Sinpro-Rio: Docência e adoecimento mental – questões pontuais

Quando podemos dizer que um professor/a vive um adoecimento mental? Quando ela/ele nos relata que mal tem tempo para comer, se exercitar, descansar, viver as coisas que ama com tempo para o ócio, tão importante para a nossa vida.

Precisamos ter direito de viver com tranquilidade, diversão, harmonia, respeito e dignidade para que possamos ter uma saúde mental em equilíbrio.

Pelo fato de sermos trabalhadores/as, não devemos e não podemos deixar de pensar e exercitar, no nosso cotidiano, um estado de saúde de qualidade.

O contexto da precarização das relações de trabalho dos/as professores/as, incluindo vários tipos de violência; preparação de vários trabalhos individualizados, sem remuneração, atendendo às especificidades dos estudantes; desvalorização; desprestígio; baixos salários; problemas de estrutura; intensificação e sobrecarga de trabalho; avanço do trabalho sobre o tempo de descanso e lazer; imposição de lógica alheia à natureza e função social da educação; dificuldades no reconhecimento e manutenção de vínculos de trabalho; e dificuldades de formação são, entre outras, causas diretas do adoecimento mental da categoria.

Por que estamos falando sobre esse tema? Porque queremos chamar a atenção para um grande problema que saiu das estatísticas psiquiátricas e psicoterapeutas para ganhar a notoriedade social e a visibilidade de luta em nossas pautas sindicais. A profissão docente foi considerada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como uma das mais estressantes, pois ensinar se tornou uma atividade desgastante, com repercussões evidentes na saúde física, mental e no desempenho profissional. De fato, as mudanças organizacionais na vida trabalhista dos/as docentes, mediante inúmeras reformas educacionais e precarização das relações de trabalho nas escolas e ambientes educacionais, fazem do/a professor/a um dos grandes alvos da perda da saúde mental. As doenças que mais têm acometido a categoria são Síndrome de Burnout, transtorno de ansiedade e depressão.

Não podemos deixar de marcar que as professoras são vítimas diretas das novas formas de trabalhar e de adoecer. Mulheres que, historicamente, já acumulam muitas jornadas de trabalho em casa e na escola. Sabemos que atualmente muitas são constrangidas e obrigadas a se anularem como sujeitos históricos de suas vidas para se submeterem aos maus-tratos e aos ditames perversos do neoliberalismo, de patrões violentos, que buscam comprometer cada vez mais os horários livres e as jornadas de trabalho de docentes que investem em estudar a vida inteira para promover a transformação social.

A situação de agravo do adoecimento mental da categoria docente acontece em todos os segmentos de ensino, da educação infantil ao ensino superior, e nas mais variadas e diversas formas de vínculos, contextos e realidades trabalhistas. Escolas, hoje, na lógica neoliberal, são, assumidamente, atividades de negócios, nas quais reforça-se a pauta central como sendo o lucro, que faz do/a professor/a refém dessa desprestigiada e desencantadora realidade educacional.

O que sentem os professores/as diante dessa experiência? Desestímulo, desesperança, desânimo, em especial quando são obrigados a acumular dois ou até três cargos em várias escolas, por vezes, muito distantes umas das outras, implicando em jornadas longas e extenuantes cansaços físicos e mentais, causando um desgaste excessivo. Sem falar no avanço da EaD, que reforçou ainda mais a intensificação e precarização das relações de trabalho. O caso de professores/as que são considerados/as tutores é um exemplo marcante disso. São contratados e pagos, em muitos casos, por meio de recursos/vínculos precários como bolsas, além de terem sua identidade profissional negada. São múltiplos, polidocentes, e não reconhecidos como professores. Sendo assim, desrespeitados/as e desprofissionalizados/as. Ensino Remoto, híbrido ou on-line desregulamentam as formas de fazer educação, trazendo a precarização, a falta de qualidade na formação profissional e, sobretudo, o adoecimento dos docentes.

Propomos uma grande Campanha de enfrentamento e cuidados com professores/as que são a base e o sustentáculo da educação, de uma sociedade democrática, mais justa, com relações de convívio mais humanizantes e humanizadoras. Temos como lema: “quando o professor/a adoece, a educação adoece.” O protagonismo do estudante, que tanto defendemos, tem que partir do protagonismo do professor/a que se expressa, também, pela definição das condições do seu mundo do trabalho. Precisamos tomar consciência e exercitar o valor e a força da luta coletiva e em comunhão. A transformação social tem que vir das lutas corporativas e de uma coletividade empoderada, solidária, consciente e que precisa reafirmar seu lugar na história.

Comissão de Mulheres do Sinpro-Rio

Referências bibliográficas:

  • Relatório Técnico: Condições de trabalho e saúde dos professores no Brasil: uma revisão para subsidiar as políticas públicas. Organizadores: Cristiane Oliveira Reimberg; Doracy Moraes de Souza; Jefferson Peixoto da Silva; Juliana Andrade Oliveira. SP, FUNDACENTRO, 2022
  • IV Seminário Trabalho e Saúde dos Professores: Precarização, adoecimento e caminhos para a mudança. São Paulo, 2023

Do Sinpro-Rio

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