1ª Turma do STF mantém condenação de Bolsonaro
Análise dos embargos foi a última etapa antes do cumprimento das penas por tentativa de golpe. Argumentos da defesa foram rejeitados por todos os ministros do colegiado
Falta pouco para Jair Messias Bolsonaro (PL) pagar pelos crimes que cometeu ao liderar a tentativa de golpe para se manter no poder. Nesta sexta-feira (7), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, manter as condenações do ex-presidente e dos outros seis condenados. O ministro-relator do caso, Alexandre de Moraes, apresentou o voto pela rejeição do embargo de Bolsonaro e foi seguido pelo presidente da Primeira Turma, ministro Flávio Dino e pelos ministros Cristiano Zanin e Cármen Lúcia.
Também estão sendo julgados os recursos de Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro em 2022).
Todos, assim como Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, foram condenados por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Líder a trama, o ex-presidente teve a maior pena estabelecida: 27 anos e três meses de prisão.
O julgamento, em ambiente virtual (quando os votos são incluídos do sistema do STF) estava previsto para acabar no dia 14. Luiz Fux, que havia votado no julgamento da condenação e que foi o único voto divergente, não votou por ter pedido transferência para outra turma.
Esta foi a última etapa a ser cumprida, dentro do rito jurídico, antes de os condenados cumprirem suas penas. No caso de Bolsonaro, ainda não foi definido o local onde ele poderá ficar preso. Devido ao tamanho de sua pena, a legislação prevê o regime inicial fechado, numa unidade prisional se segurança máxima, como o presídio da Papuda, em Brasília.
Há ainda a possibilidade de, por ser ex-presidente, Bolsonaro ficar numa instalação especial, separada de outros presos. Também existe a possibilidade de prisão domiciliar, o que pode ser concedido por razões humanitárias — em casos de problemas de saúde ou em função da idade.
Atualmente, o ex-presidente está em prisão domiciliar devido ao inquérito no qual é investigado — juntamente com seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — por tentativa de coação do STF com o objetivo de interromper ou influenciar no resultado final do julgamento relativo à trama golpista, em favor do ex-presidente.
Voto de Moraes
A defesa de Bolsonaro pediu, entre outros pontos a redução da pena e a unificação de crimes — por entender que estaria havendo dupla punição pela tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado.
Também argumentou que teria havido “desistência voluntária” do ex-presidente em relação à tentativa de golpe e que não teria havido tempo suficiente para a análise de todo o material colhido durante as investigações.
Além disso, os advogados questionaram a autoria mediata e a lógica da condenação em relações às iniciativas que buscavam o golpe; criticaram o uso da delação de Mauro Cid e contestaram provas e supostas omissões do acórdão.
Com relação à pena, Moraes destacou que “o voto detalha expressamente a existência das circunstâncias judiciais amplamente desfavoráveis ao réu Jair Messias Bolsonaro, tendo fundamentado cada circunstância judicial aplicada na pena-base do recorrente (Bolsonaro) com o estabelecimento das premissas”.
Quanto à suposta “desistência”, o relator lembrou que “mesmo após o recorrente ter recebido um aconselhamento jurídico do então advogado-geral da União confirmando a inexistência de qualquer fraude eleitoral, o embargante permaneceu atuando na consecução do objetivo golpista e prosseguiu na elaboração da minuta de decreto golpista e na tentativa de cooptação dos comandantes das Forças Armadas”.
Contrapondo-se à possibilidade de ter havido ações independentes de seus apoiadores em contrariedade ao resultado eleitoral, Moraes disse que ficou demonstrada a atuação de Bolsonaro, “de forma livre e consciente, para propagar informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação e na elaboração de uma minuta de decreto golpista, o que configurou a prática de golpe de Estado e tentativa violenta de abolição do Estado Democrático de Direito”.
Ao mesmo tempo, salientou que Bolsonaro tinha conhecimento sobre o plano Punhal Verde e Amarelo — para matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes. Também alegou ter ficado demonstrado que o ex-presidente “desempenhou o papel de líder de uma organização criminosa, estruturada para consumar o objetivo de um golpe de Estado e ruptura constitucional, com a sua permanência no poder”.
Da mesma forma, reafirmou a “autoria delitiva” de Bolsonaro na liderança da organização criminosa, tendo contribuído para o desenrolar dos atos golpistas, que culminaram no 8 de janeiro de 2023.
“Restou amplamente comprovado que os atos antidemocráticos praticados em 8 de janeiro de 2023 consistiram em mais uma etapa delitiva da organização criminosa armada visando a restrição do exercício dos poderes constitucionais e a tentativa violenta de deposição de governo legitimamente constituído”, sublinhou.
Com agências





