Copa? O que traz de lembranças? O que traz de desejos?

crisPor Cristina de Castro*

Neste espaço do Portal da Contee, nestes últimos dias, vimos textos com os mais variados dados e argumentos que asseguram a importância da Copa. Reservei-me o direito de fazer uma outra abordagem, mais sentimental, mas que certamente atenderá os objetivos proposto para este espaço virtual.

Recordo-me com saudades das histórias que papai contava da Copa de 50. Naquela época, saindo de uma guerra mundial, o Brasil fez sua maior obra para abrigar a Copa do Mundo. Ele, trabalhador rural humilde , sequer tinha um rádio em casa e foram todos para um vizinho mais “afortunado” para ouvirem o jogo. Contava com encantamento sobre a preparação para irem ouvir o jogo e a tristeza do retorno com a derrota do Brasil.

Essas histórias me vieram à mente ao ir gravar com senhor Geraldo Magela, que participou da TV Contee, que foi ao ar na semana passada. Ele, diferentemente do papai, que pôde ouvir apenas o jogo, esteve presente no Maracanã. E, em meio às lágrimas por várias vezes caídas durante a entrevista, contou como foram os jogos. Cantarolou a música cantada no jogo contra Espanha – “Eu fui às touradas em Madri… Pararatibum” –, pois, além da final, assistiu a mais dois jogos. Contou com detalhes da pouca estrutura no Maracanã, mas também do quão grandiosa pareceu aquela construção. Falou com minúcias de cada momento, do primeiro gol, do empate e do dois a um. A derrota que fez com que papai e os demais vizinhos voltassem a pé chorando para suas casas.

Depois 1954, seguido de 1958 – uma vitória merecida e que trouxe o grito de campeão, sufocado em 50 e repetido em 1962. A partir daí, nossa participação aconteceu durante o regime militar e bem sabemos o que foram os anos 70. Enquanto muitos brasileiros e brasileiras comemoravam a seleção canarinho – cuja vitória, com forte cobertura na mídia de então, foi instrumentalizada como propaganda do regime militar –, muitos outros eram duramente espancados e mortos nos porões do terror.

Mas foi no inicio da década de 80, já adolescente, que efetivamente participei com papai dos preparativos – pintar a rua, enfeitar a casa e carro – para a Copa de 1982. E, mais uma vez, não fomos campeões. Em contrapartida, estávamos prestes a conquistar a vitória do fim do regime militar. Em 1986, um ano após o fim da ditadura, veio a última Copa que pude assistir ao lado do homem nacionalista que me ensinou que somente com luta conquistamos vitórias, que me ensinou o amor ao Brasil e ao povo brasileiro. Em 1990, antes da Copa, ele não mais estava entre nós. Faltou naquele ano a alegria de pintar a rua, pois a saudade ainda era doída.

Em 1994, 24 anos depois de uma vitória, outra vez fomos sagrados campeões. Todavia, já enfrentávamos naquele momento um projeto neoliberal implementado no Brasil e agravado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, eleito naquele ano, poucos meses após a vitória. De fato, só em 2002, ano em que fomos outra vez campões, a vitória foi dupla e o povo pôde comemorar, além da Copa, a conquista, nas urnas, da proposta de um projeto visando a soberania do Brasil. Pela primeira vez na história, tínhamos um trabalhador presidente, eleito democraticamente. Era a presença do povo no poder.

Nestes 12 anos que se seguiram, obtivemos muitas conquistas: quase 40 milhões de brasileiros foram retirados da pobreza; avançamos na superação de desigualdades através de importantes instrumentos, como a aprovação da lei de cotas para as universidades públicas; asseguramos a destinação dos royalties do petróleo para a saúde e para a educação; aprovamos um Plano Nacional de Educação que destina 10% do PIB para o setor.

Há várias outras conquistas e muitas que ainda estão por vir. Contudo, certamente as tantas TVs de 32, 40, 50 e até 60 polegadas na casa dos trabalhadores revertem em muito a qualidade de vida de um trabalhador rural que, em 1950, pôde apenas ouvir o jogo num rádio na casa de um vizinho.

São muitas as bandeiras de luta empunhadas durante os últimos anos em defesa da educação, da saúde, da distribuição de renda, dos direitos trabalhistas e sindicais, de melhores condições de vida e trabalho. Agora, mais uma vez queremos ver o Brasil ser campeão. E, muito mais que nos limites do campo, queremos o povo comemorando conquistas, avanços sociais e elegendo quem de fato possa dar continuidade ao projeto soberano de desenvolvimento para o Brasil e seu povo. Que, em 2014, possamos erguer a taça e gritar que o Brasil é campeão, mas também comemorar, em outubro, uma vitória muito mais significativa. Que possamos gritar: “O Brasil reelegeu Dilma!”.

O Brasil segue AVANTE.

*Cristina de Castro é coordenadora da Secretaria de Comunicação Social da Contee

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