O depósito do ensino
*Vítor Andrade
O conceito de depósito é amplo. Depósito pode ser um local destinado à reserva de alguma coisa ou objeto, ou simplesmente um lugar separado, reservado, onde se deseja colocar algo de pouca importância, ou que deva ser isolado, ou pode também ser um lugar de por algo de grande valor ou importância.
A escola está parecendo um depósito; é lá que eu deposito diariamente meus filhos. Mas de qual depósito estamos falando? É um lugar onde eu o deixo por que tenho que trabalhar e não tenho com quem deixar? Um lugar que deixo para ter sossego em casa? É um lugar onde eu quero que ele vire uma pessoa digna? É um processo que todos têm que passar? Ou é um lugar no qual quero depositar meu tesouro?
Professores não podem assumir papel de pais, até mesmo porque muitos têm seus filhos, mas todos os dias se deparam com dezenas de tesouros depositados em suas mãos, e estes por sua vez merecem um tratamento diferenciado. Quando há acompanhamento escolar em casa, o depósito fica mais seguro, a estudante fica confiante, o professor terá mais tempo para abordar mais coisas, trazendo sempre algo novo, pois terá menos dúvidas para sanar em sala de aula. Entretanto, não adianta os pais depositarem a função de acompanhamento escolar nas mãos de um reforço escolar, ele deve ser apenas uma complementação, ou simplesmente depositar os filhos nas mãos dos psicólogos, psiquiatras, e achar que a solução de problemas estão em remédios e depositar neles valores e soluções que só o ninho familiar pode dar.
A sociedade deve depositar sua confiança nos professores, e depositar confiança não é o mesmo que depositar dinheiro no banco e confiar no gerente e esperar um lucro depois. Depositar confiança no professor é acreditar que o futuro só será melhor se ele estiver bem, e a escola estiver sadia; não é apenas de boa remuneração que o professor necessita, precisa também que as pessoas confiem nele. O professor precisa que os pais façam a tarefa de casa, não a tarefa que o professor passa para seu filho fazer em casa, e sim a tarefa de cunho social, de regras básicas de educação.
O professor não pode ser um almoxarife que trata os alunos como peças no depósito, e sim um lapidador, um ourives que transforma pedras em joias preciosas. É preciso depositar nos filhos conceitos básicos, bom-dia, boa-noite, com licença , chamar pelo nome, respeitar o professor, o colega, o próximo. Hoje alunos, amanhã homens de bons costumes, esses sim serão os lucros e resultados obtidos com o tempo; hoje depositamos todas as nossas forças neles, e precisamos de pais, alunos, professores, Estado, todos envolvidos na árdua tarefa de construção social. Vamos construir um mundo melhor, mas comece em sua casa; não vamos deixar para outros fazerem o que nós mesmos podemos fazer.
Vítor Andrade é professor de História
Pós Graduado em História da Maçonaria
Diretor do Sindicato do Professores dos Estabelecimentos Particulares do DF