Pesquisa revela que 20% das crianças e adolescentes paulistanos têm medo da polícia
São Paulo – Pesquisa lançada hoje (23) pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope Inteligência, indica que 20% das crianças e adolescentes com idades entre 10 e 17 anos têm medo da polícia na capital paulista. Essa condição foi mencionada em questionário espontâneo, sobre do que tinham medo na cidade. Além disso, a nota dada por eles para o tratamento das forças de segurança à população foi uma das mais baixas do estudo: 4,3, em uma escala de zero a dez. A percepção é pior entre os jovens de classe média baixa, e das classes D e E: 3,9.
O Índice de Referência em Bem-Estar no Município (Irbem) procurou identificar o nível de satisfação de crianças e adolescentes quanto à vida na capital paulista. Foram ouvidas 805 jovens, de todas as classes sociais, sendo: 59% da classe C, 34% da classe B e 7% da classe A. E com a seguinte distribuição regional: 37% moradores da zona leste, 7% da zona oeste, 3% do centro, 18% da zona norte e 35% da região sul. Do total, 52% eram homens e 48% mulheres, sendo ainda 34% de etnia branca, 41% parda e 22% pretos ou indígenas.
Além do medo da polícia, as crianças e adolescentes paulistanos têm muito medo da “violência em geral”. O item foi mencionado por 56% delas. Outros 61% têm medo de assaltos. Ser vítima de racismo ou preconceito foi relatado como uma preocupação para 17%. Em relação à percepção geral de proteção e segurança, a nota média dada por eles foi de 5,1, na mesma escala de zero a dez.
O coordenador executivo da Rede, Maurício Broinizi, espera que a pesquisa ajude a perceber o equívoco de propostas como a redução da maioridade penal. “Não podemos criminalizar adolescentes que mal tiveram a atenção que merecem e que está garantida no ECA”, afirmou.
Os pesquisadores também questionaram os jovens sobre equipamentos públicos existentes próximos de suas casas. E os dados são pouco animadores. Na maior cidade do país, 13% das crianças e adolescentes não identificaram nenhum equipamento de lazer, como praças e parques, sendo a pior situação no extremo sul da cidade, onde ficam os distritos de Parelheiros, Marsilac e Grajaú.
No caso de espaços específicos, a situação é ainda pior: 82% não têm teatro próximo de sua casa, 71% nenhuma biblioteca e 65% não têm cinema. A situação melhora no que diz respeito à saúde, com 92% deles identificando uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) próxima de casa.
O estudante Rodrigo Hermogenes, de 16 anos, destacou que não basta ter uma casa de cultura no bairro, por exemplo, mas que é preciso ouvir os desejos e anseios dos jovens, senão o espaço vai ser inútil. “Precisa ser oferecido pro jovem o que ele procura, devem ser atendidos os desejos. Não é a casa de cultura que está no lugar errado e por isso está vazia. Não adianta oferecer só panificação ou pintura em pano de prato. Quero fazer teatro, violão, grafite”, afirmou.
O secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, comprometeu-se a levar os resultados da pesquisa e as impressões registradas pelos jovens presentes ao lançamento para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). “É muito claro que nós, enquanto governo, devemos oferecer atividades culturais adequadas aos desejos dos jovens. E em toda a cidade, não só nos bairros com melhor estrutura. Isso deve nortear as nossas ações na prefeitura”, afirmou.
A escola foi o único equipamento universal em todos os locais de moradia. Do total de entrevistados, 94% estudam em escolas públicas. No entanto, 6% dos entrevistados disseram estar fora da escola, sem ter completado o ensino médio.
Já o acesso à internet, item mais destacado pelos adolescentes quanto à ocupação do tempo livre, ainda tem 9% deles excluídos do acesso. Desses, 21% pertencem às classes mais baixas e 14% são negros. Nessa situação, a escola pública contribui muito pouco, já que somente 4% dos jovens acessa a rede de computadores a partir do estabelecimento de ensino. Dos que possuem acesso à internet, somente 52% têm computador em casa e 76% acessam pelo telefone celular.
Em relação ao consumo, 53% das crianças e adolescentes disseram já ter ficado chateados por não poder comprar algo que vem numa propaganda, sendo que 32% sempre ou quase sempre querem comprar algo que veem em comerciais.
O coordenador do Grupo de Trabalho sobre Crianças e Adolescentes da Rede Nossa São Paulo, Ranieri Pontes, reafirmou a posição da entidade contra a redução da maioridade penal e destacou que o artigo 227 da Constituição Federal define que é dever da família, do Estado e da sociedade garantir os direitos de crianças e adolescentes. “O que quer dizer prioridade absoluta? É colocá-los em primazia para atenção e socorro, nas políticas públicas, e na destinação de recursos relacionadas a eles. A pesquisa reconheceu que eles tem voz. E também devem ter vez”, afirmou.