arthur Lira, que não foi alvo da primeira fase da investigação.
Um deles é o assessor Luciano Cavalcante, auxiliar de Lira que estava lotado na liderança do PP da Câmara e foi exonerado após a operação. Os policiais encontraram anotações manuscritas de série de pagamentos a “Arthur”.
Os registros somam cerca de R$ 265 mil, como revelou a revista Piauí, em reportagem publicada no último domingo (25): “Investigação da PF sobre assessor de Arthur Lira descobre onze pagamentos para ‘Arthur’”.