Marcha Zumbi/Dandara 2019

Silvana Conti (*)

Não nos basta não sermos racistas

O racismo chegou no Brasil pelo mar. Atracou por aqui conduzindo navios que carregaram, por quase quatro séculos, cerca de 5 milhões de pessoas (famílias inteiras negras). Arrancadas de seus países de origem, tiveram suas histórias e raízes negadas para servir à corte portuguesa, mas especialmente aos grandes proprietários brasileiros, da maneira mais violenta que existe: escravizados(as). Com forte acento na efetivação do mercado transatlântico de escravos(as), o Brasil foi o país que mais “importou” africanos(as) no período da escravidão, um título que, além de vergonhoso, reverbera pelos séculos da história do país até hoje em todos os cantos.

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.” Na medida que a população afrodescendente é hoje majoritária no Brasil, a luta contra as discriminações se transforma em fator de consolidação da democracia”. (Silvio, 2019)

Silvio Almeida (advogado estudioso da teoria social), considera que o racismo é sempre estrutural, ou seja, integra a organização econômica e política da sociedade de forma inescapável. O racismo afirma, fornece o sentido, a lógica e a tecnologia para a reprodução das formas de desigualdades  e violência que moldam a vida social contemporânea.

A violência do racismo institucional segue matando e massacrando as mulheres negras e tem em sua história social a marca do crime hediondo da escravatura, dos estupros e da violência cotidiana imposta por uma sociedade racista e machista. As mulheres negras chegam a ter salário duas vezes menor do que os homens brancos e, em geral, ocupam lugares de trabalho muito precarizados. São as principais atingidas com a terceirização,  com o aborto clandestino, reforma trabalhista e reforma da previdência.

O relatório A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras, da Oxfam, mostra que entre as pessoas que recebem até 1,5 salário mínimo, 67% são negros(as) e menos de 45% são brancos(as). Cerca de 80% das pessoas negras ganham até dois salários mínimos. Assim como as mulheres, os negros são menos numerosos em todas as faixas de renda superiores a 1,5 salário mínimo: para cada negro com rendimentos acima de 10 salários mínimos, há quatro brancos.

Marchezan/Leite/Bolsonaro são farinha do mesmo saco

A agenda conservadora e neocolonial que vem sendo imposta pelos governos(Marchezan, Leite e Bolsonaro), que representam e fortalecem o patriarcado, o racismo, a misoginia, o feminicídio, a cultura do estupro e a violência contra as mulheres, rasga a constituição brasileira e coloca em risco o Estado Democrático de Direito.

A estrutura machista e racista do Estado Brasileiro é um fator estruturante para as desigualdades sociais.  Não podemos subestimar as exigências que tais fenômenos implicam na nossa prática e no nosso discurso.

O racismo é crime inafiançável desde 1988, quando foi promulgada a atual Constituição Federal, uma mudança na legislação que só ocorreu porque havia suficientes indícios e provas de que o racismo constituía uma prática sistemática na sociedade brasileira. Mas passados 30 anos deste marco constitucional, o que temos é a banalização do racismo como crime, que continua a ser praticado e, quando denunciado, são baixos os números de condenações e de ações articuladas por parte dos poderes públicos para coibir sua prática. Alcançar a equidade racial exige compromisso de todas e todos, para que mudanças efetivas ocorram na vida da população negra, não podemos contar com ações pontuais e descontínuas, muito menos com ações voltadas apenas para a sensibilização.

A luta antirracista é um compromisso de todas e todos nós.

Viva a luta Pelo fim do Racismo!

Viva Zumbi/Dandara!

Marielle presente agora e sempre!

(*) Professora Aposentada da Rede Municipal de Ensino, de Porto Alegre. Diretora do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Vice – Presidenta da CTB/RS.

Sul 21

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