Tributo ao arauto da liberdade: Nelson Mandela

José Geraldo de Santana Oliveira*

“Se a minha teoria estiver certa, a Alemanha dirá que sou alemão, e a França, que sou cidadão do mundo. Porém, se  estiver errada, a França dirá que sou alemão, e a Alemanha, que sou judeu”.

Estas enigmáticas palavras da epígrafe foram ditas pelo físico alemão Albert Einstein, ao início do século XX, quando o mundo discutia, entre desconfiado e maravilhado, a sua teoria da relatividade especial.

Nos idos dos anos de 1940, também no século XX, o bravo e heroico povo da África do Sul deu início a uma multidecenal e inacreditável trajetória de luta, de vida e morte – muito mais morte do que vida – contra o nefasto e deplorável regime segregacionista, que o infelicitou por cerca de meio século, chamado de “apartheid”.

Os cruéis governantes que se sucederam na condução deste odioso regime ao menos em um ponto tinham unidade absoluta: o desumano combate ao movimento de libertação que a cada dia ganhava mais adepto e mais força, conduzido pelo Congresso Nacional Africano (CNA), liderado por muitos abnegados, com destaque, a partir da década de 1950, para o advogado Nelson Mandela.

O apartheid, desesperado com a multiplicação geométrica – metaforicamente falando – dos que o condenavam e que, generosamente, davam a sua vida para combatê-lo, prendeu Nelson Mandela em 1962 e, em 1965, condenou-o à prisão perpétua, mantendo-o encarcerado por 27 anos, 18 dos quais em uma minúscula cela.

Pois bem. A sangrenta sanha do apartheid não foi suficiente para calar o povo africano e muito menos seu principal líder, que fez da causa da liberdade a sua razão de viver, sem se preocupar com as consequências  desta dedicação total; nem mesmo os 27 anos de segregação absoluta, no regime segregracionista, foram suficientes para arrefecer o seu ânimo e o seu vigor libertário.

O líder Nelson Mandela, em sua sobre-humana história de luta pela liberdade, deu razão ao cantor Paulinho Moska, que, em sua belíssima música “Espaço Liso”, assevera: “Eu amo a causa e não a consequência”.

Mas felizmente para os sul-africanos e para todos os amantes da liberdade, a causa de Mandela teve consequência feliz: o trunfo incondicional dela.

Pois é. Aquele líder negro que muitos, por anos a fio, viram com desconfiança, e que foi caçado pelo apartheid, por décadas a fio, como se caça um tigre assassino, tornou-se, com justiça, cidadão do mundo, não pela confirmação da teoria da relatividade de Einstein, mas, sim, pela dedicação ao bem maior da humanidade: a liberdade.

Todos os meios de comunicação, em todas as partes do mundo, desde ontem, 5 de dezembro de 2013, a cada instante repetem: Nelson Mandela morreu.

Mas, será que Nelson Mandela morreu, mesmo? Como ensina o escritor italiano Luiggi Pirandello, morre o ser humano, morre o criador; mas a criatura não morre jamais.

Por isto, deve-se dizer, como único meio razoável de homenageá-lo: o corpo de Mandela morreu. Porém, o seu nome, as suas lições de vida, as suas crenças na liberdade e no ser humano, a sua bravura, as suas incomparáveis serenidade e simplicidade não morrerão, nunca morrerão.

Nelson Mandela, sem favor algum, pode fazer suas as palavras do lendário personagem da idade média, Fausto – magnificamente retratado pela refinada pena do romancista alemão Goethe, em obra com título do nome deste personagem -, que dizia: “os vestígios de meus dias na terra passados nem em milênios serão apagados”.

Talvez fosse muito sensato dizer, como o romancista maior, Machado de Assis, em sua crônica “Sobre a morte e morrer”, que Nelson Mandela não morreu, aposentou-se a vida; ou, como o fabuloso e, igualmente, imortal escritor mineiro Guimarães Rosa: Nelson Mandela ficou encantado.

Por tudo que já se disse e se dirá sobre Nelson Mandela, por todo o sempre, os amantes da liberdade e os que cremos, incondicionalmente, no ser humano, como ele fez, ao longo de seus 95 anos, temos o impostergável dever, hoje e sempre, de reverenciá-lo.

Vivas a Nelson Mandela.

Vivas à liberdade, na qual acreditou e à qual se dedicou, sem receios e sem fronteiras, Nelson Mandela.

*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee

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