Sinpro/RS: Professores lançam livro sobre os desafios da docência muito além da sala de aula

Livro aborda relações e conflitos em sala de aula e a vida conturbada de dois professores do ensino médio

Por Gilson Camargo

Resultado de uma experiência de escrita compartilhada entre autores, o livro Antes de sair, apague o quadro (Bestiário, 116 p., 2023), dos professores Arthur Telló e Lucas Neves, será lançado no dia 1º de setembro, às 17h, no Quintana’s Bar (Mezanino da Casa de Cultura Mario Quintana – Andradas, 736), no Centro Histórico de Porto Alegre.

O livro foi escrito no período de isolamento que interrompeu as interações em sala de aula durante a pandemia e aborda o cotidiano de dois professores da educação básica. Nestor, professor de Geografia, enfrenta ainda uma crise com a profissão e o casamento. Jonas, que leciona História, recém se formou e tem de lidar com as incertezas de quem começa na profissão. “Da assimetria entre ambos surge o motor do texto”, explica Telló.

Segundo ele, o romance está mais voltado para a vida privada de cada personagem, para os conflitos e a relação desses professores com a educação. Afinal, é no colégio que ambos se conhecem, se estranham e precisam trabalhar juntos em um projeto de educação.

“E como a escola é lugar de encontros e afetos que saem do ambiente escolar e ecoam em diferentes dimensões da vida, aparecem na narrativa outros professores, a diretora e alguns alunos, que cruzam com os personagens tanto na sala de aula quanto na vida privada”, adianta ele.

Professor do ensino médio em cursos livre, titular do curso de Letras e de Escrita Criativada PUCRS e da pós-graduação em Escrita Criativa da Unicap, Arthur Telló é diretor adjunto do Sindicato dos Professores do RS (Sinpro/RS). E já tem uma certa bagagem como escritor.

Em 2016, ele venceu o Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Narrativa Longa, com o romance O tríptico de Elisa. O livro de contos Os cadernos de solidão de Mario Lavale, de 2019, foi finalista na categoria Conto do Açorianos em 2020. Também participou de antologias de contos e de ensaios.

Formado em Português-Latim e mestre em Estudos da Linguagem pela Ufrgs, Lucas leciona língua portuguesa em cursos livres e em escolas da rede privada desde 2017. Ele também atuou como instrutor de latim e de Escrita Criativa no Núcleo de Ensino de Línguas em Extensão (Nele) da Ufrgs. Este é seu primeiro livro.

Escrita compartilhada

Além da formação em latim, os autores têm em comum o gosto pela literatura, de Fernanda Torres (Fim) a Manuel Puig (Boquitas pintadas). Durante a pandemia, com a ajuda de outros docentes e alunos, eles montaram um grupo de cultura no colégio Gabarito e faziam reuniões on-line às segundas-feiras para debater filmes, ensaios, peças de teatro e contos.
“Num desses encontros, surgiu a ideia de escrevermos um livro juntos, um livro a partir da chave da comédia, do riso, como forma de compensar as dificuldades do cotidiano atravessado pela pandemia e pela quarentena”, revela Telló.

Cada autor criava um personagem e escrevia um capítulo, que era revisado pelo outro e servia como motivação para escrever o capítulo seguinte.

“O livro abre com o primeiro dia de trabalho e as expectativas positivas do estreante Jonas. No capítulo seguinte, acompanhamos o mau humor de Nestor, professor veterano, que está de saco cheio de tudo. Da diferença entre ambos, brotam as peripécias do texto”, adianta Telló.

Seus textos, explica Telló, têm uma abordagem mais intimista ou psicológica dos personagens e Lucas trabalha mais com crônicas bem-humoradas, postadas no facebook. “Quando começou o livro, o Lucas ajudou a dar dinamismo ao texto, a envolver os personagens em situações externas ou com outros personagens, o que contrasta bastante com meu jeito de escrever. Isso foi ótimo, pois tanto tirou meus personagens de casa e os fez conviver com os outros, quanto ajudou a olhar internamente alguns dos conflitos dos personagens dele”, analisa Telló.

Os autores falam sobre a importância da interação entre alunos e professores em sala de aula, uma relação que foi quebrada na pandemia.

“De certo modo, escrever sobre a escola e a rotina desses professores foi um bálsamo durante aquele período de isolamento. Pelo menos nas páginas a gente conseguia recriar aquela dinâmica presencial que já parecia tão distante. Esse projeto foi, sem dúvidas, fundamental para que mantivéssemos a sanidade durante aquele tempo”, revela Lucas, que faz a estreia na literatura.

Do jornal Extra Classe, do Sinpro/RS

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